O merecimento é um sentimento, antes de ser uma atitude e um comportamento. Só conseguimos ter comportamentos de merecimento quando o sentimos. Existe, pois, uma grande diferença entre sentirmo-nos merecedoras e acharmos que merecemos algo. Todos nascemos com uma extraordinária capacidade de sentir merecimento. Não há um bebé ou uma criança que não se sinta merecedora.

Seja de amor incondicional, de bem-estar, de sossego, de compaixão, de compreensão, de ser alimentada, de que brinquem com ela, de que a reconheçam e valorizem. À medida que crescemos, sob os efeitos da educação, da sociedade, da cultura, do meio e dos acontecimentos pessoais que fomos vivendo, passamos a autolimitar-nos e a nossa dose de merecimento inato vai diminuindo.

O que nos trava

Vivemos condicionadas pelos padrões que nos foram passados, como o de não podermos frustrar as expetativas dos outros. Isto faz com que não consigamos ver o nosso valor, o que condiciona a noção de merecimento pessoal.  Como tal, o merecimento é uma excelente terapia de resgate da nossa vida.

Aumentar o nosso merecimento significa não continuarmos vítimas das circunstâncias, significa resgatar o nosso valor pessoal e sermos novamente autoras das nossas escolhas, respeitando quem somos, com os nossos erros e as nossas conquistas. Veja também 25 livros que o vão ajudar a ser uma pessoa melhor.

O que estamos a perder

Temos muito a perder quando não nos sentimos merecedores: desde logo, perdemos a nossa noção de valor pessoal e, com isso, a nossa autoestima. Quando não nos sentimos merecedores, limitamos a qualidade dos nossos relacionamentos interpessoais, deixamos de agir de acordo com o que pensamos ser o melhor para nós.

Perdemos espontaneidade, autenticidade e o nosso orgulho. Somos incapazes de ver as nossas conquistas e chegamos a entrar em estados depressivos. Vivemos no padrão do medo, com receio de que os outros nos critiquem, nos magoem ou nos abandonem. Fazemos as escolhas que mais nos prejudicam, pensando que dessa forma nunca ficaremos sós.

Uma espécie de terapia

Treinar e expandir o nosso merecimento funciona como uma terapia. Permite-nos aumentar a autoestima e melhorar o nosso conceito de valor pessoal. Torna-nos também mais conscientes de quem somos e daquilo que precisamos e não precisamos para sermos felizes. O merecimento melhora a nossa assertividade, resiliência e a capacidade de fazer escolhas autênticas e não de acordo com o que desejam para nós, esperam de nós ou acham bem para nós.

O treino do merecimento ajuda-nos a ultrapassar o medo de dizer não e ajuda-nos a não sentirmos culpa quando o fazemos. Permite-nos aumentar o carinho por nós e não nos imobilizarmos perante as condicionantes da vida, nem sofrermos em relacionamentos pessoais e profissionais destruidores.

Veja na página seguinte: O diálogo interior que deve empreender

Diálogo interior

Elimine os pensamentos que limitam o seu valor pessoal e que a colocam no papel de vítima. Raramente pensamos diretamente «Eu não mereço», pois o não merecimento surge camuflado por expressões como «Faça o que fizer, nada está bem», «Não me dão valor», «As minhas relações falham sempre». Na base deste tipo de diálogo interior está uma abordagem inconsciente muito negativa, mas poderosa.

Uma voz que nos diz «Não sou merecedor de sucesso», «não mereço ser feliz», «não mereço ser amado». Outra forma de aumentar o merecimento é dizer abertamente o que sente e precisa. Se sente que merece reconhecimento, diga-o de forma clara, sem crítica nem queixa. Porque pode estar em presença de alguém que nunca aprendeu a reconhecer que os outros merecem ser valorizados ou que valorizar significa perder poder.

Ser merecedor sem ser egoísta

A atitude de merecimento é um resgate da nossa força e valor. Quando o fazemos sem que isso prejudique a vida de ninguém, inspiramos mudanças positivas no comportamento dos que estão à nossa volta. Quando nos sentimos merecedoras e demonstramo-lo com bondade e partilha de conhecimento, inspiramos outras pessoas a elevarem o seu sentimento de merecimento pessoal.

Sentirmo-nos merecedores e demonstrá-lo é um ato de bondade e de coragem que melhora a nossa vida, o nosso bem-estar e a nossa autoestima. E isto faz com que consigamos melhorar a vida dos que nos rodeiam.  Só quem se sente merecedor consegue comprometer-se genuinamente consigo mesmo e estabelecer um compromisso autêntico com os outros. E fá-los, ajudando-os a serem mais autoconscientes sobre aquilo que merecem nas suas vidas.

Assim, a forma como exercemos o nosso merecimento não reflete apenas o modo como nos tratamos. Revela ao outro que também ele é merecedor do mesmo. O merecimento melhora a nossa assertividade, a nossa resiliência e a nossa capacidade de fazer escolhas autênticas e não de acordo com o que desejam para nós, esperam de nós ou acham bem para nós.

9 pensamentos que estimulam o merecimento

- «Das mudanças atuais, só o bem pode resultar. Mereço o melhor!»

- «Sou bem-sucedido seja qual for o caminho que siga. A vida apoia-me!»

- «Mereço mudanças positivas na minha vida»

- «Mereço libertar-me do passado e dos padrões que já não me fazem falta»

- «Mereço amor verdadeiro e relacionamentos positivos na minha vida»

- «Cada vez é mais fácil deixar ir o que não me faz feliz»

- «Mereço uma vida abundante. Aceito que a abundância chegue facilmente até mim»

- «Mereço prosperidade. Sinto-me mais merecedor a cada dia que passa»

- «O meu caminho torna-se a cada dia mais fácil e suave. Mereço paz!»

Veja na página seguinte: As três fases de um processo de desenvolvimento pessoal muito próprio

Como exercitar o merecimento

As três fases de um processo de desenvolvimento pessoal muito próprio:

- Fase 1 (Diagnóstico)

O objectivo é avaliar a sua consciência de merecimento. Para isso, identifique os pensamentos negativos que tem em relação ao que julga merecer e não merecer. Depois, analise a sua família (pais e avós) e perceba que ideias e comportamentos existiam, e existem, face ao merecimento pessoal.

Perceba, seguidamente, que pensamentos e padrões de não merecimento está a repetir. Escreva os pensamentos e os padrões que estão a limitar a sua capacidade inata de se sentir merecedor.

- Fase 2 (Passar à ação)

O objectivo é aumentar o automerecimento. Para isso, tenha coragem de se escolher em primeiro lugar. É a primeira atitude do seu plano de ação. Optar por escolher-se irá aumentar a sua consciência de merecimento. Identifique também as situações concretas em que não se sente merecedor.

Para cada situação, estabeleça o pensamento e a atitude contrários. Se lhe disserem, por exemplo, «Não mereces essa vida de luxo», pense «Porque não? Trabalho para isso. Não prejudico ninguém. Sou merecedor do que tenho». Identifique seguidamente as situações a que diz que sim quando tem vontade de dizer que não. Quebre essa regra!

Não tenha medo de perder os outros ou que lhe digam que não merece o amor deles. Se alguém não a compreender ou se afastar, talvez seja porque, de facto, era alguém que limitava a sua vida.

Liste, por fim, os seus pontos fortes, competências e conquistas. Esta lista reforça a sua sensação de valor pessoal e, em consequência, o seu merecimento. Leia esta lista sempre que se sentir não merecedor da vida que tem.

- Fase 3 (Follow-up)

O objectivo desta fase é manter o automerecimento. Para isso, elimine situações que lhe sugam energia. Sinta o alívio de não continuar amarrado a situações que o desgastam e que o fazem questionar sobre a sua capacidade de fazer as melhores escolhas para si. Logo que não se sinta merecedor, mexa-se de imediato.

Quando se move, as coisas começam a mudar. Dê a si próprio a oportunidade de mudar a sua vida para aquilo que deseja.  Você merece. Certifique-se também que não ultrapassa os limites chegando novamente ao não merecimento. Respeite os seus limites e faça com que aqueles que o rodeiam os reconheçam.

Mantenha o não sem culpas. Diga Não as vezes que forem necessárias. Não se sinta culpado por isso. Não sinta que vai quebrar as expetativas que têm sobre si. Estas são crenças enraizadas desde a nossa primeira infância, mas não estamos condenados a permanecer no sistema de crenças dos nossos pais nem nas limitações que nos incutiram.

Texto: Teresa Marta (coach para a coragem e CEO da Academia da Coragem)