O tempo tem estado ventoso e, embora o mar esteja quentinho, a vontade de ir a banhos é roubada pela frescura que à beira de água se faz sentir.

Hoje, com a pele toda arrepiada, quase cedi à falta de vontade de me submergir por inteiro. Hesitei uns segundos: passos para trás e para os lados; ombros encolhidos até às orelhas; saltinhos nas amostras de ondas que teimavam em molhar-me o umbigo.

- Mas afinal és uma princesa do mar ou uma florzinha de estufa, pá? – Perguntei-me, já impaciente com tamanha mariquice. E, em resposta à provocação que a mim mesma dei, lá mergulhei de rompante. E de cabeça, claro.

Sempre disse que ir à praia e não tomar banho é como ir à discoteca e não dançar; é como andar de carro sem guiar ou ir ao aeroporto sem apanhar o avião. Ir à praia sem dar um mergulho no mar é como ir à feira de Abril, em Sevilha, e não pertencer, pelo sangue ou amizades, às casetas onde a manzanilha corre a rodos e se respira a tradição das mãos que bailam mais que todo o resto do corpo. Em resumo: ir à praia e não sentir o fresco abraço do mar é ter apenas meia experiência e viver só por metade.

Há pouco não sucumbi ( porque raramente o faço ) à tentação de deixar a vida a meio mas, no momento em que vi o mundo como o vêem os peixes, percebi que era esta a mensagem que queria hoje deixar: valerá a pena viver sempre a meio gás? Não deveriamos estar mais conscientes de tudo aquilo que perdemos por não querermos sentir a água fria no lombo? É que viver só por metade não tem piadinha nenhuma, sobretudo se deixarmos a vida a meio quase todos os dias.

Já estão a ver o que aí vem, não estão? É isso mesmo: o convite para deixarem de lado o frio e se atirarem… de cabeça, claro!

 

  
Ana Amorim Dias