Nicholas Pearson, editor da Harper Collins, será o representante da Doris Lessing na entrega do Prémio Nobel da Literatura que se realiza hoje em Estocolmo.
Ausente por motivos de saúde, a laureada gravou a sua palestra em vídeo num registo já reproduzido pela Academia Sueca e a cerimónia contará com a presença da filha, Jean Cowen e das netas, Anna e Susannah.

No discurso oficial, intitulado "Como não ganhar o Prémio Nobel", a escritora contrapôs a vontade de saber e de conhecimento dos países pobres à falta de interesse dos jovens dos países ricos pela sua herança cultural.

Com 88 anos completados no passado dia 22 de Outubro, Doris Lessing ganhou o prémio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 1,08 milhão de euros) por uma obra que retrata sem piedade os males da sociedade.
Desde o início dos Nobel em 1901, a escritora britânica é a 11ª mulher a receber o Nobel de Literatura e a personalidade mais idosa a ser galardoada. A nomeação foi uma surpresa, uma vez que o seu nome, citado como favorito no passado, já não constava nos actuais círculos suecos.

Descrita pelo júri como "a narradora épica da experiência feminina e de força visionária", Doris Lessing inspirou uma geração de escritoras feministas. Um dos expoentes do seu trabalho é "The Golden Notebook" ("O Caderno Dourado), de 1962, que é considerado pela Academia Sueca "uma obra pioneira do movimento feminista, pertencendo ao grupo de obras que mudaram a forma de ver as relações homem-mulher no século XX".

Não menos impacto na escolha do júri tiveram livros como "The Grass is Singing" (o seu primeiro livro editado) "The Good Terrorist", sobre um grupo de revolucionários de extrema-esquerda, "Andando na Sombra", "O Quinto Filho ou "Regresso para Casa", onde a escritora denuncia o apartheid na África do Sul.

Explorando todos os estilos literários, Doris Lessing fez ainda nos últimos anos uma incursão magistral na ficção científica, imaginando o mundo depois de um conflito atómico e explorando temas como os antagonismos entre os princípios feminino e masculino, o colonialismo, catástrofes ecológicas e outros temas actuais, sempre abordados de forma visionária.

Nascida em 1919 no Curdistão iraniano, então parte do Reino da Pérsia, Doris May Taylor viveu parte da juventude na Rodésia (actual Zimbabue)o que marcou grandemente a sua obra. Foi educada numa escola de freiras dominicanas mas o conflito com a educação religiosa e com a mãe (que lhe impunha um modo de vida Eduardiano) fez com que aos 13 anos abandonasse a escola, tornando-se autodidacta o resto da vida.

Ex-membro do Partido Comunista britânico, do qual se afastou em 1956 após a repressão da rebelião húngara, a escritora foi casada e divorciada..."o matrimónio é um estado que não lhe convém".
Em 1984 fez uma brincadeira com os meios literários, escrevendo um livro com o pseudónimo Jane Somers. A sua própria editora, que não conhecia a verdadeira identidade da autora, recusou-se a publicar o livro. Doris Lessing actualmente nos arredores de Londres e é geralmente equiparada à francesa Simone de Beuvoir pela sua militância feminista.

Foto: Lusa/EPA

Texto: Ana Margarida Lázaro