Como sabemos - e a investigação científica confirma - receber ajuda do outro nas fases mais atribuladas, ou somente expressar sentimentos dolorosos do dia-a-dia, promove o bem-estar e a qualidade de vida. Precisamos uns dos outros, como de oxigénio para respirar.

Quando sabemos que alguém de confiança está presente e disponível, nos momentos de angústia e desanimo, em que não conseguimos discernir racionalmente, e consequentemente, não somos os melhores conselheiros para nós próprios, essa constatação representa um significado existencial enorme, em termos de pertença e reconhecimento individual e social; é um alívio enorme em prol do bem-estar e em detrimento da angústia provocada pela solidão e/ou rejeição.

Por outro lado, o efeito de recebermos ajuda do outro também pode representar um “pau de dois bicos”. Isto é, pode ter um efeito tremendamente positivo, mas, no sentido oposto, também pode representar um dano serio e grave. O dano será maior em proporção da qualidade da intimidade que desenvolvemos com o outro. Com efeito, na maioria dos casos, são as pessoas com que desenvolvemos vínculos mais íntimos que podem causar mais danos. Quando expomos os sentimentos dolorosos ao outro, ficamos vulneráveis a reações menos apropriadas. Por exemplo: conflitos familiares, problemas na comunicação e diferenças de opinião entre parceiros românticos, conflitos no trabalho.

Segundo revelam alguns estudos, as pessoas com as quais supostamente contamos, nos momentos adversos, podem não ser as mais indicadas para proporcionar o tipo de ajuda que procuramos. Existe também outra questão importante: quando pedimos ajuda, podemos sentir dívida para com o outro, que, por sua vez, é gerador de sentimentos desconfortáveis e dolorosos capazes de influenciar negativamente a auto estima.

Nas relações íntimas expor sentimentos é um ato de coragem

Por exemplo, quando estamos extremamente ansiosos ou deprimidos, e expressamos os sentimentos e pensamentos, é muito comum ouvir afirmações, do tipo: “Não estejas assim…não compliques.” Ou “Estás a fazer ronha…isso não é nada. “Deixa lá, isso passa…” ou “Não sejas maricas…não tenhas medo. ” Como se ficar extremamente ansioso ou deprimido fosse uma escolha ou um ato voluntario. Definitivamente, não é.

A ajuda que recebemos não pode ser dada com humilhação, agressividade, punição severa, manipulação ou o oposto, passividade, indiferença, mas através de feedback critico, honesto e com empatia.

Cabe a nós saber escolher a pessoa mais apta e disponível, o melhor possível, ao tipo de ajuda que procuramos. Isto não quer dizer que procuramos a pessoa que nos irá dizer aquilo que queremos ouvir, assim como, precisamos de aceitar a realidade, que nem toda a gente está confortável em abordar todos os assuntos.

Se você pretende receber ajuda, para um assunto importante e especifico, certifique-se de que a pessoa que seleciona para o/a ajudar, está disponível e é de confiança. De preferência, uma pessoa que você tenha conhecimento de que é uma lutadora, resiliente e que também tenha sido sujeita à adversidade. Todos nós temos uma história para contar, todos nós temos problemas e a dada altura do devir, todos nós precisamos de ajuda.

Expressar as nossas vulnerabilidades, no mundo atual onde o medo e a vergonha dominam, pode ser um pouco perigoso, não há dúvida, todavia estamos a contrariar as tendências e as tradições retrogradas com audácia e talento. Precisamos de coragem para ser vulnerável.

Por João Alexandre Rodrigues

Addiction Counselor

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