É enóloga da Murganheira desde que pediu um estágio na maior empresa de vinhos e espumantes do país. Foi aí que se apaixonou pelo filho do patrão, com quem se casou e de quem tem uma filha com dois anos.

Marta Lourenço tem 31 anos. Apesar de ser engenheira, sonhava ser terapeuta ocupacional e trabalhar com crianças deficientes. Este projeto dissipou-se definitivamente quando participou na sua primeira vindima, no Douro. E também quando desenhou um espumante a partir da casta Chardonnay, que lhe valeu, em 2012, as melhores criticas pelos críticos mais considerados dos vinhos. Hoje, Marta ama tanto o que faz que já não se imagina a fazer outra coisa na vida.


O que faz nas Caves da Murganheira?

Faço de tudo um pouco. Quando se pertence à família dos proprietários, não há limites para a nossa participação, mas essencialmente eu e o meu sogro somos responsáveis pela enologia.


O produto final é da sua responsabilidade?

Sim. Controlo o processo desde a vinha, até ao momento em que entra na adega, a transformação da uva em vinho e depois fazemos as provas para a formação dos lotes, segue-se a transformação do vinho em espumante e, finalmente, a prova dos espumantes.


Qual é a sua formação académica?

Sou engenheira alimentar. Fiz o bacharelato em tecnologia de vinhos e a licenciatura em controlo de qualidade alimentar. Toda a minha formação foi na área dos vinhos.


Trabalha na Murganheira há quanto tempo?

Fiz a primeira vindima aqui em 2006. Depois fui trabalhar uns tempos para Barcelona para aprender outras coisas.


É das raras enólogas no espumante do Douro?

Acho que sou a única. E não foi fácil no início... Demorou algum tempo até ver o meu trabalho reconhecido.


Consegue conciliar o trabalho com uma bebé tão pequenina?

Sim. Conto com a ajuda dos meus sogros que têm sido uma ajuda inexcedível. Também temos uma quinta no Alentejo que é a Tapada do Chaves, onde estou a 100 por cento e por isso vou lá todas as semanas supervisionar as coisas. No Alentejo para além dos espumantes também fazemos vinhos brancos e vinhos tintos.

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Trabalha todo o dia com vinhos. Já se embriagou?

Só na juventude. A trabalhar nunca me aconteceu. Nas provas trago o vinho e mantenho-o na boca durante algum tempo, é natural que depois de provar muitos vinhos fique algum teor alcoólico no sangue, mas nunca me senti inebriada.


Já soprou no balão?

Só uma vez mas não acusou nada.


O que lhe dá mais prazer no seu trabalho?

A vindima. Costumo dizer que amo o que faço, mas nada supera a vindima. Adoro aquela azáfama.


Essa paixão já vinha de trás?

Não, a minha família não tinha nenhuma ligação ao vinho, e quando era mais nova fiz voluntariado durante seis anos com associações de crianças deficientes profundas em Coimbra, e queria muito ser terapeuta ocupacional.


Então porque estudou tudo o que era relacionado como vinho?

Porque tive uma professora que gostou muito de mim e me incentivou a fazer uma vindima de um amigo na adega Casa de Santa Vitória, que é uma adega em Beja. O enólogo de lá, o Eng.º Bernardo Cabral disse-me que eu tinha todo o jeito do mundo e motivou-me imenso a continuar.


Foi responsável por ter mudado o rumo da sua vida?

Sem dúvida. Eu até já me tinha matriculado em horto-fruticultura, e agora até brinco a dizer que nesta altura andava a cozer cenourinhas, mas depois daquela vindima optei por ser enóloga.


É natural de que região do pais?

De Arganil. Vim para o Douro para fazer o estágio na Raposeira e fiquei a morar cá definitivamente quando me casei com meu marido.


Também acompanha as visitas dos estrangeiros às caves?

Quando são visitas técnicas faço eu, o meu marido ou o meu sogro. O meu marido embora também seja enólogo é diretor de produção e está mais direcionado para a expedição final do produto. Eu estou ligada à produção.


Esta é mesmo a sua vocação?

Completamente. Já não me imagino a fazer outra coisa na vida.


O que a diverte?

A minha filha. Adoro brincar e passear com a minha filha. Quando era mais nova fazia ginástica acrobática.


Recebe amigos em casa?

Tenho um grupo de amigos de que gosto muito e tenho o maior prazer em cozinhar para eles, e até acho que cozinho bem.


Ainda vê os seus amigos da adolescência?

Vejo com regularidade os amigos da faculdade, aliás, o meu padrinho de casamento foi um amigo de faculdade e pelo menos de três em três meses estamos juntos em minha casa em jantares muito divertidos.


Sente-se realizada?

Completamente realizada. Posso dizer que sou muito feliz com o meu trabalho!

 

Texto: Palmira Correia