É filha de Maria da Fé e o ditado popular “filha de peixe...”, assenta-lhe que nem uma luva. Rita Gordo, de 34 anos, tem uma voz magnífica e o seu prazer pela música enche-lhe os olhos de brilho e alegria. Às vezes, o entusiasmo leva-a a cantar no Senhor Vinho, a carismática casa de fados da Lapa, da mãe e do pai, o poeta de fado, José Luís Gordo. A Ocarina acaba de editar o primeiro disco da menina que nasceu com música na voz.

Acaba de editar o seu primeiro disco, “Rita Gordo, eu sou assim”. Os poemas são do seu pai?
Tem dois do meu pai, do Mário Rainho, do Carlos Alberto Moniz, do Paulo Bragança e alguns meus. Resulta de uma busca que fui fazendo e inclui temas que eu já gostava.

Começou a cantar logo de pequenina?
A cantar não sei, mas a cantarolar, sim. E sempre estive ligada à música: tive aulas de piano e cantava nas festas da escola, e sobretudo em casa, onde fazia de qualquer objeto um microfone...

A sua irmã também canta?
Não, a minha irmã foi atriz mas, agora, desde que foi mãe, deixou tudo para se dedicar à maternidade a tempo inteiro, embora também nos ajude no Senhor Vinho.

Estudaram o quê?
A minha irmã ainda andou um ano na faculdade, mas eu fiquei só pelo 12º ano.

A família inteira trabalha no Senhor Vinho?
Sim. É uma empresa familiar, para além do pai e da mãe, trabalho eu e a minha irmã para dar continuidade ao projeto que os meus pais criaram.

Os pais estão orgulhosos do vosso interesse?
Claro que estão. É uma preocupação constante sobretudo agora com a situação do país, mas tanto eu como a minha irmã não vamos deixar morrer a casa que os meus pais fizeram.

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Os vossos clientes são maioritariamente estrangeiros?
Sim, temos muitos clientes portugueses mas a maioria são estrangeiros que vêm a Portugal e querem conhecer uma casa de fado.

Lembra-se que idade tinha quando cantou pela primeira vez no Senhor Vinho?
Devia ter 16 ou 17 anos e cantei Sem Carinho, um fado que a Aldina Duarte cantava nessa altura. Antes disso já cantava no forno com os artistas. Foi lá que me ensinaram a tocar viola.

O que é o forno?
É o espaço onde estão os cantores e os músicos. E chama-se o forno porque o Senhor Vinho antigamente era uma padaria, e o espaço dos artistas era onde se fazia o pão... Era ali que eu me divertia quando era miúda a cantar e a tocar viola.

Cantava mais fado nessa altura?
Ainda aprendi mais dois ou três fados, mas depois parei porque não gostava de me ouvir. E só recomecei a cantar mais tarde.

Já se casou?
Ainda não, mas vivo com o meu namorado.

Canta para o seu namorado?
Cantei há dias. Agarrei na viola e comecei a cantar... E ele gostou bastante!

Foi o pai ou a mãe que a incentivaram a cantar?
Nem um nem outro. Aliás os meus pais não se metem muito na minha vida. O maior incentivador foi o Paulo Parreira, que é o meu produtor musical e que toca no Senhor Vinho.

O que lhe disseram os seus pais quando ouviram o seu disco?
Ficaram babadíssimos e até se comoveram. Aí sim, disseram-me que era uma pena não cantar mais vezes!

E agora, já canta mais vezes no Senhor Vinho?
Muito pouco, trabalho lá e tenho um elenco fixo, cinco ou seis artistas a cantar permanentemente. Durante o jantar estou a tratar da parte logística e da gestão, e nem sempre se proporciona cantar... Só quando algum amigo me pede ou quando surge a oportunidade é que canto.

Uma pessoa que faz um disco gosta de cantar?
Claro que sim, mas nem todas as pessoas que cantam estão em casas de fado. Posso sempre fazer o gosto ao dedo nos concertos e já fiz inúmeros espetáculos em Portugal e até fora do País.

Também cantou para Felipe La Féria?
Estive três anos no Amália, fiz a digressão toda e adorei. Depois, também com o La Féria, fiz a gala dos 45 anos da RTP.

Onde gostava de chegar?
Não muito longe. Não sou muito ambiciosa, ao contrário da maioria dos jovens que sonham ser vedetas, eu não sonho com nada disso. O estrelato não me traz felicidade. Talvez porque quando era pequenina a minha mãe quase nunca estava presente porque andava sempre a viajar de um lado para o outro e eu não quero isso, não quero viver em quartos de hotel. Quero ter a minha família e a minha estabilidade.

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O que gosta de ouvir?
Gosto de música africana, jazz, bossa nova, alternativa. Sou muito eclética.

O que a diverte?
Dançar, bons jantares e boas gargalhadas. E também aprecio bons passeios.

O que lhe arranca uma gargalhada?
Uns disparates.

Cozinha para os seus amigos?
Não, neste momento é o meu namorado que cozinha. Eu lavo a loiça.

Quando viaja prefere destinos exóticos ou cidades?
Destinos exóticos. Para o ano vou a Nova Iorque com uma amiga, mas adorava voltar a Cabo Verde e ao Brasil.

Quando era pequenina a sua mãe levava-a a si e à sua irmã nas digressões?
Não. Com ela só fui a França e aos Açores. Mas viajávamos em família nas férias. Fomos à Tunísia, a Cabo Verde, ao Brasil...

O que a preocupa?
O futuro do país. Ainda por cima tendo um restaurante que paga 23 por cento de IVA, e não dá para ignorar o que se está a passar no país e no mundo. Temos 17 funcionários para além dos artistas, e contas para pagar todos os meses e é de lá que todos nós vivemos.

Tem algum hobby?
Gosto de ir ao cinema, de ouvir a minha música, de agarrar na viola e estar ali sem tempo a tentar compor, e também gosto de passear com o meu cão até à praia. Como moro na Costa, dá para levá-lo à praia quase todos os dias, e esses momentos são sempre muito bons.

É uma tia babada?
Completamente. Tenho duas sobrinhas, a Constança com sete anos, e a Aurora com três, que me dão uma enorme alegria.

Gostava de ter filhos?
Gostava muito mas por enquanto ainda não penso nisso.

Está feliz?
Estou. Neste momento estou muito bem com a vida.

 

Texto: Palmira Correia