Tem o fascínio das jóias desde que se conhece. De tal forma que ainda criança juntava todo o dinheiro que tinha para comprar bijutaria. Foi na ourivesaria onde se empregou que conheceu o marido e pouco tempo depois criaram a sua própria empresa em Lisboa.

Ana Gonçalves atualiza-se todos os anos nas principais feiras de jóias da Europa e abre stand todos os anos na Porto Joia para mostrar as suas criações aos portugueses e estrangeiros que nos visitam. Gosto, dedicação, criatividade e trabalho são as permissas necessárias ao negócio deste casal que dedica grande parte do seu trabalho às jóias que festejam o amor.

Começou a trabalhar com jóias ainda antes de se casar?
Sim. Comecei a trabalhar numa empresa no Norte.

São ambos do Norte?
Eu sou da Guarda e o meu marido de Almada. Ele sempre esteve ligado à parte financeira, e eu à ourivesaria, e foi através das empresas que nos conhecemos. Estamos casados quase há 30 anos.

Criaram de imediato a vossa empresa?
Ainda estivemos uns três anos nas nossas respetivas atividades mas desde logo com o objetivo de criar uma empresa nossa que acabou por nascer em Lisboa, há 26 anos.

Começou logo a criar as suas próprias peças?
Sim. Fizemos obras, adaptámos o espaço ao nosso gosto e criámos também a oficina e a nossa marca, Luís e Ana. Desde o início, que nos esforçamos por ter sempre peças diferentes, só assim é possível fazer face à concorrência que existe no ramo.

Vão às feiras internacionais para estarem em sintonia com as novas tendências?
Vamos desde o início a Itália e a outras feiras internacionais, embora cá também já se façam peças diferentes e não seja assim tão necessário sair de Portugal para adquirir peças bonitas e originais.

É uma indústria em evolução?
Claro que sim. Por isso também não podemos parar. Neste momento empregamos 12 pessoas mas já fomos mais de 20.

São os efeitos da crise?
Apesar de tudo estamos a tentar dar a volta de outra forma.

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Foi por isso criaram duas marcas novas?
Há aproximadamente um ano criámos a Spigi e a Laços Eternos. Esta última marca tem tudo a ver com o amor, nomeadamente, anéis de noivado e alianças de casamento. Na Spigi trabalhamos peças em prata e prata e ouro, mas com preços mais acessíveis. A partir de 100 euros já é possível adquirir uma joia.

Considera que hoje é mais fácil qualquer mulher ter acesso a uma joia?
Julgo que sim. Há uma maior diversidade de preços.

Também é uma consumidora de joias?
Sou, adoro joias. Lembro-me quando era miúda de juntar o meu dinheiro todo para comprar bijutaria.

Há uns anos usavam-se muitos anéis, agora privilegia-se uma única peça.
Antigamente as pessoas gostavam de usufruir muito e usavam em simultâneo muitas pulseiras e muitos anéis. Atualmente usa-se uma peça a fazer conjunto com os brincos ou com o colar, ou até a combinar com a cor do vestido ou dos sapatos. Cada vez mais a joia é um objeto de moda.

As mulheres interessam-se por jóias a partir de que idade?
Nem sei se haverá uma idade, mas penso que a partir dos 20 anos todas as mulheres gostam de usar jóias. Também mudou a motivação para adquirir peças: dantes comprava-se como investimento; hoje compra-se para se usar.

Cabe-lhe a si a responsabilidade de escolher as gemas para as jóias?
Sim. Fiz muitas formações nesta área, e, a nível da indústria de ourivesaria, sou das poucas mulheres que seleciona as gemas.

Compra-as em Portugal?
Compro cá e no estrangeiro, e sou eu que seleciono as gemas para as peças onde as pedras vão ser colocadas e depois as preparo para os cravadores.

Nunca lhe pediram uma peça fora do vulgar?
Fizemos a cúpula em ouro do templo ismaelita de Lisboa, peça que ocupou dois técnicos durante 30 dias; também fizemos uma caravela em ouro esmaltada a branco e vermelho para um concurso de uma marca de whisky (demorou 90 dias a ser feita), e, finalmente, fizemos um elefante em ouro para um cliente indiano.

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Tem capacidade de resposta para qualquer peça que lhes peçam?
Temos. Só precisamos de uma fotografia ou um desenho. A nossa oficina faz tudo, mediante um orçamento.

Quem quiser comprar agora uma joia deve escolher ouro branco ou ouro amarelo. Qual é a nova tendência?
Atualmente lá fora, sobretudo em Itália, vê-se muito mais ouro amarelo. Há uns anos atrás era o bicolor, depois passou a ouro branco e agora já se vê sobretudo o ouro amarelo. Cá em Portugal demora sempre dois anos a atualizar as novas tendências.

As portuguesas continuam a comprar jóias?
Agora compram sobretudo peças de prata e ouro ou só prata. As pessoas têm menos dinheiro mas continuam a ver na jóia um objeto de sonho...

Já alguma vez comprou uma jóia por impulso?
Não. Uso só as minhas! Temos jóias tão diferentes e originais que não faria sentido. Tenho o maior orgulho no meu trabalho.

Como ocupa os tempos livres?
Gosto de ler e de ir ao cinema.

Só tem um filho?
Sim, um rapaz. Está em engenharia mas como cresceu na empresa, aprendeu a gostar e, neste momento, está motivadíssimo para continuar o nosso trabalho. Já dá uma ajuda preciosa na área do marketing e na divulgação das novas marcas, Spigi e Laços Eternos, junto dos clientes e a receptividade está a ser muito boa.

O passo seguinte é a internacionalização?
Estamos a organizar-nos nesse sentido. É o nosso próximo objetivo. Agora temos de consolidar muito bem as novas marcas, o que nos exige muito trabalho e dedicação, e logo a seguir iniciar a internacionalização.

Dão-se a conhecer nas feiras internacionais?
Sim, e também em Portugal. A Porto Jóia é um certame com uma grande visibilidade nacional e internacional porque somos visitados por inúmeros países.

Gosta especialmente de fazer jóias para noivas?
Adoro. Saber que aquela peça vai ser usada no dia mais feliz da vida de um casal dá-me muita alegria e satisfação. Vejo sempre a jóia como algo que vai fazer feliz alguém e isso é muito gratificante.

Texto: Palmira Correia