Desde os meus seis anos que me lembro dele. Era um pinheiro manso, lindo, enorme, frondoso, com um tronco grosso e ligeiramente torto, que dava sombra ao terraço da casa e era a peça nobre do jardim. Acho que cresci com este pinheiro! Quando os meus ais construíram a casa, já lá estava e já não era novo. Devia ter mais de cinquenta anos. Esta árvore era, para mim, um dado adquirido.

Fazia parte da paisagem quando, quarenta anos mais tarde, o meu marido e eu fomos viver para o Estoril, depois de uma extensa remodelação que transformou uma casa de verão numa «casa para viver», como lhe chamávamos. Acrescentou-se um andar, alterou-se e aumentou-se o jardim, mas o nosso pinheiro continuava a ser um elemento fundamental para a harmonia de todo o conjunto.

O terraço dos nossos escritórios, no primeiro andar, foi feito a pensar na sombra que a proximidade da copa naturalmente lhe dava. Como o jardim é em socalcos, com degraus de pedra, um destes foi desenhado em função do pinheiro, com um redondo para o acomodar. Quando fomos viver para a casa, em 1999, o pinheiro estava em grande. Enquadrado no novo arranjo paisagístico, era o mais bonito dos 14 Pinus Pinea do jardim.

O (triste) dia em que o pinheiro teve de ser cortado

Ao fim de dois anos, começámos a reparar que alguns ramos estavam a ficar com uma coloração acastanhada.Em poucos meses percebemos que a árvore estava a morrer. Desolados, pedimos opiniões, tentámos tratamentos, mas não houve nada a fazer. O pinheiro morreu, assassinado pelas escavadoras sem cuidado que tinham andado a fazer os aterros necessários no jardim. Todos os pedidos de precaução durante as obras tinham sido inúteis.

As raízes, muito danificadas, tinham ditado a sua sentença de morte. Foi um luto demorado! Inconformados, optámos primeiro por mandar cortar apenas a copa, que estava muito feia, mas manter o tronco que parecia agora uma escultura. Decidimos cobri-lo com duas trepadeiras, passiflora e senécio, para estar florido em duas épocas diferentes do ano. Durante três anos ainda vivemos em negação quanto ao desaparecimento do nosso querido pinheiro.

Uma parte dele ainda estava ali, afinal, apesar de ter assumido um aspecto diferente. Agora, era uma estrutura com cerca de seis metros, coberta de folhagem e, às vezes, de flores. Nos temporais do inverno de 2005, fomos aconselhados a cortar o que restava da árvore para que não ocorresse nenhum acidente e caísse para cima da casa. Chorei no dia em que vieram cortar o pinheiro.

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A árvore que substituiu o pinheiro

Para piorar as coisas, a falta do pinheiro não se podia compensar plantando outra árvore. O tronco continuava no solo e, segundo os técnicos, só se desfaria com a passagem do tempo. Como o degrau estava feito em função de uma árvore de grande porte, havia um histórias do meu jardim evidente vazio no espaço circular que se tinha construído. Dei tratos à cabeça a pensar no que poderia fazer sem entrar em enormes despesas com o redesenho do jardim.

Um dia, num horto, olhei para uma oliveira com um tronco bem formado e já com alguns anos de crescimento e pensei que estava ali uma solução possível para aquele espaço. A oliveira é também uma árvore mediterrânica, enquadra-se bem no tipo de plantação que temos no jardim, e, sobretudo, não era muito cara e podia viver durante algum tempo envasada. Já lá está vai para seis meses.

Segundo os grandes sábios, mais dois ou três anos e, com o tronco do pinheiro já apodrecido, será possível passá-la para o solo. Até lá, a minha oliveirinha vai crescendo, tentando compor o vazio do pinheiro insubstituível. Também gosta de paisagens com pinheiros e prefere os naturais aos artificiais quando chega o Natal? Então, leia também o artigo que explica o encanto que só um pinheiro natural tem.

Texto: Vera Nobre da Costa