A wikipédia define a dança como “uma das três principais artes cénicas da Antiguidade ao lado do teatro e da música”. Sofia Araújo, dançarina de hip hop, apresenta uma outra definição, um conceito real de quem tem o movimento no corpo: “É o concretizar de um sonho, uma vida com alegria e exercício ao mesmo tempo. A dança faz-nos sentir felizes porque nos permite expressar os nossos sentimentos de uma forma bela”.

O mesmo sentimento que certamente faz mover Margarida Gil, de apenas sete anos, e que tem a resposta na ponta da língua quando lhe perguntam o que quer ser quando for grande: “Vou ser bailarina!” afirma, orgulhosa, ensaiando um e outro passo que vai aprendendo nas aulas de dança da sua escola, indiferente às possíveis partidas do destino face ao futuro.

Ou talvez não. Se muitos ficam pelo caminho, outros estão destinados a fazer o seu corpo girar e transmitir os mais variados sentimentos em cima de um palco. É o caso de Filipa Rola, hoje coordenadora artística da Companhia Nacional de Bailado, outrora bailarina principal da CNB, mas sempre com a dança na alma. Aliás, Filipa começou a estudar a arte já tarde ( com 12 anos) precisamente por entender, menina e moça, que já era bailarina: “Um sonho de criança“ revela, que se tornou realidade e ao qual está ligada há 15 anos.

A sua carreira feita no palco junto dos melhores coreógrafos e interpretando as mais internacionais peças foi interrompida por uma lesão em 2003, altura em que aceitou o seu atual cargo: “Se pensava o que iria fazer depois da dança…por vezes... Como tinha outros sonhos como tratar de animais, coreografar, organizar uma companhia de dança, ensinar... E mais ou menos todos se têm realizado”, confessa.

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A Filipa acaba por ser um exemplo real de que depois da dança…tudo se pode fazer, até ficar ligada a ela, mas a Sofia, em inicio de carreira, pondera o seu futuro, apesar da paixão: “Em Portugal, infelizmente, o futuro de um bailarino não é muito vasto, principalmente na área do hip hop, que é a minha. A maior parte dos bailarinos que conheço e que vivem desta área acabaram por sair do país e encontrar algo que os motiva mais do que apenas as aulas que dão ou os trabalhos comerciais que realizam.

A jovem estudante ainda vive sob o teto da mãe, apesar de já ajudar nos rendimentos: “Há cerca de 4 anos que a ajudo ,pois comecei a dar a aulas em ginásios e academias. Comecei por dar aulas duas vezes por semana, após tirar o curso de instrutores. Com o passar do tempo e a experiência que fui ganhando, arranjei mais locais para ensinar e, hoje em dia, dou aulas em cinco locais diferentes, um deles como substituta, que me ocupam cinco dias por semana. É a minha atividade principal em termos de rendimentos mas não chega para me sustentar sozinha”.

Para Sofia, “a principal dificuldade é a falta de locais para trabalhar, existem muitos professores e poucos locais que nos ofereçam as condições que merecemos como profissionais da dança. Além disso, a formação que Portugal oferece também não é a melhor...aliás é proporcional ao nosso país. Já na Europa, tanto Espanha, como no Reino Unido, como em França, a formação é a melhor, acabando por aliciar muitos portugueses a ir trabalhar para fora”

Filipa é mais otimista neste aspeto. Considera “ ser possível “ sobreviver só da dança em Portugal: “Mas são necessários muitas coisas, como trabalho, muito trabalho, dedicação, entrega, sorte. Há alguns anos era mais fácil, agora o mercado de trabalho esta cada vez mais pequeno...”.

O seu conselho para os mais jovens é de “que trabalhem muito, que acreditem neles próprios. E que vão sempre para além dos seus limites e capacidades para atingirem a excelência. Que sejam sempre profissionais em relação aos outros e à sua carreira e que promovam o respeito e divulgação da dança como nobre arte que é!”

Sofia sugere a criação de “um sindicato de bailarinos...para nos defendermos e lutarmos pelos nossos direitos como trabalhadores que somos” e acrescenta “a dança para mim é um refúgio...a minha vontade é dançar o resto da vida, mas sei que um dia isso vai ter de ficar como lembrança. Quem dança é muito mais feliz, é o lema da minha vida.”

E para a pequena Margarida a dança ainda é o seu mundo porque, segundo conta, vezes e vezes sem conta, “enquanto dança ninguém lhe está a fazer perguntas chatas”.

Quem sabe no futuro não a vemos no palco principal a fazer um cabriole (passo saltitante onde o dançarino bate as duas pernas juntas no ar)…

Foto: Filipa Rola