Em 2012, viveu uma experiência inesquecível num cenário de rara beleza. "Fiz um retiro na selva amazónica no norte do Peru, que mudou a minha autenticidade, o meu mindset", revela o coach Mário Caetano. "Foi uma conexão com o divino inexplicável", assegura ainda. Aprender com o passado, com os erros e com os medos é a ferramenta essencial para uma mudança consciente e é isso que procura fazer com "Wake Up".

Foi com este evento motivacional que subiu ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em meados de fevereiro de 2017, para ajudar os participantes a encontrarem desafios e a concretizarem os seus sonhos. "Existe um milagre chamado vida que vale a pena viver. Não sabemos quando vai terminar. Portanto, não podemos deixar os nossos sonhos para amanhã. Temos de aproveitar e usufruir deste milagre hoje e agora", diz.

Este é o lema de vida do coach Mário Caetano e o que quer transmitir a todos que o procuram para resolver bloqueios e iniciar um processo de mudança, que pode não ser fácil, mas é simples, como gosta de dizer. "Acredito que desde que nascemos podemos escolher fugir dos nossos medos, submetermo-nos a eles, avançar e atuar com valentia, mesmo sabendo que o medo está lá", afirmou em entrevista à Saber Viver.

Como é que o coaching entrou na sua vida?

Sempre gostei de entregar mensagens às pessoas e, curiosamente, o meu primeiro emprego quando estava na faculdade foi de estafeta, mesmo que na altura tivesse medo de andar de mota. Hoje, continuo a entregar mensagens, mas de outra forma.

Descobri o coaching em janeiro de 2006, quando estava a trabalhar numa multinacional e tive algumas sessões com um coach. Gostei tanto que passados nove meses, decidi certificar-me em live coaching e um mundo abriu-se. Em 2007, despedi-me e, em 2008, comecei a trabalhar como coach a tempo inteiro.

Quais foram as respostas que encontrou no coaching?

Em primeiro lugar, que pensamos saber muita coisa, mas na verdade não sabemos nada acerca da vida. Em segundo, deu-me a capacidade de estudar o comportamento humano para saber porque fazemos aquilo que fazemos e, em terceiro, deu-me um sentido maior para a vida.

O coaching ajudou-me a perceber que posso escolher que tipos de pensamentos quero ter, que quantidade de dinheiro quero ganhar, qual o núcleo de pessoas que me inspiram e o trabalho que quero ter. Posso escolher o que quiser e não ficar refém da multidão.

E como é que transmite essa necessidade de mudança às pessoas que procuram os seus serviços?

As pessoas podem escolher mudar, mas ninguém é obrigado a fazê-lo. O que eu tenho vindo a perceber é que a maior parte faz um processo de mudança sem ter consciência disso e de que para o fazer tem de passar por determinados passos. Existem variáveis de mudança que são essenciais e é preciso ter consciência disso, que é algo que não nos é ensinado na escola ou no nosso dia a dia.

A maior parte das pessoas quer uma mudança, mas não quer mudar. Na verdade, o que querem é que os outros mudem à sua volta e, além disso, não se sentem bem, mas não sabem o que devem alterar na sua vida.

Não sabem para onde ir?

Exato e o coaching ajuda neste processo. Temos de saber onde estamos e para onde vamos. Se não, vai repetir-se um padrão na mudança e tudo volta ao mesmo.

Falou das variáveis chave para a mudança, quais são?

São quatro! A primeira é insatisfação, as pessoas vivem insatisfeitas com algumas coisas da sua vida e este é o ponto de alavancagem do processo de mudança. A segunda é a confusão, durante a qual as pessoas ficam assustadas, porque somos os nossos hábitos e rituais.

Mas é apenas uma adaptação do cérebro ao que está a acontecer. A terceira é a clareza, que mostra o que se quer verdadeiramente. E, por fim, temos o ganho, ou seja, o que se ganhou em agarrar este novo projeto.

Quanto tempo demora em média este processo?

Depende muito da resistência da pessoa. O nosso cérebro está formatado para ficar no conforto, não queremos lidar com a dor do desconhecido e, além disso, depende também de variáveis externas, como as pessoas que nos rodeiam. Se estas suportarem aquilo em que começamos a acreditar, o processo de mudança acelera, caso contrário regride, porque é mais fácil manter a ligação com os amigos e família e hipotecar a liberdade, do que lutar por ela.

Estamos ainda no início do ano, época na qual muitas pessoas fazem resoluções para a sua vida. É importante definir objetivos?

É imprescindível, mas têm de ser autênticos e não aqueles que o grupo de influência quer. Aconselho, mais do que fazerem uma lista, a focarem-se numa só resolução e quando essa tiver sido atingida, criar uma nova. O multifoco é um inimigo das resoluções.

Que conselhos dá para que as pessoas encontrem o seu foco este ano?

Que se foquem em algo que as entusiasma e que não pensem no tempo que vão levar a atingir esse objetivo, nem naquilo que os outros irão dizer. Há pessoas que dizem que trabalham apenas porque têm de ganhar dinheiro, mas eu não acredito na disciplina, porque esta pressupõe a obrigação e dá origem a um momento de quebra. Já a consistência vem do entusiasmo, por isso, aconselho que as pessoas deixem cair as coisas pelas quais não se sentem entusiasmadas.

Mas há pessoas que passam a vida inteira a trabalhar em algo que não gostam…

O nosso maior medo é descobrir quem somos, porque isso obriga-nos a ir dentro de nós, a sermos empreendedores, a deixar de nos lamentarmos e acho que o mercado está a levar as pessoas para aí. Quem é razoável cai, culpa os outros e não dura muito tempo num trabalho.

Quais são os problemas mais comuns das pessoas que o procuram?

Especializei-me, durante estes últimos anos, a ajudar as pessoas a encontrarem um sentido maior para a vida, a escolherem uma carreira que as preencha, a encontrarem relacionamentos verdadeiros cuja base seja a verdade do amor. Procuram-me, essencialmente, porque sentem um vazio, um bloqueio, e isso implica um trabalho interior incisivo e muito engraçado também.

E como se ensina a lidar com os medos e frustrações?

De várias formas, mas, essencialmente, é necessário mudar a perspetiva. Alterar o significado que se atribui aos eventos passados. As pessoas têm de perceber se os medos as paralisam ou se servem para seguir em frente. Têm que aprender com o que aconteceu e dar um novo significado a isso, quando tal se atinge, muda-se a vida por completo.

Os medos e as frustrações podem ser muito castradores?

Sim, mas também podem ser muito libertadores. E foi por isso que escrevi o livro que acabei de editar. São 199 mensagens que escrevi para ativar o poder da escolha, que mostram que é simples largar o papel de refém e agarrar no papel de líder e acabar com as desculpas.

O caminho não é fácil, mas é simples. As pessoas têm a mania de misturar simplicidade e facilidade, mas uma coisa fácil é diferente de uma cosias simples. O caminho não é fácil e não é a direito, mas é simples.

Como é que se encaminham as crianças para todos esses conceitos de que fala?

Os pais e educadores não lhes podem tirar a autenticidade, têm de as deixar ser como elas são e aprender com elas, em vez de julgar que o seu papel é apenas ensinar. Segundo disse um trendsetter recentemente, as dez profissões de futuro ainda não foram criadas, isto significa que os nossos filhos estão a estudar para uma coisa que não lhes vai servir.

Continuamos a ter um modelo de educação criado na revolução industrial inglesa. As crianças e jovens são preparados para alimentar uma sociedade que existiu há 200 anos. Temos de dar liberdade aos mais novos para aprenderem à sua maneira e sermos humildes para admitir que não sabemos mais do que eles. Temos de os ajudar a pensar e a serem autênticos.

Subiu ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para um evento motivacional a que deu o nome de "Wake Up". Como é que o define?

É um evento para todas as pessoas, independentemente, do cargo que ocupam e dos seus objetivos. Espero que todos tenham sentido um nível de energia muito forte para que possam tomar as suas resoluções baseadas naquilo que são e não no que pensam que são.

Quero que os participantes descubram os pontos-chave que influenciam a sua vida e percebam que esta é conduzida por cada um. Quero que se foquem neles próprios e que concretizem os seus sonhos, porque o vazio aparece quando deixamos de crescer, isto é, de encontrar desafios e de ter novos estímulos.

O que é para si saber viver?

É ser autêntico, que é o primeiro passo para ser feliz. Sei viver quando me preencho. A vida não é acerca de sucesso, ter um bom emprego e uma boa conta bancária. A vida é acerca de me sentir preenchido e isso acontece quando cresço e quando crio impacto na vida de alguém.

Mas como coach é capaz de ser mais fácil e simples ser feliz…

Fácil não é, porque dá trabalho. Mas é simples! Ser feliz é escolher o que fazer em cada dia e sentir-se entusiasmado com isso.

As escolhas de Mário Caetano:

- Um livro

"O Homem em Busca de um Sentido", uma obra "que retrata a experiência do psicoterapeuta Viktor E. Frankl, que esteve num campo de concentração e foi o único sobrevivente da sua família, mas usou a sua experiência para ajudar outras pessoas a lidar com o horror", justifica.

- Um ídolo

"Nelson Mandela, pelo significado que ele escolheu dar a tudo o que lhe aconteceu na vida. Ao fim de 23 anos preso, teve a oportunidade de sair, mas com o compromisso de não se envolver mais em política. Recusou e teve mais anos preso e isso é arrepiante", considera o coach.

- Uma viagem

"Em 2012, fiz um retiro na selva amazónica no norte do Peru, que mudou a minha autenticidade, o meu mindset. Foi uma conexão com o divino inexplicável", recorda ainda hoje.

- Um lugar especial

"Poder sair de casa e ir correr para a serra com os meus cães e ver o nascer do sol", revela Mário Caetano.

- Uma canção

"Adoro música e oiço muito, por exemplo, Ben Harper e Muse", confidencia o coach motivacional, sem contudo indicar um título em concreto.

- Um hobby

São vários os que Mário Caetano refere. "Desporto, floricultura, fazer mergulho, fotografia e futebol", revela o especialista.

Texto: Rita Caetano com Luis Batista Gonçalves (edição digital)