A primeira vez que pôs o pé numa prancha de surf tinha 13 anos. Foi no mar da que é conhecida como praia do CDS, na Costa da Caparica, às portas de Lisboa.

Hoje, e com o canudo do curso de gestão e economia na Nova School of Business and Economics da Universaidade Nova de Lisboa, é o trabalho que dita as regras, mas Francisca Santos jamais desiste da sua paixão, o surf.

Aos 24 anos, a gestora de redes sociais na Portugal Telecom (PT) tem como praia preferida a de Ribeira d'Ilhas, nos arredores da Ericeira. Os seus surfistas preferidos são duas mulheres, estrangeiras, Carissa Moore e Stephanie Gilmore. «Acho que, em Portugal, o surf feminino é bastante falado e temos boas condições para evoluir», considera, contudo Francisca Santos.

Como entrou nesta aventura?

Na altura, os «Morangos com Açúcar» [série de televisão juvenil transmitida pela TVI] rodavam à volta do surf e havia uma rádio, a Mega FM, que estava a oferecer aulas de surf ou qualquer coisa do género e a minha irmã mais velha acertou [na resposta do passatempo] e foi. Adorou! Comecei a ir aos fins de semana com as minhas irmãs, os meus primos e os meus amigos para a praia e ganhei o bichinho.

Frequentou aulas de surf?

Tive aulas no verão e, no inverno, durante o fim de semana. Depois houve um evento, o Aloha Girls, que juntava miúdas que queriam experimentar o surf. Durante o evento, houve um campeonato amador, no qual entrei e ganhei logo. E recebi uma prancha! Foi o ponto de viragem para mim.

O seu dia a dia é um pouco diferente do quotidiano dos jovens da sua idade que não praticam surf ou outro desporto…

Até aos meus 23 anos, levava as coisas muito a sério porque, na verdade, era o meu trabalho. Era paga para treinar e ir aos campeonatos. Tinha cuidado com a alimentação e com o meu estilo de vida. Acordava sempre cedo, não saía muitas vezes à noite… Além do surf, treinava num ginásio. É muito importante o fator ginásio como complemento. É preciso fazer exercícios físicos específicos, para levantarmos a prancha, para nos aguentarmos mais no mar.

Fale-me sobre a época mais promissora da sua carreira…

Foi entre os 18 e os 21 anos. Tinha acabado de entrar na faculdade, mas pu-la um bocadinho de lado, para dedicar-me às competições internacionais. Consegui resultados bons, que me iam dando força para continuar, porque é uma vida um pouco difícil. Perdemos, andamos de um lado para o outro… Arranjei um grupo de brasileiras e francesas, com quem me dava muito bem, viajávamos juntas e complementávamo-nos, de certa forma, embora competíssemos entre nós. Foi importante desligar-me de Portugal e conhecer os campeonatos de lá de fora.

O apoio dos pais é fundamental neste percurso do surf?

Os meus pais sempre tiveram uma mente aberta em relação ao surf desde que continuasse a estudar, também porque tinha os meus patrocínios.

Em que praias gosta de fazer surf?

Na Austrália, na Indonésia e nas Maldivas.

Quais são os melhores spots?

Na minha opinião, a Indonésia é, sem dúvida, o melhor palco para o surf, mas também não conheço tudo.

Aproveitava as viagens para conheceres melhor os países onde estava?

Quando estava em campeonatos, perguntavam-me quantas vezes já tinha estado na Austrália, mas eu estava ali com um propósito. Contudo, se desse para fazer, boa! Se não, tínhamos de ficar na praia a treinar e a surfar…

E, por cá, onde costuma ir surfar?

Na Costa da Caparica, no Guincho ou na Ericeira, para onde vou para passar uns dias.

Traçou muitos objetivos para 2014?

É um ano um pouco diferente, porque estou a trabalhar. Porém, não quero de todo pôr de lado o meu estilo de vida saudável e a vida de praia que sempre tive e gosto de ter. O meu objetivo é tentar acompanhar as etapas do circuito nacional da Liga Moche. Talvez vá à final nas competições da Liga Moche.

Que planos gostaria ainda de concretizar?

Gostava de poder dar a experiência que tive a pessoas de quem gosto e que as raparigas, em Portugal, levassem mais a sério o surf do que eu levei, como a Teresa Bonvalot, para irem mais longe.

Quais as competições mais importantes em que já entrou?

As mais importantes são as WQS [World Qualifying Series] de seis estrelas. São circuitos de qualificação que há no mundo inteiro, para nos qualificarmos, em ranking, para um campeonato mundial e, quanto mais estrelas tiveres até aos seis, mais difícil se torna. Quando participava num WQS de seis estrelas e chegava a um novo lugar, era já uma ótima qualificação. Só consegui chegar uma vez e fiquei muito contente! Eram campeonatos que nos faziam perceber que tínhamos de treinar muito e fazer sacrifícios para continuar esta vida de surfista.

Depois do episódio com a Maya Gabeira, na praia do Norte, na Nazaré, em outubro de 2013, passou a olhar para o mar de outra forma?

Não me aventurava, porque é preciso ter uma condição física muito exigente e muito treino, mas continuo a encarar o mar da mesma forma. Tenho sempre cuidado e não costumo entrar sozinha. Se estivesse preparada, gostaria, de um dia, meter-me numa daquelas aventuras, mas é preciso muito esforço e dedicação.

O incidente protagonizado pela surfista brasileira fez com que o surf no feminino passasse a ter mais impacto no país?

Acho que, em Portugal, o surf feminino é bastante falado e temos boas condições para evoluir. Porém, o facto da Maya Gabeira ter ido à Nazaré para surfar naquelas ondas mostrou que as raparigas também fazem aquele tipo de surf e não apenas o [Garrett] McNamara. Se calhar as pessoas pensam de outra forma quando, agora, vêem uma rapariga a surfar.

Até onde a leva o surf?

Leva-me a várias culturas… Acordo e sei que a vida pode ser muitas coisas que nós queremos.

Texto: Patrícia Serrado