Chama-se Maria João mas até se esquece que esse é o seu nome de batizado. É conhecida por Ginha e ela gosta, tanto que até já foi nome da sua primeira loja de roupa, na Lapa.

Agora a sua loja chama-se Opium e fica na Alameda das Lindas de Torres, no Centro Comercial do Lumiar. Esta mulher nasceu para trabalhar com moda.

Nasceu e estudou onde?

Nas Caldas da Rainha. Vim para Lisboa com 20 anos para trabalhar. Primeiro fui secretária e depois trabalhei em contabilidade. Trabalhava durante o dia e estudava à noite, a tirar o curso de contabilidade.

Não durou muito tempo essa sua ligação aos números?

Não. Era tão fascinada por moda que rapidamente fiz o que sempre sonhei: abri uma boutique na Lapa que se chamava a Loja da Ginha, há mais de 30 anos. Era uma loja muito especial naquela altura.

Onde ia buscar a roupa?

A Londres. Fui uma das pioneiras a ir buscar roupa a Londres, Paris e Itália. Ia imensas vezes, em média de 15 em 15 dias. Não comprava cá nada, trazia tudo de fora e só vendia praticamente peças únicas.

Logo a seguir diversificou o seu trabalho?

Fiz revenda durante muitos anos. Ou seja, continuei a ir buscar roupa fora de Portugal e vendia para outras boutiques. Nessa altura cheguei a ter várias lojas mas como o showroom me ocupava muito tempo, acabei por fechar as lojas para me dedicar a tempo inteiro à revenda. Este negócio ocupou-me cerca de 20 anos. A única loja que resta dessa altura é esta do Lumiar que já está aberta há 28 anos.

Esta loja chama-se Opium. Porque deixou de se chamar a Loja da Ginha?

Porque a empresa passou a ter outro nome. A Loja da Ginha era uma marca para minha satisfação pessoal porque era o nome com que os meus amigos me batizaram e eu achava o máximo ter uma loja com o meu nome.

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Tudo porque gosta de moda?

Adoro. Gosto muito de ler a personalidade do ser humano e trabalhá-la. O melhor do meu trabalho é dar as melhores dicas para as pessoas se vestirem bem. Ver as transformações é o que me dá mais prazer.

Adoro quando chega aqui uma mulher mal vestida e sai daqui completamente diferente e feliz com ela. Por dentro e por fora e começar a trabalhar para ela se modificar não só por fora, vestuário e cabelo, mas também por dentro.

Há pessoas que confiam cegamente em si?

Completamente. Tenho clientes que só vestem a minha roupa e especialmente o que eu lhes recomendo. Por isso é que eu mantenho esta loja pela clientela fiel que eu tenho. Algumas clientes só vêm à loja quando eu estou, apesar de a minha funcionária já estar na loja há 28 anos...

A sua roupa é especial?

Conhece-se em todo o lado.

Quando vai comprar roupa fora escolhe roupa para determinadas clientes?

Quando faço as minhas compras, direcciono-as às minhas clientes. Tenho um número certo de pessoas para quem escolho roupa todas as vezes que vou fora. Já sei os números que elas vestem e compro a pensar nessas pessoas.

Geralmente gostam das suas escolhas?

Ficam sempre com tudo.

Já alguma vez mandou fazer peças de roupa para alguém?

Muitas vezes. Como gosto muito de criar, desenho a peça e mando fazer a duas modistas que trabalham comigo. Claro que, neste caso, tem de ser uma coisa que justifique porque já há coisas tão bonitas que só muito raramente vale a pena.

Como se atualiza com a moda?

É muita intuição. Raramente se vê nas revistas moda para o dia a dia. Os grandes costureiros fazem passagens de modelos que são espetáculos para as grandes ocasiões e eu trabalho sobretudo o chique moderno para o dia a dia, mas se me pedirem uma toilette para um momento especial também sei muito bem recomendar as peças mais adequadas. Sou capaz de vestir uma mulher tipo Ives Saint Laurent a um décimo do custo.

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Tudo porque tem gosto?

Considero-me uma pessoa com gosto e muita imaginação. Mas a minha melhor caraterística é saber ler o carater e a personalidade da pessoa que tenho à frente. A psicologia é muito importante.

Faz amigas na sua loja?

Tenho confidentes. As pessoas vêm ter comigo para desabafar. Costumo dizer que esta loja é o muro das lamentações. Essa é a parte humana do meu negócio que eu gosto. Se fosse só uma relação de compra e venda se calhar não tinha esta loja há 28 anos e as mesmas clientes…

Continua a comprar a sua roupa fora?

Sempre. Agora vou a Itália, Espanha e Paris, apanho um pouco de todas as tendências. As minhas peças são escolhidas com o coração. Continuo a escolher peça por peça, uma a uma, e nunca tenho nada repetido. A minha loja não funciona com números repetidos, e é isso que a distingue.

É por isso que as suas clientes se mantêm fiéis?

Elas sabem que não vão ver o que compram aqui em mais lado nenhum.

E como é que consegue ter preços tão acessíveis?

Graças à procura, ao trabalho e à pesquisa exaustiva que eu faço. Tenho vestidos que oscilam entre os 50 e os 200 euros, e mesmo um vestido de toilette raramente ultrapassa esse valor.

A crise tem feito muitos estragos?

Muitos. E temos sido terrivelmente prejudicados pela proliferação das lojas chinesas. As pessoas têm de fazer opções mas há alturas na vida em que não dá mesmo para fazer. E vamos lá ver se isto não vai piorar…

Que idades têm as suas clientes?

Tenho pessoas de todas as idades. E isso é muito engraçado. No início comecei com as mães e agora já estou com as filhas e até algumas netas.

A sua filha também veste a sua roupa?

Só veste a minha roupa e adora. A minha filha tem 29 anos, já teve uma loja mas neste momento trabalha na PT enquanto está a terminar o curso de Arquitetura.

Está preocupada com a crise?

Muito, mas não é por mim. É pela minha filha e pelos que vêm atrás.

As rugas incomodam?

Nem por isso. Temos de aceitar o envelhecimento com naturalidade. Uma mulher sem rugas parece que a vida não passou por ela.

Está feliz com o seu trabalho?

Muito, sinto-me verdadeiramente realizada. Adoro ajudar as mulheres a ficarem mais bonitas e a sentirem-se mais felizes.

Texto: Palmira Correia