É formada em Química mas começou por trabalhar com coleções. Hoje, assume-se como designer com a sua marca que também é o seu nome: Jaqueline Roxo.

A marca começou em 2003 e nunca mais parou de crescer. O passo seguinte é desenhar os próprios tecidos.


O seu gosto pela moda começou quando?

Há muito tempo. Quando era pequena já gostava muito de padrões e, ao contrário das outras crianças que pintavam cores sólidas, eu fazia padrões porque achava muito mais giro desenhar xadrez ou riscas do que pintar tudo de encarnado ou amarelo.


Qual é a sua formação académica?

Sou formada em Química. Embora a minha formação não tenha nada a ver com a minha atual atividade, tudo começou por uma brincadeira quando fui ajudar uma amiga que já tinha uma empresa com uma dimensão considerável que importava coleções de grandes marcas internacionais.


O que fazia na empresa da sua amiga?

Comecei por trabalhar com peles. Rapidamente quis melhorar e fui estudar para a Grécia todo o universo das peles. Foi lá que tirei o curso de design de moda &peleteria, em Kastoria/Salónica, a região do país onde se faz a manufatura das peles. Quando voltei para iniciar a atividade em Portugal, percebi que a pele é uma atividade sazonal e por isso não era possível trabalhar o ano inteiro só com peles.


Para além de ser monótono...

Exatamente. Tive necessidade de variar e ainda mais porque as minhas clientes gostavam tanto do meu trabalho em peles que começaram a pedir-me para fazer outras peças ao longo do ano. Foi assim que o meu atelier começou naturalmente a crescer, sem que eu tivesse programado esse crescimento.


O espaço de trabalho ainda é o mesmo?

Não. O meu atelier inicial, nas Laranjeiras, era muito pequeno e por isso mudei-me para umas instalações maiores onde divido a oficina das peles com os têxteis. As máquinas e os materiais são tão diferentes que tenho de ter o espaço literalmente separado para conseguir funcionar.


E assim a sua empresa foi tomando o seu rumo?

Neste momento, o têxtil domina, porque de verão ou de inverno a pessoa tem sempre necessidade de ter roupa e a pele, como complemento que é, transformou-se na nossa atividade secundária.


As suas peles vendem-se exclusivamente no seu atelier ou também noutras lojas?

Só no meu atelier.


Quantas pessoas emprega?

Cinco o ano inteiro e quando temos fluxos muito grandes de trabalho também contrato pessoas temporariamente.


A sua marca começou há quanto tempo?

Em 2003 com as peles, mas o grande boom dá-se em 2006 quando mudei para as instalações atuais, em Telheiras.


Qualquer mulher que queira fazer um fato para um momento especial ou para todos os dias pode ir ter consigo?

Claro que sim e homens também. Há dois anos fizemos uma formação em alfaiataria clássica, e, neste momento, temos capacidade de resposta para roupa masculina, em que só trabalhamos com tecidos muito bons. No início deste ano também começámos a desenvolver a Kids Culture, uma linha de festa para crianças que está a ter uma excelente recetividade.

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É difícil vestir as crianças para as festas?

A Kids Culture é um sucesso. Os pais gostam e as crianças adoram. A nossa linha contraria tudo o que as outras marcas fazem. Uma criança não tem que se vestir como os adultos, porque, para além de ser estranho, é desconfortável. Podemos dar o toque de festa sem deixar de pensar no conforto da criança.


Trata de tudo sozinha?

Sou uma empreendedora daquelas que sofrem. Mas, não me posso queixar. Apesar de as coisas não estarem fáceis, até agora nunca parámos. Até ao ano passado, tínhamos trabalho em agenda para dois meses; agora temos trabalho preenchido para três semanas.


E se uma pessoa chegar ao seu atelier a pedir um fato para daqui a três ou quatro dias?

Conseguimos sempre encaixar. O atelier trabalha das oito da manhã às oito da noite o que nos dá uma enorme flexibilidade.


Faz tudo numa peça de roupa?

Tudo. Aceitamos mudar um botão até à criação do mais sofisticado vestido de noiva. Em setembro apresentámos a nossa Coleção Noivas no Hotel Pestana da Cidadela de Cascais.


Uma coleção que sai do padrão normal...

Foi a pensar nas noivas dos segundos e terceiros casamentos. Quisemos sair um bocadinho fora da caixa, e, em vez do tradicional vestido tipo dama de honor, criámos vestidos femininos e arrojados com mais cor, e apresentámos mesmo outras alternativas como calças plissadas com blazer branco.


Qual é o seu trabalho no atelier?

Um pouco de tudo mas concentro-me mais na organização do Atelier, nas ilustrações e escolhados materiais.


Compra os tecidos em Portugal ou no estrangeiro?

Vou à Première Vision duas vezes por ano a Paris, onde faço as encomendas dos tecidos que se vão usar no ano seguinte, e tenho alguns fornecedores em Portugal.


É muito caro mandar fazer um fato no seu atelier?

Ao contrário do que as pessoas pensam mandar fazer um fato por medida não sai mais caro e é exclusivo. O preço final depende essencialmenteda matéria prima aplicada, porque o preço da confeção é sempre fixo. No atelier tenho tecidos desde 20€, até tecidos Valentino e Ungaro, a 300€ o metro.


A cliente pode levar os tecidos?

Pode. Temos muitas clientes que viajam e trazem tecidos de fora, desde sedas a tecidos étnicos que fazem peças maravilhosas, assim como tecidos bordados e muitos outros. Nesse caso paga só a confecção.


Qual foi a peça mais exuberante que fez até hoje?

Uma noiva a quem fizemos o vestido pediu-nos para fazermos o colarinho e o papillon para o cão e um vestido para a cadelinha. E eles entraram com a noiva no copo de água vestidos a rigor. Já este ano, uma saia de um vestido de noiva em organza com flores cravejadas de cristais Swarovsky, levou 90 metros de organza e pesava 14 quilos. Para a saia ficar armada, o saiote teve de ser em aço e foi encomendado a um serralheiro.


Quem são as suas clientes?

Tenho clientes de todas as idades de Lisboa, de fora de Lisboa e do estrangeiro.


Faz um orçamento prévio de todas as peças?

Sempre, nem que a cliente só queira um top.


Trabalha muito?

No mínimo, 14 horas por dia!


Qual é o passo seguinte?

Desenhar os próprios tecidos. Ainda estou numa fase embrionária, mas vou ter padrões exclusivos.


O que a distrai?

As minhas filhas. Faço muitos programas com elas.


Um hobby?

Adoro ler...


O que lhe tira o sono?

Qualquer problema com as minhas filhas.


O que a faz rir?

Tenho o riso fácil, qualquer disparate me faz rir.


O seu maior sonho?

Ter saúde.


Está bem com a vida?

Muito bem, sou feliz.

 

Texto: Palmira Correia