Ninguém nasce resiliente. Vai-se, com as circunstâncias da vida, treinando a capacidade de resistir às adversidades. É a atenção permanente aos erros que cometemos que nos permite construir esse carácter.

Passa-se pelos maus momentos, aprende-se o que se fez mal, pomo-nos de pé e seguimos em frente, tentando não repetir os erros, de preferência com alguém que nos ajude a termos consciência deles.

Eu fui empresário sozinho durante quase 15 anos. Provavelmente teria sido melhor se, desde o início, me tivesse associado a alguém que tivesse compensado eventuais características de carácter que podem distrair um empresário. Eventualmente, terei concedido uma parte muito importante do meu tempo à promoção do empreendedorismo, o que julguei ser o meu papel social, mas consome tempo à condução dos negócios.

Às vezes, ajuda ter um grilo falante que nos chame à razão e diga «Atenção, não inventes, não olhes para as coisas novas antes de consolidares a tua posição». Nesta situação de doença, são muito raros os momentos em que estou próximo de desistir, de dizer «Não vale a pena, não quero continuar, estou farto de sofrer». A família e os amigos obrigam-me todos os dias a ir à luta, a sair da cama, a não me entregar à autocomiseração, a manter a raison de vivre.

Tenho fé na ciência e a fé em Deus dá-me tranquilidade, a certeza da vida eterna, a paz de não ter medo de morrer, a presença de um companheiro que me ajuda... Os médicos dizem-me para desacelerar e tenho-me poupado. Tento dormir mais, alimentar-me bem, andar mais devagar, não ter múltiplas tarefas ao mesmo tempo.

Acho que não tenho ultrapassado os meus limites, mas isso não faz parte da minha essência e não se muda de essência aos 50 anos. A curiosidade, a generosidade e o sentido de humor... Talvez sejam a minha essência. E um otimismo crónico, quase doentio, que me faz encarar todas as situações como situações com solução e ver sempre o lado da esperança. Essa energia vem, sobretudo, da minha mãe, é genética, mas a história da minha vida ajudou a construí-la.

O conselho que se materializou em livro

Nascido em 1963, Manuel Forjaz licenciou-se em economia. Foi marketeer, empresário e dinamizou iniciativas ligadas ao empreendedorismo. Fundou projetos como o TedxOPorto, celebrizando-se como orador. Lutava, desde 2010, contra um cancro do pulmão e popularizou-se por falar sobre o tema nas redes sociais. Nos últimos meses de vida, teve um programa no canal informativo Tvi24, baptizado «28 Minutos e 7 Segundos de vida».

Deixa também os seus conselhos, pensamentos e expectativas imortalizados no livro «Nunca te distraias da vida», editado pela Oficina do Livro, um apelo a que «quem tem a doença, mesmo nos momentos mais difíceis, arranje um tempinho para sorrir». Morreu a 6 de abril de 2014. «Posso morrer de cancro, mas ele nunca me matará» é uma das suas afirmações que ficam para a história.

Texto: Rita Miguel