Há seis anos,
Miguel e Ana (nomes fictícios) viveram o sonho desejado por muitos.
O segundo prémio do concurso
euromilhões bateu-lhes à porta.

Aos 30 anos, reorganizaram os
seus projetos de vida, anteciparam
objetivos e concretizaram sonhos
que, de outra forma, não teriam
sido possíveis. Hoje, saboreiam
o luxo de viver sem qualquer
restrição financeira.

Quais foram
as primeiras emoções? Como é
viver com uma conta bancária
milionária? E como olham para o
futuro? numa conversa exclusiva,
Ana e Miguel contam a sua história.

O testemunho de Miguel

«Joguei com um colega e dei o dinheiro à
minha namorada [Ana, atual mulher] para
ela ir registar o boletim. Depois de ver o
sorteio, liguei-lhe e verificámos que cinco
números e uma estrela correspondiam
aos que estavam no boletim. Na altura,
não sabia se era o segundo ou o terceiro
prémio, nem estava a par dos valores.
Foi o meu colega que me disse, de seguida,
que tínhamos ganho o segundo prémio
e que naquela semana até era um valor
mais generoso. Fiquei espantado e não
conseguia acreditar no que estava
a acontecer», recorda Miguel.

O momento da verdade

«As minhas dúvidas mantiveram-se
durante dias. Por um lado, acreditava que
era verdade, por outro, tinha receio que
algo acontecesse e que descobrisse que
afinal já não era o vencedor. Duas semanas
depois, confirmaram-nos o prémio na
santa casa e comunicámos a entidade
bancária onde deveriam fazer o depósito
do dinheiro. Foi nesse momento que
fiquei efetivamente convicto que era real.
Não fiquei eufórico porque não sou uma
pessoa de grandes euforias, mas fiquei
muito satisfeito», assume.

Os primeiros meses de milionário

«A minha rotina manteve-se, com
a diferença de que, a partir dali, passei
a gastar mais dinheiro nas compras
do dia a dia. Paguei o crédito da minha
casa, dei algum dinheiro à minha
família e ajudei alguns amigos.
No início, não fiz compras de grande
relevo, só alguns meses depois é que
comprei uma casa de férias e um
carro. Essas foram as compras mais
extravagantes. Terminei o percurso
académico, na altura faltava um ano
para concluir o meu curso e comecei
a trabalhar na minha área»,
revela Miguel.

Uma nova vida

«Só agora, ao fim de seis anos, é que a
minha vida deu uma reviravolta. Nasceu
o meu filho e decidi
despedir-me, dado
que a disponibilidade que tinha para
ele era escassa. Às vezes, tinha que ficar
dias consecutivos fora de casa. Agora,
posso dedicar todo o tempo à minha
família e ao que gosto de fazer. Passo
manhãs inteiras com o meu filho, faço
orçamentos para a nova casa que estou
a construir e dedico-me com mais regularidade ao desporto que já
praticava antes, o golf. Sem dúvida
que agora tenho uma vida muito
mais descontraída», confessa.

Os planos para o futuro

«Agora, a nossa preocupação é
preservar o capital e, se possível,
aumentá-lo. Quando olho para
o futuro, confesso que vejo um
cenário um pouco negro. Apesar
de estar numa situação confortável,
a crise económica do país também
me preocupa porque, se as coisas
correrem mal, correm mal para toda a
gente. Depois de concluir a moradia
que estou a construir, gostava de abrir
um negócio com a minha esposa.
O ideal é que seja algo que nos dê um
retorno razoável, sem exigir muita
disponibilidade», diz Miguel.

Veja na página seguinte: Os luxos dos novos milionários

As confissões de Ana

«Quando percebi que o meu
namorado tinha ganho o prémio,
não imaginei a dimensão do
acontecimento», admite hoje.

«Nos momentos
a seguir, fiquei muito nervosa», assume, sem pudor.

Obviamente que fiquei contente,
mas os primeiros sentimentos foram
negativos! Namorávamos há pouco
tempo e ainda não o conhecia
suficientemente bem para saber
como ele iria reagir», sublinha.

«Fiquei insegura
e senti que o futuro da nossa relação
poderia estar em causa.
Depois receei que a segurança
das nossas famílias estivesse em
risco. Só passados alguns meses é
que tranquilizei e, curiosamente,
toda esta experiência tornou-nos
mais unidos», conta ainda.

Dia a dia descontraído

«Felizmente, antes de ganhar
o prémio, já vivia bem. Mas sei
que se não tivéssemos todo este
dinheiro, hoje, o nosso dia a dia
seria muito mais apertado e não
íamos ter os miminhos a que já
estou habituada, como ir às compras
ou passar um fim de semana fora
sempre que nos apetece ou, pelo
menos, não o poderíamos fazer com
a mesma frequência. Temos a sorte
de viver uma vida mais descontraída
e com menos preocupações. Por
exemplo, atualmente, as pessoas receiam muito perder o emprego
e eu não me preocupo com isso», refere.

Os dilemas atuais

«Desde que nasceu o meu filho que
ando a ponderar deixar de trabalhar
definitivamente. Mas ainda não tive
coragem. Por um lado, gostava de
estar mais tempo com ele mas, por
outro, custa-me abdicar da minha
carreira. Gosto do que faço e sinto-me realizada profissionalmente.
A solução ideal seria encontrar uma
fonte de rendimento que pudesse
gerir com o meu marido. Algo que
nos mantivesse ocupados e que,
ao mesmo tempo, nos permitisse ser
donos do nosso tempo», explica.

A visão realista

«Apesar de termos ganho um
prémio que nos permite viver bem
e comodamente a longo prazo,
acho que é fundamental manter
os pés bem assentes na terra.
Geralmente, as pessoas só dão
valor ao dinheiro quando não o
têm e nós não queremos que isso
aconteça connosco. Os nossos pais
ensinaram-nos a dar o devido valor
às coisas e é esse o princípio que
mantemos. Por isso, não fazemos
uma vida muito expansiva. Aliás,
posso mesmo afirmar que tenho
a certeza absoluta que muita gente
gasta mais dinheiro do que eu», conclui.

Os 4 luxos a que não resistiram

As compras
de maior valor
que fizeram
depois de
ganhar o
Euromilhões:

1. A casa de sonho. Uma moradia de primeiro andar com jardim e piscina, com 560 metros quadrados.

2. O carro de luxo. Um Porshe, no valor de 147 mil euros.

3. A casa de férias. Um apartamento T2, numa zona de luxo no Algarve.

4. A lua de mel perfeita. Um roteiro personalizado de três semanas nos Estados Unidos da América (Nova Iorque, Miami e a ilha Key West).

Veja na página seguinte: Os números do jogo

Números a fixar

O jogo de sorte que cria semanalmente novos excêntricos continua a fazer sonhar todos aqueles que ambicionam mudar de vida:

- 60 milhões de euros foi o prémio mais alto sorteado em Portugal.

- 73 portugueses já foram premiados com valores superiores a um milhão de euros, desde 2004, ano em que foi lançado o concurso Euromilhões.

- 3 é o número de portugueses que já ganharam prémios superiores a um milhão de euros, só em 2012, até meados do ano.

Texto: Sofia Cardoso