Na aplicação snapchat, Okuneye Idris Olarenwaju é "Bobrisky" que traduzido à letra significa "Bob arriscado". Com 25 anos, vende cremes branqueadores para a pele negra por 290 euros e revela aos seus mais de 150 mil seguidores todos os detalhes da vida luxuosa que leva ao lado do misterioso "bae", um suposto homem de negócios muito rico.

"As pessoas gostam de mim porque sou autêntico", explica no interior do seu apartamento em Lekki, um bairro da nova burguesia moderna de Lagos. "Também gostam de me ver dançar porque sou um ótimo bailarino. E adoram a minha maquilhagem".

Bobrisky é magro, baixo e penteia o cabelo com gel. Usa umas calças vermelhas apertadas com o rato Mickey bordado num dos bolsos e uma t-shirt de rede cor de rosa bastante justa.

Na pequena sala, decorada em tons de preto e dourado e iluminada por um candelabro de cristal falso, arruma-se para sair.

"É o meu look de festa, o meu conjunto de diva", diz, enquanto aplica a primeira das muitas camadas de base que compõem a sua maquilhagem.

A primeira vez que se maquilhou tinha 12 anos. "Gostava do 'look' da minha mãe", explica.

Um pouco de purpurina nas pálpebras e os seus olhos de gato brilham mais do que os da Cleópatra. "Para se ser bonito, tem que se sofrer!", diz, enquanto faz uma careta ao passar cola nas suas pestanas postiças. "Esta é a que dura mais", afirma.

Persona non grata

No fim de outubro, Bobrisky ficou conhecido na Nigéria quando o conselheiro do presidente Muhammadu Buhari e a diretora de uma empresa de consultoria de marketing recusarem aparecer ao seu lado a propósito de um debate sobre as redes sociais organizado na capital do país.

"Infelizmente, a presença de Bobrisky atrapalhou o evento quando este deveria ter sido um debate sério sobre o papel das redes sociais", assinalou a Alder Consulting.

Bashir Ahmad, conselheiro do presidente, alegou ter faltado ao encontro por falta de disponibilidade. Já Bobrisky aproveitou a situação: no mundo das redes sociais não há nada melhor do que uma polémica para ficar conhecido.

"Os organizadores pediram-me que participasse e falasse do fenómeno Bobrisky", explica. "Deixar de ir ao debate não era bom. Na Nigéria, a maioria das pessoas faz julgamentos de forma muito rápida. Só vivemos uma vez, deveríamos ter o direito de sermos quem queremos", diz.

No país, os travestis praticamente não existem e os gays, discriminados e constantemente vítimas de violência, nunca aparecem em público. A sociedade nigeriana, religiosa e ultraconservadora, prefere pensar que eles não existem no país.

Rebelde

No início do escândalo, Bobrisky surgiu como um rebelde e tornou-se, sem querer, num defensor dos direitos dos homossexuais.

É um papel perigoso num país onde, em 2014, o ex-presidente Goodluck Jonathan levou a votos uma lei que não só proíbe o casamento homossexual como também a "convivência entre pessoas do mesmo sexo", passível de uma pena de 10 a 14 anos de prisão caso haja qualquer testemunho público de "relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo".

Bobrisky diz não ser um militante dos direitos civis, mas é uma exceção na Nigéria. Nunca houve ninguém que tivesse sido condenado pela sua homossexualidade no país, mas a lei vigente criou "um sentimento de medo e de zelo excessivo", explica Wendy Isaack, especialista em questões de género da ONG Human Rights Watch (HRW).

"Isto deu à polícia e à população em geral a oportunidade de extorquir dinheiro das pessoas que acham que pertencem à comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais)", assinala Isaack.

Bobrisky diz ignorar aqueles que o ofendem, preferindo concentrar-se no lançamento do seu canal no YouTube, onde fará tutoriais de maquilhagem.

Ele "não precisa liderar nenhum movimento", explica Olumide Femi Makanjoula, diretor da ONG nigeriana The Initiative for Equal Rights, que defende os direitos das pessoas LGBT.

"Ao menos as pessoas como Bobrisky dão que falar e estimulam o diálogo. É um ativista, apesar de tudo. É o poder da cultura pop", resume.