Num mundo perfeito, o estado de graça das relações que se vive durante a organização do casamento seria eterno. Homens e mulheres casavam-se, tinham filhos e viviam felizes para sempre. Porém, a realidade nem sempre é tão graciosa com os grandes romances e anos mais tarde podem acabar cada um para seu canto e a assinar um contrato de divórcio, colocando um ponto final naquela que um dia já foi uma bela história de amor. Uma das causas principais para as separações é o dinheiro.

De acordo com o estudo “Examining the Relationship Between Finantial Issues and Divorce”, elaborado pela Kansas State University e publicado no jornal norte-americano “Journal Family Relations”, os problemas financeiros são uma das principais causas de discórdia entre casais. O estudo é norte-americano, mas as questões financeiras também abalam as famílias portuguesas, sendo uma das principais causas do problema de sobre-endividamento em terras Lusas. De acordo com a Deco – Associação de Portuguesa para Defesa do Consumidor, 30% dos pedidos de ajuda por sobre-endividamento são suportados por apenas uma pessoa: solteiro ou divorciado.

Embora não existam soluções milagrosas para todos os casos, há algumas questões que deverão ser debatidas muito antes de dizer o “sim” perante o padre, familiares e amigos ou decidir “juntar os trapinhos”. O amor tem uma palavra a dizer, mas a união entre duas pessoas deve começar por uma análise dos valores e objetivos que o casal tem e depois extrapolar para as questões financeiras.

Organizar antes de casar

“A união de duas pessoas é uma altura de mudança e como tal, do ponto de vista financeiro, deve ser planeada e alinhada”, afirma Pedro Queiroga Carrilho, autor do livro “O Primeiro Milhão para Casais”, em declarações ao Saldo Positivo. Antes de dar o nó, o mais importante é o casal analisar as despesas e objetivos em função da altura de vida em que se encontra. “Por exemplo, um casal jovem sem filhos deverá planear as suas finanças de forma diferente de um casal que já tem filhos de outro casamento”, prossegue o especialista em finanças pessoais.

Uma boa forma de começar é definir os objetivos futuros e o orçamento para o ano que está para vir, assim como outras despesas relevantes e duradouras, como um automóvel ou o empréstimo para casa. O orçamento familiar deve ser organizado por categoria de despesas: “Saber quanto terá de ganhar para pagar as despesas que constam no orçamento é importante e dá previsibilidade para o futuro”, explica o autor.

Outra questão importante é perceber se a outra metade da relação já tem créditos ou outros compromissos financeiros a seu cargo que possam vir a afetar a estabilidade económica do casal. “Esses temas deverão ser falados abertamente. O mais importante é a comunicação e falar sobre dinheiro, não o vendo como um tabu”.

Erros financeiros mais cometidos

Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, ambos passaram a contribuir para os rendimentos que entram e a ter uma palavra a dizer na gestão das finanças caseiras, algo que nem sempre é pacífico e pode gerar incompatibilidades. “Não gosto de falar de erros financeiros, pois cada pessoa é diferente e nas finanças pessoais não há erros, mas sim coisas que funcionam e não funcionam tão bem. Prefiro falar de mitos”, diz Pedro Queiroga Carrilho.

Evitar conversas sobre dinheiro é o principal mito. Apesar das conversas sobre finanças não constarem nos tópicos preferidos dos casais, estas não devem ser evitadas e até podem ser fomentadas. “O dinheiro é um grande tabu na nossa sociedade, os casais mais felizes e bem-sucedidos financeiramente reconhecem a importância das conversas sobre dinheiro e aceitam-nas como algo natural”, prossegue o autor do “Primeiro Milhão para Casais”. Portanto, falar de dinheiro sem preconceitos é essencial para estabelecer objetivos de vida. Adiar os assuntos delicados e não fazer nada poderá gerar o efeito “bola de neve” e aumentar os problemas económicos do casal, levando a uma possível rutura.

O segundo mito indicado pelo especialista prende-se com o que os membros do casal valorizam, que nem sempre gera concordância. “É muito provável que os elementos do casal tenham sido criados de forma diferente, com visões diferentes de dinheiro. É por isso que gastam dinheiro e valorizam-no de modo diferente”, diz Pedro Queiroga Carrilho. Estas questões devem ser debatidas durante a elaboração do orçamento familiar, destinando uma fatia do orçamento para as coisas em que cada um gosta de gastar dinheiro.

Contas conjuntas ou separadas?

Esta é uma questão bastante debatida pelos casais e nem sempre consensual. “Os casais devem ter um método que funcione para ambos”. Alguns pares partilham todas as despesas e receitas, outros não partilham nada e outros preferem dar tudo a um elemento do casal para gerir.

Numa situação equilibrada deverá haver espaço para as duas coisas, cada membro tem uma conta pessoal e depois existe a conta partilhada, de onde saem as despesas comuns e poupanças. “Já foi demonstrado por vários estudos que cada elemento do casal deve ter a sua conta bancária separada assim como terem pelo menos uma conta conjunta”, explica. “Isto é vantajoso do ponto de vista individual, pois podem manter na sua conta individual despesas que a só um membro digam respeito, enquanto as contas conjuntas são utilizadas para as despesas do casal, planeamento a dois e poupança conjunta”, prossegue.

Três regras de ouro de casais financeiramente saudáveis:

1. Planear. Traçar um orçamento anual das suas despesas e principais gastos para o ano vindouro.

2. Pagar primeiro a si. Colocar de lado uma percentagem das suas receitas, logo que recebe um rendimento ou no início do mês.

3. Controlar entradas e saídas de dinheiro. Ter um mapa cash-flow ou uma forma de controlar as despesas é essencial para materializar e mostrar onde se está a aplicar o dinheiro