Apesar da evolução económica dos últimos anos, amplamente elogiada internacionalmente, os números de emigrantes neste país ainda são, contudo, pouco reveladores.

Sabe-se que há muitos portugueses a procurar este destino mas as estatísticas recolhidas pelo observatório da emigração, muito estranhamente, não mostram nem refletem esta tendência.

O Brasil regista um grande crescimento e procura de mão de obra qualificada, sobretudo engenheiros e arquitetos, revela Maria Beatriz Rocha-Trindade, professora catedrática e investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais da Universidade Aberta. Segundo dados do Ministério da Justiça Brasileiro, existiriam 330 mil portugueses no Brasil, em 2011. As principais cidades das comunidades portuguesas são São Paulo e Rio de Janeiro e têm atividades como comerciantes, empresários, médicos, advogados e professores.

Paulo Cardoso de Almeida, empresário brasileiro fundador da CACOM-Cardoso de Almeida Comunicação, com sede em São Paulo, alerta para o facto de o Brasil não ser o el dorado que os portugueses anseiam. «Recebo três pedidos por dia de portugueses que querem trabalhar cá. mas a vida nos subúrbios de São Paulo não é como viver nos arredores de Lisboa. As rendas nos bairros nobres são aviltantes e, para arrendar, é necessário fiador, ou pagar seguro de fiança», desabafa.

O problema da insegurança e os elevados preços

Diz ainda que quem vive na periferia tem problemas de segurança e uma rede de transportes ineficiente e sempre lotada, com a qual se demora horas a chegar ao emprego. As escolas desses bairros são perigosas e o bullying é uma prática corrente. Paulo Cardoso de Almeida refere que «as compras do mercado estão mensalmente mais caras e a gasolina é um luxo». Está, no entanto, longe de ser um único num países que continua muito dependente das importações.

«Um carro popular custa cerca de 12.000 € e um bilhete de avião entre Sao Paulo e o Rio de Janeiro, um voo de 45 minutos, custa quatro vezes o valor de um voo entre Lisboa e Londres. Isto tendo em conta que o salário mínimo é de 622 reais (cerca de 227 €) e uma refeição média custa cerca de 20 reais (cerca de 7,2 €)», critica ainda o empresário brasileiro.

Texto: Helena C. Peralta com Maria Beatriz Rocha-Trindade (professora catedrática e investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais da Universidade Aberta)