Sabia que o altruísmo contribui para a felicidade no casamento? Um estudo americano concluiu que casais que defendiam a entreajuda e espírito de sacrifício em prol do outro tinham casamentos mais felizes.

A razão para esse fenómeno assemelha-se à eterna questão do ovo e da galinha, pois não se sabe se estas pessoas são mais felizes por serem altruístas por natureza ou, por terem um casamento feliz, se tornam mais disponíveis para ajudar o próximo.

A preocupação com as necessidades dos outros gera uma atitude positiva no casamento e na vida, mas o que nos motiva a agir assim? Actualmente, o altruísmo
é apenas um sentimento sazonal, limitado a certas épocas do ano ou uma expressão humana essencial à vida em sociedade? Fomos à procura de respostas.

Evolução natural

Nos humanos, o altruísmo pode ser entendido como um traço natural. Estudos feitos na Alemanha observaram comportamentos altruístas em crianças com apenas um ano e meio, que não se coibiram de ajudar um adulto a apanhar objectos como molas de roupa ou livros caídos no chão, desde que percebessem tratar-se de uma situação acidental.

Estas crianças evidenciaram uma vontade de ajudar inata e um entendimento precoce da distinção entre uma necessidade real ou falsa. Também está amplamente comprovado o papel que o altruísmo verdadeiro assume nas nossas relações em sociedade.

Aliás, pesquisas provam que temos tendência a compensar os que ajudam e a rejeitar os que consideramos egoístas, obrigando-os a rever a sua conduta.

Por isso, ajudar o próximo torna-se não só uma questão de princípios, mas também de sobrevivência. Veja aqui como pode ser simples fazê-lo.

O prazer de dar

Existe uma forte relação entre o bem-estar, a saúde e a longevidade de quem adopta um comportamento altruísta. Estas pessoas conseguem estabelecer relações mais sólidas com os outros, onde a palavra de ordem é a confiança.

Segundo o psicólogo Vítor Rodrigues, «saber ter em conta os interesses e as necessidades dos outros pode conduzir a uma melhor adaptação social o que acaba por beneficiar o indivíduo.»

Mas será que vale a pena ser altruísta numa sociedade em que cada vez mais se apela ao individualismo? O segredo, segundo os especialistas, é avaliar correctamente as necessidades de quem queremos ajudar e ajustar o grau de colaboração.

Corremos o risco de nos retirarem o mérito da ajuda prestada, mas devemos sempre considerar que os benefícios da partilha superam em muito o egoísmo.

Veja na página seguinte: As atitudes demasiado generosas podem ser sintoma de dependência afectiva?

Impor limites

Para se ser verdadeiramente altruísta conta, acima de tudo, a intenção. Dar porque nos sentimos constrangidos a isso ou porque imaginamos um retorno futuro material ou emocional, não pode ser apelidado de generosidade.

A dádiva que tem como fim manipular ou cair nas boas graças do outro demonstra egoísmo e não traz qualquer benefício emocional.

Até mesmo as atitudes demasiado generosas podem esconder uma dependência afectiva e a necessidade de sentir a aprovação dos outros. É importante saber preservar o que é nosso, pois remediar uma necessidade criando outra não é um processo saudável.

Ao dar demais podemos causar um fenómeno de habituação nos outros, que deixam de valorizar o esforço de quem os está a ajudar. É necessário aprender a dar e a receber.

Regresso ao futuro

Se sente um vazio a nível das suas acções, saiba que nunca é tarde para mudar. Para desenvolver o seu altruísmo, pode começar por regressar ao passado e avaliar os melhores momentos da sua vida.

De acordo com Vítor Rodrigues «esses momentos não são aqueles em que estava a competir com os outros, a defender-se e a proteger as suas coisas e a atropelar os outros. Pelo contrário, foram momentos em que espontaneamente deu algo, partilhou ou construiu em conjunto», sublinha.

Texto: Paula Nascimento com Vítor Rodrigues (psicólogo)