À primeira vista, o título parece frio mas, mal se começa a ler, há outros adjetivos que melhor o caracterizam, pois a história de Anna e Francesca, duas adolescentes, é potente como aquela matéria e de fria nada tem. Através das palavras de Silvia Avallone conhecemos uma Itália distante da que surge nos postais ilustrados do bel paese. «Gosto de contar os lugares de sombra, feridos socialmente, porque adoro a literatura que se empenha e dá voz a uma realidade que deve ser revelada», explica Silvia Avallone.

Em «Aço», publicado em Portugal por A Esfera dos Livros em 2014, conta como é crescer numa província industrial italiana no período da grande crise. «Os pontos dramáticos de Itália podem fundamentar uma nova beleza, diferente da de Capri ou da Ilha de Elba, ou seja, a beleza de um país que quer renascer da escuridão», sublinha a escritora. Com este livro, Silvia Avallone relata «o que é a amizade feminina na adolescência, que é muito particular e tende a confinar quase com o amor, mas que se perde nos anos sucessivos».

«No livro, esta amizade atinge a potência máxima porque as duas raparigas vivem num contexto muito difícil, na sombra da grande fábrica de aço que mata, mas é o sustento das famílias. É como se se ocupassem uma da outra porque a sua família não lhes consegue dar o afeto e a segurança que precisam numa altura em que estão a despertar fisicamente», refere a escritora.

O lugar como personagem

A cidade de Piombino, no litoral tirreno, serve de cenário para esta história, onde se denota uma crítica à Itália de Berlusconi. A escolha do lugar para a escritora não foi um acaso. «São os lugares que me inspiram e transformo-os numa personagem. No livro, por exemplo, Piombiono é como se fosse um familiar que as impede de partir e escolhi esta cidade porque vivi lá e tive a oportunidade de conhecer rapazes que começaram a trabalhar naquela fábrica após deixarem a escola e o que me contavam sempre me impressionou», desabafa.

Silvia Avallone defende que quando escreve tem de ter uma relação muito próxima com o que está a contar, por isso, no seu segundo livro, «Marina Belleza» (ainda sem data de publicação em Portugal) voltou a escolher um local que conhece muito bem. A sua terra Natal, Biella, na região de Piemonte. E porque uma parte do livro se passa nos Estados Unidos da América foi até este país para conhecer a região sobre a qual iria escrever.

E Itália será sempre um cenário presente? «Por um lado, sinto-me no dever de descrever o meus país porque gosto da ideia de dar a conhecê-lo e de explicar certas dinâmicas e problemas nossos através dos livros. Por outro lado, o mundo é enorme e existem tantos lugares que me fascinam e a tentação de dizer que largo tudo e me vou embora durante um ano está cá», confidencia.

Texto: Rita Caetano