A pensar em si e na sua família, elaborámos um especial de finanças pessoais para este início de ano. Propomos-lhe uma análise ao presente e futuro da economia nacional e internacional, oferecemos uma viagem pelo universo dos mercados financeiros, apresentamos estratégias de investimento e diversas sugestões de poupança, e, porque queremos que seja muito feliz em 2016, também falamos de dinheiro e felicidade. Confira as nossas sugestões para ser mais feliz com o dinheiro que tem a partir de agora.

Para onde vai a economia?

A crise já passou? O que podemos esperar de 2016? Dizem os peritos que o pior já passou, mas a economia mundial pode nunca mais voltar a crescer como antes da mais recente crise económico-financeira, que começou em 2008, com a falência do banco norte-americano Lehman Brothers. O alerta é do Fundo Monetário Internacional (FMI) que, nos seus relatórios para 2014 e 2015 já tinha baixado as previsões de crescimento económico, alertando que as novas previsões ainda podem ser demasiado otimistas.

Para 2016 as notícias não são as melhores. Segundo Christine Lagarde, diretora-geral da instituição, o crescimento económico vai ser «dececionante e desigual». «O ritmo da recuperação global desapontou nos últimos anos. Com um crescimento da economia mundial mais fraco que o esperado na primeira metade de 2014 e o aumento dos riscos, a recuperação económica prevista pode não se materializar ou ficar aquém das expetativas», tinha já advertido anteriormente o FMI.

Os três principais riscos para a economia

De acordo com o FMI, os três principais riscos que pairam sobre a economia mundial são as tensões geopolíticas no Médio Oriente e entre a Rússia e a Ucrânia, a possibilidade de novos tumultos nos mercados financeiros e o facto de uma nova recessão na Zona Euro poder provocar um cenário de deflação, uma descida generalizada e persistente dos preços de bens e serviços, com consequências negativas para a economia.

Portugal e a Zona Euro

O Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro deve crescer 1,1% em 2015, acima do esperado para 2014, de acordo com previsões da Comissão Europeia. Em novembro de 2015, o número seria revisto para 1,6%. Em 2016, estima-se que atinja 1,8%. A instituição alerta, contudo, que a recuperação económica, que começou no último trimestre de 2013, continua frágil e débil em muitos estados-membros. Para a economia portuguesa, Bruxelas prevê um ligeiro crescimento, mas frisa que as perspetivas ainda são negativas.

Já o desemprego deve descer para 12,3% em 2015, contra os 13,4% previstos para em 2015 e os 14,2% registados em 2014. Virá aí uma nova recessão a caminho? Apesar das previsões de crescimento, a economia mundial pode entrar em nova recessão em 2016. O aviso é da consultora Jerome Levy Forecasting Center, cujos economistas têm conseguido prever os principais acontecimentos financeiros das últimas décadas, incluindo o grande crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929 e a crise de 2008, que muitos afirmaram ser imprevisível e que já foi considerada a pior desde a Grande Depressão.

Estes especialistas alertam agora que muitos responsáveis mundiais não estão a dar a devida atenção à principal tendência económica global, a queda dos investimentos nas economias emergentes. O próprio FMI alertou recentemente para o risco de uma queda no crescimento potencial dos mercados emergentes, um fator chave para a recuperação económica.

Veja na página seguinte: As estratégias de investimento no universo das bolsas e dos mercados

As estratégias de investimento no universo das bolsas e dos mercados

Se é fã de uma boa estratégia de investimento, tenha em mente que é preciso estar preparada. Informar-se é fundamental. Quais serão os principais temas que marcarão os mercados em 2016? Em que investimentos deve apostar e quais deverá evitar? «Os investidores deverão estar atentos a uma eventual recuperação de matérias-primas como o petróleo, o algodão, o cobre, depois de terem sofrido perdas substanciais em 2014», recomenda Steven Santos, gestor da corretora XTB.

Para este especialista, «a compra de ações nacionais continua a ser um investimento a evitar, pelo menos enquanto pesos-pesados como o BCP, a EDP ou a Galp Energia estiverem em queda». O gestor da corretora XTB sublinha que o PSI 20, o principal índice acionista português, negoceia numa tendência descendente desde abril, o que o leva a «desaconselhar a compra de qualquer título nacional». Uma posição que está longe de ser consensual.

As (novas) regras dos bancos centrais

De acordo com o gestor da XTB, o principal tema que marcará os mercados em 2016, tal como já sucedeu em 2015, será a adoção de estratégias opostas pelos principais bancos centrais do mundo. O Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão estão a injetar liquidez nas economias, com o objetivo de contribuir para a recuperação económica. Já a Reserva Federal norte-americana considera que a economia dos EUA já saiu da crise e prepara-se para aumentar as taxas de juro no país. Esta medida encarecerá o preço a que é emprestado dinheiro, resultando, na prática, no aumento do custo dos créditos concedidos pelos bancos.

A pensar no futuro das crianças

Para quem tem filhos, o gestor indica que «alguns dos investimentos mais interessantes são os fundos de investimento ou os ETF (Exchange Traded Funds) sobre índices acionistas». Trata-se de instrumentos financeiros que permitem aos investidores «ter exposição a todas as empresas cotadas numa determinada bolsa e beneficiar da rentabilidade esperada superior à dos depósitos a prazo e das obrigações», explica.

Estes investimentos adequam-se a estratégias com um horizonte temporal mais longo, como é o caso de quando se trata de escolher um investimento a pensar no futuro das crianças. «As investidoras assumem uma perspetiva de mais longo prazo que os homens. Nesse sentido, as mulheres preferem manter ações e obrigações a longo prazo, em detrimento de produtos alavancados», refere Steven Santos.

Poupar em 2016 é uma missão possível

O início de um novo ano é uma excelente oportunidade para mudar comportamentos e adotar hábitos mais saudáveis. Descubra como melhorar a sua saúde financeira. «Poupar. Pode parecer impossível, mas se criarmos hábitos de poupança e se a poupança for efetivamente o nosso primeiro gasto, é possível», afirma João Morais Barbosa, autor do Manual das Finanças Pessoais e fundador da EFP – Escola de Finanças Pessoais.

Se, por um lado, é certo que «a gestão do dinheiro é um grande desafi o para a generalidade das famílias, independentemente do seu perfi l económico e social», por outro, é possível gerir sabiamente o orçamento familiar seguindo algumas regras e apostando na disciplina. Fale sobre dinheiro em casa, não só em casal, mas também com os filhos. João Morais Barbosa alerta que «a ausência de diálogo é meio caminho andado para problemas financeiros sérios».

Veja na página seguinte: As primeiras regras de poupança que deve apreender e ensinar

Ensinar as primeiras regras de poupança

«Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável», disse Séneca, filósofo romano. Trace o seu destino para 2016 e faça uma boa navegação! Entre os diversos princípios de aforro, existem alguns que devem ser introduzidos desde tenra idade. «Aquilo que mais quero que os meus filhos saibam é que a riqueza não se mede pela nossa conta bancária mas pela liberdade que nos proporciona», refere.

«O dinheiro não substitui as coisas que são realmente importantes e há muitas coisas que não consegue comprar», acrescenta ainda. Simultaneamente, convém ensinar que «a poupança é a partir de um cêntimo e não é preciso esperar por grandes valores para começar a economizar». Se procura um produto de aforro para salvaguardar o futuro dos seus filhos, tenha em linha de conta a fase em que se encontra na sua própria vida.

«Se estivermos a falar de poupança que reverterá para os filhos, é recomendável investir em produtos com risco se o prazo de investimento for alargado (mais de 5 anos). Já se os pais estiverem perto da velhice, poderão pensar em investimentos sob a forma de seguro de vida, que são bastante eficientes em termos fiscais», indica ainda o especialista em finanças pessoais.

4 recomendações essenciais

O também autor do livro «Como Acabar com as Dívidas Pessoais e Familiares» recomenda, ainda, quatro dicas infalíveis para aumentar a sua saúde financeira em 2016:

- Renegociar contratos de créditos e seguros

- Fugir aos contratos de fidelização

- Repensar os ginásios e outros serviços que paga e dos quais não usufrui

- Estudar sobre dinheiro. «Mas só um pouco porque há coisas mais importantes na vida», sublinha o especialista.

Texto: Maria Ribeiro com Luis Batista Gonçalves (edição internet)