Clichés que apontam as mulheres como o sexo forte ou reclamam a sua sobrevalorização em detrimento dos homens deixaram de ter impacto numa sociedade democrática, onde direitos e deveres conquistam-se e são partilhados.

Foi nesse sentido que, no âmbito do Dia da Mulher, ouvimos apenas mulheres comuns, com uma vida absolutamente comum, com profissão ou sem ela, na realidade, mulheres com um modus vivendus similar ao de todas nós.

São elas que enfrentam, no seu dia-a-dia, o dilema da identidade e tudo fazem para alcançar o equilíbrio entre as necessidades da família, os desafios da carreira e o seu próprio bem-estar..

Cristina, 28 anos, professora primária “Não acho que me olhem diferente pelo facto de ser mulher na minha profissão. A minha geração já não sofre muito com esse estigma. Só noto mesmo o preconceito quando estou na estrada. É mais forte do que eles. O machismo vem ao de cima”-

Luísa, publicitária de 43 anos, refere que “a sociedade começou a olhar para nós de forma diferente, porque passámos a ser centros decisores dentro da nossa família, por isso já não basta sermos só os modelitos dos anúncios publicitários”. A verdade é que perante a crise, muitas empresas passaram a ver as mulheres como uma fonte de vantagem competitiva, dada a sua criatividade e capacidade de improviso.

Elas decidem o que comprar, por isso quem melhor do que elas próprias para seleccionar produtos e definir estratégias, sendo profundas conhecedoras do mercado. A heterogeneidade de ideias começa a ganhar forma junto dos centros decisores, muito embora as estatísticas ainda revelem uma grande discrepância baseada no sexo.

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Mariagrazia Marini Luwisch, psicóloga clínica psicoterapeuta, recorda um percurso de luta: “Muitas conquistas foram obtidas pelas mulheres nos últimos tempos, dentre as quais está o direito ao voto, o controle da natalidade, o reconhecimento profissional e ocupar cargos políticos que eram ocupados somente por homens. “ E acrescenta “ Certamente a maior conquista da mulher foi o controlo da natalidade e a partir daí ter mais condições para conquistar seus objectivos. As mulheres conseguiram alcançar muitos resultados mas há ainda muito que lutar. O preconceito, a discriminação, a violência e as desigualdades sociais ainda são um sofrimento que atingem muitas mulheres.”

Joana, ex-vítima de maus tratos, é um exemplo destas conquistas. Ao ter reencontrado o seu caminho, depois de muito sofrimento. “Para mim, o Sol voltou a nascer. Ganhei coragem para enfrentar o meu ex-namorado. A minha primeira vontade era fugir, mas percebi que ele estaria sempre no meu pensamento. E disso não havia fuga possível. Hoje, sou uma mulher livre. Estou a trabalhar numa padaria e imaginem aprendi uma nova profissão.

O empreendedorismo tem sido uma qualidade inerente ao sexo feminino. A sua sensibilidade, outrora condenada, é agora exaltada pela classe empresarial, muito embora alguns extremistas não corroborem com o facto de haver qualidades especificamente femininas ou masculinas: “Quando falamos de características inerentes a cada um dos sexos, a racionalidade do homem e a sentimentalidade da mulher são pontos que sobressaem, bem como o facto das mulheres, em geral, serem mais sensíveis, sentimentais e emotivas, características relacionadas com o instinto feminino de cuidar da prole.As mulheres precisam reagir contra as desigualdades e seguir em frente com força e coragem para lutar pela igualdade de direitos”, explica Mariagrazia.

Porém, a psicóloga é peremptória ao referir: “Entretanto, a característica mais importante inerente ao ser humano, independente de ser homem ou mulher, é a sua individualidade. Actualmente a mulher tem uma agenda complexa e stressante. É preciso repensar e valorizar os interesses e as virtudes femininas, na busca de um equilíbrio saudável, para que com educação e consciência a mulher seja capaz de compreender e definir a sua individualidade e a sua atitude diante da vida, para que possa construir novos caminhos na busca da felicidade, sempre com base na honestidade, dignidade, respeito e amor”.

Charlotte Bunch, do Center for Women's Global Leadership recorda que "Margaret Thatcher (primeira-ministra britânica entre 1979 e 1990) e Indira Gandhi (primeira-ministra indiana entre 1966 e 1977 e 1980 e 1984) quase tinham que dizer 'sou um homem' (para obter respeito). Hoje, as mulheres começam a serem vistas como portadoras de ideias novas”.

E contra factos não há argumentos. Segundo dados compilados pela entidade americana 50-50 by 2020, que defende a representação igualitária dos géneros no poder, existem, em todo o mundo, 17 líderes femininas,

Wendy Stokes, autora de Women in Contemporary Politics, afirma que o mundo actual espera líderes mulheres que "sejam capazes de mostrar que podem usar a força, mas somente como último recurso". Ou seja, a sua grande vantagem competitiva é olharem para temas sociais com maior empenho do que os seus pares masculinos, mas não deixam, de ser olhadas por um outro aspecto também: a aparência. São criticadas se usam pouco ou muita maquilhagem, se estão bem ou mal vestidas, se gastam dinheiro em griffes ou não.

Mas, afinal, qual é o verdadeiro poder das mulheres?. Para Cristina é o poder da maternidade; para Luísa é a capacidade de conciliar áreas diferentes numa só vida; para Joana é o instinto que nos guia para o caminho certo; para Mariagrazia “é a capacidade de lutar contra preconceitos e ir ao encontro de seus objectivos e de seus sonhos, sem desistir diante das dificuldades que a sociedade impõe e com consciência das suas capacidades transformar seus sonhos em realidade com atitudes correctas”.