O João e a prima desceram as escadas com grande espalhafato.

- Ele faz anos, ele faz anos! Já é meia noite!- gritou ela.

O "parabéns a você" começou a soar na voz de todos, para alegria do catraio que, de tão entusiasmado, até se abanava a dançar.

Decidi antecipar a entrega de algumas das prendas que lhe comprei. Entreguei-lhe os embrulhos com a carteira gira e o boné do Batman, mais o perfume e os calções de banho e a blusa com o tubarão. Foi rasgando os papeis e mostrando o seu desagrado de uma maneira tão grosseira que mal consegui disfarçar os estilhaços que se produziram cá dentro.

Cansada de fingir um bem estar que não sentia, procurei a solidão na casa de banho. "Mas que pessoa é esta? Não era assim que eu o sonhava... Em quem se tornará?" As lágrimas correram sem freios. "És a mãe dele: tens que fazer com que cada oportunidade conte!"

Puxei a cadeira para o centro da casa de banho e chamei-o. Sentei-o ao meu colo e permiti que me visse a chorar. Expliquei o que me doía e porquê.

- Olha bem para mim, João, e promete que nunca te vais esquecer disto: o que temos nada vale, apenas importa o que somos!

Pediu-me desculpa e falámos mais um pouco. Expliquei-lhe que se não gostava das coisas, as podíamos trocar ou devolver, mas que os sentimentos que magoamos nas pessoas que amamos são mais complicados de trocar.

- Desculpa ter tido esta conversa contigo, logo hoje meu amor. É que, sabes?... É infinita a felicidade de teres nascido entre nós há nove anos!

Ele abraçou-me com força. Depois limpou as suas sentidas lágrimas e regressámos à sala.

As melhores e mais valiosas prendas nunca são bens materiais. E há algumas que, embora bem duras de oferecer, nos provam que vamos sempre a tempo de alterar o futuro...para melhor.

Ana Amorim Dias

Biografia