Dores nas costas, fadiga muscular
ou cansaço visual são apenas algumas das
principais queixas de quem trabalha
horas a fio no mesmo local.

Tomar as
devidas precauções pode melhorar o seu
bem-estar e evitar lesões futuras. Existe, por isso, uma série de cuidados preventivos que deve ter de forma a evitar esses e outros problemas.

Denis
Coelho, professor na Universidade da
Beira Interior, director do mestrado em
Design Industrial Tecnológico e editor
da revista International Journal of Human
Factors and Ergonomics, explica-lhe como
potenciar a saúde e o bem-estar no local
de trabalho.

Em termos ergonómicos, quais são
as falhas mais comuns nas empresas?

É preciso começar por perceber uma
coisa, se um escritório está bem ajustado
para uma pessoa de dimensões médias,
nem sempre isso significa que esteja ajustado
a pessoas de outras dimensões. Por
isso mesmo, devemos introduzir o maior
número de adaptações de modo a acomodar
estas diferenças. Não é apenas a altura
do assento que deve ser ajustada, mas
também a altura da secretária, dos apoios
dos braços, a proeminência e altura do
apoio lombar no encosto do assento e
a altura e distância ao monitor.

Que impacto podem ter estes erros na
saúde?

As doenças músculo-esqueléticas são a
principal consequência dos erros cometidos
no trabalho com computadores. Estas
são designadas por Lesões Músculo-Esqueléticas
Ligadas ao Trabalho (LMELT)
e podem traduzir-se por síndroma do
canal cárpico (inflamação dos tendões do
pulso), tendinites nos membros superiores
(ombro, braço, mão, dedos) e ainda lesões
nos discos intervertebrais. Por outro lado,
uma iluminação desadequada pode levar
ao cansaço do aparelho visual e à degradação
da acuidade visual.

Nos escritórios, a maioria dos
trabalhadores passa várias horas sentado.
Quais são os principais requisitos
de um bom assento?

Uma cadeira de boa qualidade é essencial
para o bem-estar do trabalhador. Esta
deve ser almofadada e em tecido transpirável;
ter apoios de braços ajustáveis, que
se possam adaptar à altura do cotovelo da
pessoa, e oferecer um bom apoio lombar,
adequado à concavidade das costas.

Em
termos de dimensão, esta deve acomodar
confortavelmente a largura das ancas e
o comprimento das coxas, permitindo
a flexão confortável das pernas nos joelhos.
A altura do encosto do assento deve
atingir, pelo menos, o nível dos ombros
do utilizador. Todas as cadeiras de um
escritório e, se possível, as secretárias
devem ser ajustáveis em altura.

Em termos de postura, que regras devem
ser cumpridas?

Em primeiro lugar, o assento e o espaço
livre para as pernas devem permitir
mudanças de postura. Devem
utilizar-se
cadeiras que permitam alguma oscilação
da base, de modo a que a pessoa possa
alternar entre uma postura em que as
costas estão apoiadas no encosto, e outra
em que estas se encontram desapoiadas
mas erectas.

Isto pode conseguir-se
facilmente com a rotação de dez a 15
graus da base do assento, para a frente
e para trás, em torno do eixo horizontal
médio desta base, paralelo às ancas. Para
além disso, o trabalhador deve ajustar
o assento de modo a que os pés assentem
confortavelmente no chão. Caso isso não
aconteça, deve utilizar um apoio.

Veja na página seguinte: Os cuidados que deve ter quem passa muitas horas por dia em pé

Por outro lado, o que aconselha a quem
passa várias horas do dia em pé?

A concepção dos locais de trabalho deve
encorajar os trabalhadores à mudança frequente de postura, para evitar a fadiga
muscular.

Aos cabeleireiros e vendedores,
por exemplo, deve ser permitido que
alternem entre o trabalho que é feito de
pé e o que é feito sentado, adoptando assentos
do tipo sela ou como os colocados
junto a balcões de bar, que posicionam os
seus membros superiores à mesma altura a
que estariam caso se encontrassem em pé.

No sector industrial, onde o trabalho é
repetitivo, quais são os principais erros?

São vários: as posturas fixas e restritivas,
o transporte manual de cargas pesadas
ou grandes, o trabalho efectuado acima
do nível dos ombros e abaixo do nível
da cintura. O ruído e as vibrações, as
condições de iluminação inadequadas,
o trabalho repetitivo e monótono, a exigência
de uma grande acuidade visual,
bem como o isolamento do trabalhador,
o ritmo de trabalho imposto e as pausas
condicionadas ou limitadas também
podem ser bastante problemáticos…

Existem exercícios físicos que possam ser
feitos no local de trabalho?


Os alongamentos dos membros superiores
e inferiores, das costas, dos ombros e
do pescoço e a ginástica laboral podem
ser introduzidos no início, no meio e no
final da jornada de trabalho. Isto já acontece
em alguns escritórios e fábricas de
alguns países asiáticos. O resto do mundo
tem que aprender com estas práticas
benéficas que, para além de prevenirem
problemas músculo-esqueléticos, também
contribuem para um maior bem-estar físico em geral e para uma maior
motivação no trabalho.

A que sinais de alarme devemos estar
atentos?

O primeiro sinal de aviso é o desconforto
e a fadiga muscular. Quando o desconforto
persiste, torna-se em dor, num
espaço de tempo que pode variar entre
os 30 minutos e algumas horas. Se a dor
persistir, e se não forem tomadas medidas, é provável que ocorra uma lesão.
Em muitos casos, a correcção posterior
envolve cirurgia e muita fisioterapia,
bem como o afastamento do trabalho.
Em alguns casos, as lesões deste foro são
irreversíveis.

E a que especialista devemos recorrer
nestes casos?

Em caso de dor aguda, tanto o médico
de família como o médico do trabalho
devem ser consultados. Em seguida, o
trabalhador deverá ser encaminhado para
um especialista, normalmente em ortopedia
ou traumatologia. As queixas de
foro visual devem ser encaminhadas para
um oftalmologista.

Soluções simples para melhorar as condições no escritório:

- Coloque almofadas nas costas da
cadeira para conseguir um apoio
lombar adequado.
- Caso tenha uma estatura baixa
e não chegue com os pés ao
chão, utilize listas telefónicas ou
catálogos volumosos como base
de apoio.
- Utilize os mesmos catálogos para
elevar o monitor do computador
à altura dos olhos.
- Coloque telas nas janelas
contíguas ao espaço de trabalho
para regular a intensidade
luminosa e a incidência directa
de raios solares.
- Substitua regularmente
o mobiliário defeituoso ou
inadequado.
- Frequente acções de formação
e sensibilização dos trabalhadores
nesta área e convença os seus
colegas a acompanharem-na.

A temperatura a que deve trabalhar

A temperatura ambiente deve
adaptar-se ao nível físico
da tarefa. «Se é intenso, a
temperatura de conforto poderá
descer até aos 15 graus. Para um
trabalho com pouca actividade
física, o valor recomendado
situa-se entre os 18 e os 21 graus
no Inverno e os 21 e os 24 no
Verão», explica Denis Coelho.

Texto: Ana Catarina Pereira com Denis Coelho (especialista em ergonomia)