As mulheres utilizam menos a Internet do que os homens e fazem-no sobretudo para trabalho e conexão social, ao passo que os homens diversificam e passam mais tempo ao computador sobretudo para entretenimento e consumo de informação.

Estas conclusões constam de um estudo sobre “Questões de género na participação digital” da autoria do investigador José Azevedo, da Universidade do Porto, realizado no âmbito do Projeto Inclusão e Participação Digital e será apresentado hoje na Conferência “Diversidade Digital”, que decorre hoje na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

O inquérito foi administrado de forma direta por investigadores do projeto a indivíduos com mais de 15 anos que se encontravam em espaços da rede de Espaços Internet e em Centros de Emprego e Formação Profissional das áreas metropolitanas de Lisboa, Coimbra e Porto.

Foram realizados 893 inquéritos, dos quais 452 são indivíduos do sexo masculino e 441 do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 15 e os 87 anos.

A investigação conclui que apesar da diminuição da desigualdade entre géneros na sociedade portuguesa, esta ainda persiste no acesso à Internet e outras tecnologias de informação e comunicação (TIC), sendo esta assimetria designada como “fosso digital”.
O estudo conclui que o que continua a impedir que as mulheres participem mais intensamente, quer enquanto produtoras como utilizadoras de conteúdos, é o facto de o ambiente tecnológico ter ainda uma conotação masculinizada, por um lado, e o de a mulher ter menos tempo disponível para essa atividade, fruto da sua “dupla jornada” de trabalho (emprego/casa), por outro.

No entanto, no que se refere ao nível mais elementar de acesso, verifica-se uma ligeira vantagem feminina na posse de equipamentos e serviços de Internet: 77,3% das mulheres declararam possuir computador portátil (contra 70,4% dos homens) e 99,5% afirmaram ter telemóvel (contra 97,1% dos homens).

Esta vantagem dilui-se quando é analisada a frequência de utilização: 9,4% das mulheres não usavam Internet versus 4% dos homens, enquanto que no universo dos “utilizadores muito frequentes” predomina o sexo masculino (55,7%) em relação ao sexo feminino (49,9%).

Um dos fatores socioculturais que pode limitar o maior envolvimento das mulheres com as TIC é o medo que estas têm da tecnologia – a “tecnofobia” que resulta de um processo de socialização que promove a crença de que as máquinas e a tecnologia são um domínio masculino, aponta o estudo.

Se a este receio se juntar as dificuldades que as mulheres têm em conciliar os papéis familiar e profissional, que se traduz em menos tempo livre para se dedicarem a outras atividades, pode-se compreender o seu menor envolvimento com as TIC, acrescenta o documento.

O estudo avalia ainda a forma de estar na Internet em função do género, concluindo que existem diferenças no tipo de atividades praticadas por homens e mulheres.
As principais atividades online realizadas por utilizadores do sexo masculino são o uso do correio eletrónico (95,6%), o visionamento de vídeos (88,5%), a consulta de informação desportiva, cultural e de entretenimento (87,3%), duas delas fortemente ligadas ao lazer e a tempos livres.

Nas mulheres lidera também o correio eletrónico (97,8%), mas seguido de atividades de carácter relacional, como os serviços de mensagens instantâneas (86,6%), e de carácter pragmático e estratégico, como a recolha de informação para realizar trabalhos escolares e profissionais (85,3%).
A observação destas prioridades revela também que os homens apresentam maior diversidade de utilização: 45,4% dos homens declararam efetuar entre 11 e 15 atividades, contra 38,8% de mulheres.

A profundidade do envolvimento com a Internet diz respeito às contribuições dos utilizadores, nomeadamente a criação de conteúdos para sites, blogs ou redes sociais, estando aqui também as mulheres em desvantagem.
A maioria dos respondentes que deram o seu contributo em sites colaborativos é do sexo masculino, 20% contra 7% do sexo feminino.
Curiosamente, são muito mais as mulheres que manifestam um maior interesse em contribuir para sites colaborativos: cerca de metade das respondentes (50,5%) manifestaram esse interesse, contra 36,9% dos homens.
O estudo revela ainda que as mulheres já assinaram mais petições online (45,5%) do que os homens (36,3%), que se preocupam mais com a origem e veracidade da informação e que utilizam mais este meio para aumentar o contacto com familiares e amigos distantes.

Fonte: Lusa

4 de novembro de 2011