A demência tirou-lhes muito mas não conseguiu acabar com o amor que Chris Warren e Hilary Warren sentem há mais de 50 anos. Aos 69 anos, ela vive com o marido de 72 anos num lar mas o seu estado de demência vascular, a segunda forma mais comum da patologia a seguir à doença de Alzheimer, é tão grave que ela raramente reconhece o homem com quem um dia casou. Ainda assim, pega-lhe muitas vezes nas mãos e deita a cabeça no ombro dele.

Em Broadstone, localidade de Dorset, em Inglaterra, Chris Warren deixou praticamente de sorrir e os poucos momentos em que o faz é quando está na presença da companheira. Foram diagnosticados com a doença com dois anos de diferença. Dormem na mesma cama mas, quando acordam, muitas vezes não sabem quem é a pessoa que têm ao lado. «Nesta fase da vida, deviam andar a viajar e a desfrutar dos netos e, em vez disso, já estão num lar», desabafa James Warren.

A ligação que perdura

Para o filho do casal, foi muito difícil lidar com a frustração do pai quando se apercebeu do que estava a acontecer. «Eles são, sem dúvida, almas gémeas. Não tenho qualquer dúvida em relação a isso», afirma o agora colaborador da instituição de solidariedade social Alzheimer’s Research UK de 37 anos. «Eu e a minha mulher não conseguimos sequer ter metade da relação que eles têm», desabafa.

«Tentar obter um esgar do rosto do meu pai nos dias que correm é extremamente difícil. A única altura em que ele sorri é quando está com a minha mãe. Eles ainda sabem que estão apaixonados um pelo outro», assegura. «Como a minha mãe é muito pequena, o meu pai agarra-lhe o antebraço porque é demasiado alto para lhe chegar às mãos. Acaba por ser engraçado de ver», confidencia o filho de Chris Warren e Hilary Warren.

A história de amor de Chris Warren e Hilary Warren

Ainda assim, nos últimos meses de 2016 e nos primeiros de 2017, James Warren tem-se ido abaixo. «É-me difícil falar deles sem ser no passado porque eles nunca mais serão as pessoas que foram», admite. «A minha mãe pergunta constantemente pelo meu pai mesmo quando está sentada ao lado dele. A maioria das vezes nem percebe que é ele que está ali», diz. «Tentamos levá-los para sítios onde iam passear juntos para que o possam continuar a fazer», revela ainda.

Juntos desde 1966, Chris Warren, que trabalhava numa estação de correios, conheceu Hilary Warren quando, recém-chegada da Irlanda, foi lá um dia comprar um selo. Ele tinha 22 anos. Ela tinha 19. Nunca mais se largaram! Uma harmonia que só a doença interrompeu. «À medida que o tempo for passando, eles terão de dormir em quartos separados e esquecer-se-ão que formam um casal», afirma James Warren. «Isso parte-me o coração», desabafa.

Texto: Luis Batista Gonçalves com Alzheimersresearchuk.org (fotografias)