É algo intrínseco à maioria dos seres humanos e nós, portugueses, somos especialmente bons nisso. Somos naturalmente avessos à mudança mas, como já o demonstrámos, temos uma enorme capacidade de nos (re)adaptar e os últimos anos são a melhor prova disso. Mesmo que não o saibamos ou não tenhamos essa perceção, essa é verdade e não há como o negar. Pense um bocadinho e verifique lá se não é assim?

Os muitos anos de experiência clínica de David Posen, médico, psicoterapeuta e uma referência quando o assunto é gestão de stresse, demonstraram-lhe que, neste contexto, a atitude é tudo e que a pergunta certa, quando o cenário muda ou se altera drasticamente, não é «O que vai acontecer?» mas «O que posso fazer para isto correr da melhor forma possível?», sublinha o especialista.

É precisamente o que nos ensina no livro «Manter-se à tona em tempos de crise» que, segundo o autor, «fala de se manter em jogo, de decidir ajustar-se e de encontrar formas de minimizar o desconforto e maximizar as oportunidades». Descubra o que deve fazer através de excertos deste verdadeiro guia anticrise, para a esfera pessoal e profissional, editado em Portugal com a chancela da editora Livros de Seda.

Estas são as recomendações que David Posen recomenda para os períodos de maior austeridade e para todos os outros:

- Comprometa-se com a mudança

«Quando vir pessoas a responder a situações de mudança com empenho, provavelmente sentirá admiração e até inveja por elas. Talvez até diga algo como gostava de ser assim. A questão é que pode ser. Tem de encontrar paixão, mas pode optar por ter empenho», sugere David Posen. Este tipo de comportamento tem uma vantagem.

«Se estiver disposto a ser uma agente do processo de mudança, pode conseguir planear e tomar decisões. Pode ter uma palavra a dizer e quem sabe até influenciar o que está a ser proposto ou o que acabará por acontecer. Isso também aumenta a sensação de controlo. São boas recompensas por se atirar de cabeça», sublinha o médico especialista em gestão de stresse.

- Encare a mudança como um desafio

«Quando as coisas ficam difíceis, [os resistentes] não começam a perguntar o que virá aí e a dizer que é impossível, que não consegue lidar com aquilo. Em vez disso, arregaçam as mangas e dizem que agora é que as coisas vão ficar interessantes ou tentam ver o que conseguem fazer antes de a mudança acontecer», afirma David Posen.

«Olhar para as dificuldades como desafios é um estado de espírito, não uma competência», enfatiza. «É um ponto de vista, uma perspetiva que pode ser aprendida», acrescenta ainda. «As pessoas resistentes à mudança encontram formas de tornar qualquer tarefa interessante. Transformam-na num jogo ou numa competição, fazem experiências para encontrar formas de tornar o trabalho mais eficiente», salienta.

- Seja autoconfiante

«As pessoas resistentes acreditam em si próprias. Sabem que podem aprender a fazer as coisas bem, que podem ser bem sucedidas. Quer se baseie no sucesso passado ou numa sensação inata de confiança, esta última é um farol que ilumina o caminho», considera o especialista. «Pode-se criar confiança na forma como se fala para dentro», sublinha ainda David Posen.

«Podemos lembrar-nos de todas as coisas que fizemos bem no passado. Independentemente da pessoa, todos temos uma vida de conquistas atrás de nós, grandes ou pequenas. Elogie-se, da mesma forma que elogiaria alguém se tivesse de o apoiar, com frases como «Vá lá, tu consegues fazer isto. Sei que consegues. Força», recomenda o especialista em economia e finanças.

- Exercite o sentido de humor

«A capacidade de ver o lado divertido das situações desconfortáveis, novas ou difíceis, de rir com facilidade e frequência, de ser alegre e de se rir de si mesmo, mesmo em momentos de tensão, tem um efeito energético e regenerador quando se lida com a mudança», afirma o médico especialista em gestão de stresse.

«Eis uma boa piada para quando estiver soterrado em coisas para fazer, pensar que se sente como um mosquito numa colónia de nudistas. Sei o que tenho de fazer. Não sei é por onde começar», sugere, de forma divertida, David Posen.

- Não tenha medo de arriscar

«As pessoas resistentes correm riscos. Não são descuidadas. São pessoas que estão preparadas para arriscar em vez de jogar pelo seguro. Para correr riscos, é preciso ter a atitude e o comportamento certos. É preciso dizer «vamos a isso» e depois concretizar. Algumas pessoas praticam este estado de espírito e comportamento saindo, propositada e periodicamente, da sua zona de conforto para esticar os músculos dos riscos», refere.

«Há atividades exóticas a aparecer para os verdadeiramente aventureiros. A canoagem em rápidos, a escalada, o bungee jumping, a queda livre e toda uma série de montanhas-russas. Tudo isto são formas de os indivíduos se desafiarem e as experiências na natureza e certos programas permitem que as pessoas testem aquilo de que são feitas e que tentem tornar a ideia do risco mais confortável», aconselha David Posen.

- Assuma responsabilidades

«As pessoas adeptas da mudança assumem a responsabilidade pelas consequências e pelos resultados. Não culpam os outros pelo que acontece. Chegam-se à frente e arcam com as consequências. Se cometerem um erro ou falharem um prazo, admitem-no sem inventar desculpas», descreve o especialista. «Quando confrontado com uma nova situação, não fique à espera de que os outros se antecipem», diz.

«Tome a iniciativa», sugere. «E não faça só o que exigem de si!», insiste. «Faça o que tiver de ser feito, seja o seu trabalho ou não, para conseguir o melhor resultado. Quando todos numa equipa estão dispostos a carregar mais do que o seu peso, os resultados podem ser extraordinários. Se alguma coisa correr mal, não se esquive nem aponte dedos. Resolva o problema!», recomenda.

- Seja criativo

«Quando a sabedoria convencional não é suficiente, algumas pessoas tornam-se criativas e puxam dos seus recursos, usando a capacidade de olhar para as coisas de outra forma com o intuito de encontrar novas soluções para os problemas. A mudança cria problemas, mas também oportunidades», salienta o médico especialista em gestão de stresse.

«Olhe em volta. Comece a ver que necessidades há que não estão a ser satisfeitas. Antecipe as necessidades futuras. Depois descubra como pode satisfazê-las. Já está! Já tem um novo negócio ou emprego. Quando as pessoas ficaram demasiado ocupadas para passear o cão, surgiram os passeadores de cães», recomenda David Posen.

3 verdades sobre o otimismo

David Posen aponta-o como um dos pilares da capacidade para vencermos no contexto de uma mudança profunda de vida. «Há inúmeras pessoas que têm tendência para ver o lado positivo das coisas e que acham sempre que as coisas correrão bem», realça. «Este traço de personalidade é-lhes útil quando são confrontadas com a mudança ou com situações difíceis», refere ainda o especialista.

«Será que esta é uma qualidade inerente ou pode ser adquirida? Provavelmente, ambas!», defende. «As nossas expetativas elevadas e a nossa visão positiva reduzirão o stresse, aliviarão a preocupação e far-nos-ão sentir confortáveis, mas não há nenhuma hipótese de haver profecias autorrealizadoras aqui. Ainda assim, uma atitude otimista pode influenciar o nosso comportamento», alerta.

«Ser otimista pode ser algo que lhe sai de forma natural e fácil ou pode ser um padrão de pensamento que tem de adotar e praticar até se tornar um hábito», defende David Posen. «Pode baseá-lo na fé religiosa ou espiritual ou aprendê-lo como uma técnica. Seja como for, será uma parte indispensável do seu repertório», considera ainda o médico especialista em gestão de stresse.

Proatividade + flexibilidade + relativizar = sucesso

Uma atitude de proatividade é fundamental. Segundo David Posen, quem consegue vencer não está à espera que sejam os outros a tomar iniciativa. Essas pessoas «são voltadas para a ação. O estilo delas implica fazer e não tanto pensar. Isto não quer dizer que agem sem pensar. Isso seria impulsivo e, muitas vezes, leva a um comportamento desorganizado (...) Significa que fazem com que as coisas aconteçam», diz.

«Há um movimento e um ímpeto, em vez de se ficar encostado, à espera que os outros façam alguma coisa», realça ainda. A flexibilidade é outra característica indispensável. «Implica a vontade de tentar coisas novas, de estar aberto a novas formas de fazer as coisas, de assumir papéis diferentes (...) Tem que ver com atitude e com competência. Trata-se de estar pronto, disposto e ser capaz de mudar», refere.

«Essas pessoas têm gosto pela variedade e pela aventura e, quando a situação muda, fazem os ajustes necessários para se encaixarem», descreve. A persistência também é meio caminho andado para o êxito. «As pessoas resistentes são lutadoras. Não desistem. Têm uma persistência feroz para lidar com os problemas e desafios. É uma ótima qualidade para se ter. E para se desenvolver, se não nos for inato», aconselha.

Texto: Nazaré Tocha