Dedicou-se à fotografia masculina porque sempre que via fotografias masculinas ficava presa às imagens. Hoje é a única especialista em Portugal.

Tem 33 anos, é alta e esguia como um modelo, sorri com sinceridade e tem uma simpatia natural e cativante. Como todos os brasileiros, tem o dom da palavra, é fluente nas ideias, segura nas suas defesas e sabe muito bem o que não quer para a sua vida.

A entrevista a Paula Bollinger decorreu numa esplanada em Cascais e foi rápida e objetiva porque a fotógrafa não tem tempo a perder.

Viveu em Portugal entre os 12 e os 16 anos porquê?

Nasci no Rio de Janeiro mas saí de lá muito pequena porque o meu pai era um executivo na área dos seguros e quando eu tinha cinco anos foi transferido para o Peru. Morámos dois anos em Lima depois ele foi colocado em Madrid, onde fiquei até aos 12 anos, altura em que ele foi transferido para Lisboa.

Ficou cá quatro anos. Estudou aqui?

Estudei no Instituto Espanhol até aos 16 anos e depois regressámos novamente a Madrid e fiquei lá mais dois anos.

Com tantas mudanças, conseguiu fazer amigos na juventude?

Os meus maiores amigos são portugueses. Conheci a minha melhor amiga há 21 anos, quando entrei para a escola em Portugal. Esses amigos são os meus amigos do dia a dia desde que voltei a morar aqui.

Praticamente não morou no Brasil?

Com 18 anos voltei ao Brasil, fiquei lá nove anos mas há sete voltei para cá.

Licenciou-se no Brasil?

Formei-me em Jornalismo no Brasil e fiz pós-gradução em telejornalismo. Trabalhei sempre na televisão, fui crescendo na TV Record até ser coordenadora de produção. Um dia recebi o convite para vir assumir a direção de produção de uma área da TV Record na Europa. Como já era apaixonada por Portugal não pensei duas vezes e vim imediatamente para cá.

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Ficou até quando?

Até 2009. Era muita responsabilidade e estava a ficar cansada de trabalhar há tantos anos sem férias. Chegava a casa às 4h, 5h, 6 h da manhã de segunda a segunda e comecei a perceber que não estava a viver a vida. Era só trabalho.

Aí decidiu ser fotógrafa?

Um dia cheguei a casa de madrugada, deitei-me e pensei: tenho de mudar de vida, tenho de fazer alguma coisa, não sei o quê, mas tenho de fazer alguma coisa e no dia seguinte fui pedir a minha demissão!

Correu um risco enorme.

Eu já gostava muito de fotografia. A minha mãe foi uma grande modelo brasileira, era mesmo uma top model, fez muitas capas de revistas nos anos 70, e foi musa da H. Stern durante muitos anos... Quando eu nasci deixou a moda mas nunca deixou de estar ligada a este meio. Talvez por isso gostei sempre muito de moda.

Quando ficou sem trabalho foi a primeira coisa que lhe ocorreu?

Foi. Comprei uma máquina fotográfica profissional, fiz um curso e comecei a criar o meu portfólio. Chamei as minhas amigas mais conhecidas, apresentadoras de televisão, e comecei a fotografar só mulheres. Quando tinha cinco ou seis mulheres, criei o meu sitio na internet e começaram a surgir os clientes.

Quanto tempo é que esse processo demorou?

Cerca de quatro meses depois de ter deixado a televisão, tive o meu primeiro cliente, até que, em Julho de 2010, resolvi fotografar o primeiro homem, um ex-colega do Instituto Espanhol, um rapaz muito bonito, e a sessão correu tão bem que graças a ele decidi enveredar pela fotografia masculina.

É um mercado mais restrito?

É, mas toda a gente fotografa mulheres. O que chamou a atenção foi o facto de as fotografias masculinas me prenderem, e isso resultou na minha principal motivação. Curiosamente, no dia a seguir a fotografar o meu amigo, tive uma sessão fotográfica com o Madjer e aquilo correu tão bem que foi mesmo a minha martelada final.

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E optou por fotografar homens?

Três meses depois fui convidada pela Men´s Health para ser fotógrafa da revista, o que faço com todo o prazer desde Dezembro do ano passado. A capa da revista de Setembro com o ator Ângelo Rodrigues é minha.

Mas continua a fotografar mulheres?

Claro. Há três meses a capa da Activa com a Liliana Santos foi minha.

Gosta de tirar o melhor das pessoas?

A minha paixão é fotografar. Gosto e fotografar crianças, famílias, grávidas. Adoro tudo o que está relacionado com sentimento, e chego a emocionar-me a fotografar famílias.

Fotografar um homem é diferente?

É sempre um desafio. Tem de haver um grande jogo de cintura para deixar o homem descontraído até encontrar o olhar perfeito. Na sessão fotográfica não procuro a beleza do homem, antes o seu charme. Se eu conseguir encontrar o charme, aí encontro a beleza dele.

Está a correr-lhe bem o seu trabalho?

Graças a Deus está a correr muito bem.

Já tem tempo para si?

Faço o meu horário, posso administrar o meu tempo, mas continuo com muito pouco tempo para mim porque têm surgido grandes trabalhos.

O facto de ser mulher pode ajudar?

Com certeza. O facto de ter enveredado pela fotografia masculina chama a atenção do mercado. Mas tenho de correr atrás, ser ousada, e, às vezes, depois de fotografar um dia inteiro, de manhã à noite, fico a noite inteira a tratar as fotos.

Foi a sua ambição que a levou a mudar de profissão?

Sem dúvida. A minha nova profissão é muito mais compensadora. Tive muito prazer em trabalhar na televisão mas a fotografia trouxe-me um outro prazer. E, curiosamente, por ter trabalhado 10 anos em televisão também faço direcção de fotografia de cinema. Agora vou fazer a direção de fotografia de duas séries portuguesas que vão começar a gravar em Outubro.

Está de partida para o Brasil. Vai fotografar quem?

Vou fotografar o vice-presidente da Metro Goldwyn Mayer. Sou fotógrafa da MGM na Europa, e, como ele é brasileiro, contratou-me para ir fotografar o casamento dele a São Paulo.

Tem estado a fazer outros trabalhos internacionais?

Já fiz trabalhos para Itália, Espanha, Alemanha e agora vou fazer um trabalho para uma marca de água argentina.

Qual é a sua prioridade?

Tenho duas prioridades na vida. A primeira é Deus, e é essencial, a outra é a minha profissão.

Qual é a palavra que melhor a define?

Ousadia.

Qual é o seu próximo projeto?

Vou fazer uma exposição com várias pessoas de profissões diferentes, enroladas em cordas, por isso vai chamar-se Cordas.

Está bem com a vida?

Estou. Vivo intensamente o presente e sou acordada pelo futuro.

Texto: Palmira Correia