João Armando Gonçalves tem 51 anos, é natural da Figueira Foz e é escuteiro no Corpo Nacional de Escutas, um grupo de escutismo católico português, há 38. Passou por vários cargos internacionais, o que lhe «abriu os horizontes do ponto vista da humanidade» e, em agosto de 2014, tornou-se o primeiro português a presidir ao Comité Mundial da OMME. Casado e pai de três filhos (Inês com 21, Catarina com 19 e Miguel com 15), é engenheiro civil e professor no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Diz ter «imenso prazer» em «absorver a energia» dos alunos e orgulha-se de os «olhar nos olhos» e de «perceber que se sentem à vontade» para falar consigo.

«O que vivi no escutismo despertou-me para a noção de que vivemos em comunidade e temos quase uma obrigação de a servir. Fui construindo a consciência do meu lugar no mundo, natural e humano, e um certo sentido de estar para o outro, de contribuir para o que é comum. Também desenvolvi características práticas, muito na perspetiva de aprender fazendo, nomeadamente saber trabalhar em equipa, desenvolver projetos, liderar, ter espírito de iniciativa, querer resolver, não ficar à espera», conta.

Começou a ser chamado a funções de liderança aos 17 ou 18 anos. Ficou surpreso, mas sentiu um enorme orgulho e satisfação por ser merecedor da confiança. «Lembro-me de sentir essa responsabilidade e de pensar. Vou fazer isto bem», recorda. Em 2003, é convidado para dirigir o acampamento europeu de caminheiros, que ia realizar-se pela primeira vez em Portugal e ter três mil participantes. «Será que tenho cabedal para isto?», pensou. «Mas hoje é das coisas de que mais me orgulho», confessa.

«Soube rodear-me de pessoas extremamente competentes, com um grande brio e vontade de fazer bem», afirma ainda. Leu muito, procurou relatórios de outras atividades porque «não basta confiar na experiência, é sempre preciso ter consciência de que não sabemos tudo e buscar conhecimento. Alguns amigos dizem que tenho a mania da excelência. Mesmo que corra tudo muito bem, há sempre alguma coisa que acho que podíamos fazer melhor», admite. Gosta muito de planear, de pensar no porquê, nos objetivos, de não fazer por fazer.

Aprender com o erro

João Armando Gonçalves diz que ser escuteiro não fez de si o pai ideal mas que foi aprendendo a ter um grande respeito pelas gerações mais novas e percebendo que educar também é dar espaço. «Às vezes temos a preocupação dos meninos se portarem bem, mas o erro é uma ferramenta educativa importante. Não deixo de pensar que há algumas coisas em casa que não consegui acompanhar tão bem como devia, mas sinto compreensão e um enorme orgulho da parte deles e isso é recompensador», sublinha.

As suas filhas saíram dos escuteiros quando foram para a universidade e envolveram-se em associações ligadas às faculdades pois sempre foram encorajadas a aproveitar as oportunidades. «Conhecer mundo e abrir cabeças faz parte da construção enquanto pessoas, é tão ou mais importante do que o chamado sucesso académico», assegura mesmo João Armando Gonçalves.

Texto: Rita Miguel