“ I had a farm in Africa… I had a farm in Africa…” – Ouvia-a com a pronúncia dinamarquesa da personagem que interpretou,  com a sua indizível mestria,  no filme Out of Africa. 

Procurei,  no Youtube,  as primeiras imagens  do filme para tentar perceber o que tinha que ser escrito. E ouvi a sua narrativa inicial, embrulhada no som da magnífica melodia em que os violinos se destacam, enquanto percebia o que é que vocês merecem ler…

Pergunto muitas vezes aos outros o que esperam eles da vida. As respostas, muitas vezes previsíveis, nunca correspondem ao que espero da minha. Talvez a responsabilidade seja do Sydney Pollack; talvez seja da própria Meryl Streep e da sua inesquecível pronúncia que se gravou em mim aos onze anos de idade. Ou talvez seja apenas porque, algures neste incrível percurso que é a vida, me tenha apercebido do que espero dela.   

É,  por isso,  num tom profundamente intimista que vos digo, aqui e agora, que a derradeira expetativa da minha vida é tão simples quanto um cenário que crio na minha própria mente: vejo-me, na minha velhice, a escrever as minhas memórias. Quero fazê-lo ao som de uma épica banda sonora e encher páginas e páginas das mais incríveis e significativas estórias e descobertas. Vejo-me sentada, com vista para uma paisagem bucólica ( ou talvez marítima, logo se vê) a derramar em palavras toda a riqueza que acumulei: momentos. Talvez comece com  “ I had a farm in the Algarve…  e tive vislumbres do Mundo pelos olhos de Deus…”

Por agora apenas vos peço que imaginem um momento igual. Imaginem-se com os cabelos brancos, a escrever as vossas memórias. E lembrem-se que estão perfeitamente a tempo de as tornar tão memoráveis quanto queiram…

 Ana Amorim Dias