Tive medo. confesso. Já tive muito medo na minha vida. Medo de não conseguir. Medo de falhar. Medo da dor física. Medo das minhas emoções. Medo de estar só. Medo de estar acompanhada.

Medo de me confrontar com problemas impossíveis de resolver. Com uma doença incurável. Com uma inevitável imobilidade que me pudesse paralisar os movimentos para sempre.

Tenho 40 anos. À medida que o tempo foi passando na minha vida, os meus medos tornaram-se menos físicos e materiais e passaram a ser mais imaterializáveis, menos palpáveis. Isto também elevou a minha escala do medo para receios menos consciencializados. Passei a ter medo da minha finitude. De me confrontar com a morte. De sentir que de um momento para o outro posso acabar. Medo de ver partir o meu pai(após ter perdido a minha mãe, este medo tornou-se mais real). Medo de ver partir o meu filho.

Após 12 difíceis anos de procura pessoal, hoje acredito que nós somos os únicos a ter o poder de criar e alterar a nossa própria vida. De criar o que nos acontece. Logo, somos os únicos a criar os nossos próprios medos. A deixar que eles nos dominem. Os únicos a deixar que os nossos pensamentos nos levem para o medo, ou, ao contrário, nos conduzam à esperança.

Como diria Jean Paul Sartre, tudo o que somos é resultado de escolhas existenciais pelas quais somos os únicos responsáveis. «Ninguém fez de mim nada. Eu é que fiz, faço e farei de mim, tudo. Aquilo que eu sou é pois aquilo que eu me faço». De facto, ninguém pode escolher por nós. Se isso acontece é porque escolhemos não fazer escolhas.

Esta ideia é curiosa, pois o medo que sentimos é um medo projectado. Um medo antecipado. Um medo que nos leva a ser prisioneiros, não do tempo vivido, do aqui e agora, mas do futuro. Prisioneiros do futuro. Por antecipação de coisas negativas sobre as quais vivemos em função.

Este futuro como prisão acontece até nas coisas mais simples. Se não começar a controlar o colesterol posso ter um AVC, se não deixar de fumar é possível que venha a ter cancro do pulmão, se não me vacinar contra a gripe A tenho mais probabilidade de a apanhar, se… Que futuro é este que ainda não chegou e que já nos faz prisioneiros?

Posto isto, onde está você neste momento? Onde se encontra no seu percurso de vida? Na frente do autocarro a conduzi-lo ou nos bancos de trás, a deixar-se transportar? A deixar que os receios de comandar o volante o levem efectivamente onde não deseja? É então possível escolher hoje entre duas atitudes bem diferentes. Ser você a conduzir o autocarro ou sentar-se e deixar que o levem! A escolha é apenas sua. A partir do momento em que conseguir ser você o condutor, dia após dia, vai ver que os medos se vão dissipando.

Garanto-lhe que não tem mais medos do que aqueles que eu sentia. Pelo menos dos que me imobilizavam sem vontade para continuar na frente a conduzir. Se assim é, e se desejar ser você a definir a direcção do autocarro, faça uma lista dos seus medos. Após ter elaborado essa lista guarde-a e tente não voltar a pensar nela. Pense antes que isolou os medos, que os prendeu num local seguro.

Volte a olhar para a lista apenas daqui a um mês. Verifique então quais foram, dos seus receios, os que efectivamente se concretizaram. Verá que se vai surpreender! A vida nunca é tão negra como a vemos. Hoje, aconteça o que acontecer, sei que sou capaz de isolar os meus medos como pensamentos maus que não merecem fazer parte das coisas boas da minha vida. Por muito que você não acredite nisto, eu acredito que também o consegue fazer. Quer tentar?

Texto: Teresa Marta (mestre em Relação de Ajuda e consultora de Bem-estar)