Depois do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, ter retirado o país do acordo de Paris sobre as alterações climáticas, uma postura que foi alvo de críticas globais, a atriz portuguesa Maria Vieira, uma das apoiantes do governante, afirmou no Facebook, em resposta a um comentário, na primeira semana de julho de 2017, que o aquecimento global «não existe».

Uma postura que contrasta com a de muitos portugueses que, segundo a investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Luísa Schmidt, se estão a preocupar mais com o meio ambiente, como afirmou em declarações à revista Saber Viver. Uma entrevista que o Modern Life publica agora online em exclusivo.

Os portugueses estão mais alerta para questões ambientais?

Nos inquéritos que temos feito verificamos que sim e, também, que há uma necessidade de maior informação sobre questões ambientais. Ao nível dos resíduos, as pessoas estão muito mais sensíveis, as taxas de separação são muito mais altas do que há uns anos. E, em Portugal há ainda uma valorização muito grande das águas limpas, com uma grande sensibilidade à questão dos rios e do mar.

A geração mais nova, com todo o movimento surfista, está muito atenta às questões ambientais na orla costeira e, no geral, a questões relacionadas com a proteção da natureza. Os mais velhos preocupam-se mais com questões de saúde, como a qualidade do ar.

A transição para uma economia circular é apontada como o caminho a seguir. Governos, empresas e cidadãos estão preparados?

Essa é que é a grande questão da sustentabilidade. Não vai ser possível manter o mesmo modelo de consumo ocidental para toda a população mundial, porque não há recursos para isso. E a tecnologia já não vai a tempo de multiplicar esses recursos! Não é sequer uma questão de ser possível transitar para uma economia circular. Vai ser necessário!

Os países nórdicos já estão a investir muito nisso. É necessário o envolvimento da sociedade, nomeadamente das empresas, das ONG [organizações não-governamentais], das IPSS [instituições particulares de solidariedade social] e das pessoas e implica uma governação integrada. Mas isto implicaria diretrizes europeias. A Europa devia ser exemplar nesse ponto de vista. Há países que já o fazem, como é o caso da Coreia do Sul.

Mas as pessoas estão preparadas para abdicar do seu estilo de vida?

É possível às pessoas mudar. Necessitam é de condições e de evidência sobre as matérias. Um exemplo disso é o do saco de plástico que deixaram de usar. Neste aspeto, a fiscalidade verde é muito importante e é necessário que seja mais eficaz.

A verdade é que devia apostar-se na economia circular, que pressiona muito menos os recursos naturais. E, hoje, a nível tecnológico, é possível fazer milagres. Há uma espécie de revolução industrial do ambiente. Já se pode reaproveitar toda a água que se gasta e já se podem reaproveitar todos os resíduos que são produzidos. Há tecnologia criada para isso.

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Agendas como os Objetivos do Milénio ou, mais recentemente, os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável são meras declarações de boas intenções ou têm efeitos práticos?

Os Objetivos do Milénio não se cumpriram, mas eram uma referência. Havia sempre a necessidade de os referir e um certo mal-estar por não os ter cumprido. E os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável vão no mesmo sentido. Tem de se encarar muito seriamente estes objetivos porque os estamos a viver agora.

O próprio problema dos refugiados e dos fluxos migratórios tem a ver com o facto de os países ocidentais não terem criado condições de vida nos países de origem dessas pessoas. Os Objetivos Para o Desenvolvimento Sustentável são fundamentais para reequilibrar um pouco este mundo em que vivemos. Mas, para isso, é fundamental que o papel da ONU seja mais forte e com uma governança mais ágil.

«Não é possível manter o modelo de consumo ocidental para toda a população mundial»