É polaca e toca fado com o violino, uma sonoridade que surpreende e encanta tudo e todos.

Veio de férias a Portugal há mais de 12 anos e encantou-se pelo fado. Tanto que uns meses depois regressou ao nosso país e nunca mais voltou à sua terra natal. Natalia Juskiewicz nasceu na Polónia onde aprendeu a tocar violino aos sete anos. Hoje usa o violino como se fosse a voz do fado.


Veio de férias a Portugal com os seus pais há quantos anos?
Há perto de 13 anos. E, como todos os turistas fazem, fomos a uma casa de fados em Alfama, e, mesmo sem conhecer a língua, fiquei muito comovida e sensibilizada. Aqueles artistas conseguiram passar a mensagem do que é mais importante no fado: a emoção e os sentimentos.

Nunca tinha ouvido falar do fado antes?
Já. O fado tem muitos admiradores na Polónia. Aliás fazem-se lá muitos concertos dos melhores artistas portugueses e, curiosamente, antes de vir para Portugal vi um concerto na televisão do Carlos do Carmo em que conseguiu entusiasmar o público com o refrão de Lisboa Menina e Moça... Esse sim, foi o meu primeiro contacto com o fado!

Começou a aprender violino com que idade?
Com sete anos. Fiz toda a edução musical que terminou com o mestrado em violino. Durante muitos anos colaborei com várias orquestras, e, já em Portugal, trabalhei com todas as orquestras e fiz concertos de música de câmara.

Chegou a Portugal há quantos anos?
Há 12. Pouco depois das férias em Portugal com os meus pais, senti um chamamento muito forte e voltei logo de seguida. Entretanto, recebi um convite da Orquestra do Norte e nos primeiros meses vivi no norte de Portugal. Pouco depois, vim para a zona de Lisboa onde ainda hoje me encontro. Aqui toquei com a Orquestra Metropolitana de Lisboa e a Orquestra Sinfónica Portuguesa, entre outras.

Um Violino no Fado nasceu há quanto tempo?
Há cerca de dois anos. Não comecei a tocar fado logo no início da minha estada em Portugal, porque precisei destes anos todos para amadurecer. Este é um projeto que necessita de experiência de vida, e da vivência de vários sentimentos para poder expressá-los de uma forma verdadeira.

Saiba mais na próxima página

O que é mais extraordinário no seu projeto é que parece que o violino está a cantar...
O violino é um instrumento muito especial porque é o único que consegue imitar a voz humana. E, como já disse, desde o início fiquei fascinada com as vozes maravilhosas dos fadistas portugueses. Por isso, canto com o violino acompanhada com viola e guitarra portuguesa.

A sua imagem é muito elegante. Quem a veste?
É a estilista Cristina Lopes. Para mim, os seus vestidos transmitem toda gama das "cores" do fado. Desde o início que tive o privilégio de estabelecer com ela uma boa afinidade. A Cristina tem um talento enorme e muita criatividade.

Já tocou violino com algum fadista?
De facto, sim. No ano passado convidei o fadista Jorge Fernando para participar no concerto organizado no âmbito da Presidência Polaca no Conselho da União Europeia e no final surpreendemos o público com uma atuação conjunta. Também tive a oportunidade de, na passada Gala Amália, no dia em que se comemorou o Fado como Património Imaterial da Humanidade, dividir o palco com grandes fadistas como o Camané e o Ricardo Ribeiro, entre outros, e posso dizer que foi maravilhoso.

O seu Violino no Fado foi bem aceite?
Muito bem. Até os puristas do fado me deram o maior apoio e encorajamento para gravar o meu primeiro disco.

Teve aulas de português para falar tão bem a nossa língua?
Não, aprendi tudo sozinha. Leio e pratico muito com os meus amigos portugueses e até já tive experiência na tradução do português para o polaco e vice versa.

Os seus amigos são maioritariamente portugueses?
Sim. Tenho alguns polacos, mas a maioria são portugueses.

Os seus acompanhantes à guitarra e à viola são sempre os mesmos?
Tenho vários músicos com quem colaboro, mas há dois com quem trabalho mais frequentemente.

Está aberta a todo o tipo de convites?
Sim, essa é uma das vantagens de ter uma atividade artística. Como exemplo, posso dizer que já participei num espetáculo fantástico, na China, a convite do Instituto Português de Macau e da Orquestra Nacional Chinesa, organizado no âmbito das comemorações dos 500 anos da presença portuguesa no Oriente. Foi uma experiência única, uma vez que os músicos da orquestra tocaram com instrumentos tradicionais chineses.

Saiba mais na próxima página

Que grande fusão...
É verdade, uma polaca a tocar fado acompanhada por instrumentos chineses. Foi uma experiência extraordinária.

Como é que as pessoas a podem convidar para um espetáculo?
Através do meu site: www.nataliajuskiewicz.com , que inclui os links dos vídeos, ou pesquisar no Google: Natália, Um Violino no Fado.

Vai regularmente à Polónia?
Vou lá uma vez por ano, e os meus pais e a minha família também costumam visitar-me. Normalmente passam aqui várias semanas e adoram Portugal.

Adaptou-se bem a Portugal e aos portugueses?
Sim, muito bem, posso dizer que me sinto em casa.

Já não pensa voltar à Polónia?
Nunca se sabe o que a vida nos reserva, mas neste momento não penso nisso, ainda estou a desenvolver muitos projetos. Em breve vai sair a segunda edição do meu disco que inclui novos temas.

Qual é o seu maior sonho?
Obviamente gostava de divulgar o meu trabalho ainda mais em Portugal e também fora. Adorava viajar muito e fazer também concertos no estrangeiro.

Um momento que lhe tenha dado muito prazer?
Para mim foi uma honra fazer parte da Antologia do Fado, da editora Seven Muses, que integra dois CD de fado, um de fado tradicional e outro de fado contemporâneo, e eu sou a única estrangeira que faz parte deste projeto./p>

Também recebeu um prémio?
Foi-me entregue em 2010, na XVIII Gala de Leiria. Recebi o prémio Melhor Projeto do Ano e Revelação do Fado. Foi uma grande surpresa e uma enorme alegria.

Está bem com vida?
Estou muito bem. A vida tem-me dado tudo o que sempre desejei.

 

Texto: Palmira Correia