Quando nos sentimos bem, a nossa saúde melhora. Assim apresentada, a premissa deste artigo, que fundamenta a psicologia positiva, pode soar a esoterismo, mas é de ciência que estamos a falar. A discussão em torno da ligação entre a mente e o corpo humano não é nova, mas os resultados da investigação científica têm-se encarregado de o fundamentar.

Em 2008, uma edição da revista NIH MedlinePlus, publicada pelo National Institutes of Health, dos Estados Unidos da América, referia que, até ao século XIX, «a maioria dos médicos acreditava que as emoções estavam associadas à doença. Gradualmente, elas perderam terreno à medida que outras causas de doença emergiram».

«Mais recentemente, os cientistas começaram a especular que até os problemas comportamentais têm uma base biológica. Hoje, é geralmente aceite a ideia de que há uma ligação poderosa entre mente e corpo através da qual fatores emocionais, mentais, sociais, espirituais e comportamentais podem afetar diretamente a saúde», afirmava ainda a publicação.

Os mecanismos fisiológicos só agora começam a ser identificados, mas as emoções positivas têm sido associadas a vários efeitos benéficos. A melhor parte é que a capacidade de as experienciar pode ser fortalecida. Vítor Rodrigues, psicólogo clínico, ensina-lhe como, para que possa afastar os pensamentos e os sentimentos negativos que teimam, muitas vezes, caminhar lado a lado consigo.

Altruísmo

Benevolência, compaixão, generosidade... São várias as designações para a capacidade humana de agir em prol dos outros e a ciência tem-se debruçado sobre os benefícios para a saúde de quem a pratica. Nos EUA, o Institute for Research On Unlimited Love, que financia estudos na área, refere-se ao «helper's high», a sensação positiva vivida por quem ajuda alguém. As respostas fisiológicas permanecem sob investigação, mas os estudos apontam para um efeito de antídoto face aos mecanismos do stresse.

Se estiverem ativos de forma prolongada, têm consequências adversas a nível imunitário e cardiovascular e estão associados a morte prematura. Daí o imperativo de o exercitar. «Informe-se acerca de associações não lucrativas que ajudam pessoas com necessidade de tratamentos médicos, comida, roupas, apoio a doentes ou idosos», sugere Vítor Rodrigues.

«Averigue quais os objetos de que já não precisa, as roupas que não usa ou outros pertences e entregue-os para poderem ser oferecidos a quem lhes dê mais uso (paróquia, associação de beneficência, entre outros). Aprecie o modo como os filantropos costumam ser mais felizes. Reveja os momentos em que gostou de oferecer alguma coisa», recomenda ainda o psicólogo.

Perdão

É um processo (ou o seu resultado) que envolve uma mudança na emoção e na atitude perante um ofensor, define a American Psychological association, segundo a qual a maioria dos estudiosos considera que tem de ser voluntário e motivado por uma decisão deliberada de perdoar e por uma diminuição da motivação para retaliar ou manter o afastamento, apesar das ações do ofensor.

Este processo requer uma libertação face às emoções negativas perante ele, apesar de a vítima considerar que não foi bem tratada. Um artigo da Harvard Women’s Health Watch refere-se a benefícios cientificamente comprovados como redução do stresse e da dor, melhoria da saúde cardiovascular e fortalecimento dos relacionamentos.

Vítor Rodrigues sugere, por isso, descobrir a parte de nós «que, em circunstâncias extremas, poderia fazer a mesma coisa de que se acusa alguém (ou mesmo a parte de si que já fez algo parecido). Perceba que a outra pessoa não é assim tão diferente de si.»

Para exercitar esta emoção, «evite agarrar-se à recordação de males feitos pois isso significa conservá-los dentro de si fazendo com que, na sua mente, estejam sempre a repetir-se», sugere. «Descubra algo positivo mesmo em quem lhe fez mal e imagine uma pequena coisa boa a
acontecer-lhe, nem que seja apenas comer um chocolate», refere ainda. «Imagine-se após ter perdoado a outra pessoa.Como será estar livre do peso de ressentir o que lhe fizeram, tendo seguido em diante?», questiona.

Gratidão

Corresponde à apreciação pelo que se tem de bom, seja ou não tangível, o que normalmente pressupõe admitir que tem origem, pelo menos parcialmente, em algo exterior a nós próprios como indivíduos, sejam outras pessoas, a natureza ou uma força superior. Investigações no campo da psicologia positiva, citadas pela Harvard Medical school, indicam que a gratidão está associada a maiores níveis de felicidade, à melhoria da saúde, à capacidade de sentirmos emoções positivas, de lidar com a adversidade e de construir relações fortes.

Exercite-a. «Aprenda a reparar nas pequenas coisas boas que alguém lhe faz e a agradecer de modo evidente, seja com um sorriso, uma palavra que mostre que reparou ou um pequeno ato (nem que seja escrever uma nota de agradecimento)», exemplifica o psicólogo clínico. «Faça da gratidão um treino. Procure situações, acontecimentos, benefícios ou atos pelos quais possa sentir gratidão (por exemplo a vida em si, a saúde, a presença de pessoas amistosas na sua vida). Liste-os», propõe.

O psicólogo ensina a treinar o otimismo

Os otimistas são mais eficazes na gestão do stresse e tendem a seguir um estilo de vida saudável. Resultado? Maior probabilidade de viver mais e melhor. Estes são, por isso, quatro passos que deve passar a adotar:

1. «Se costuma pensar que alguma coisa pode correr mal, imagine pelo menos duas maneiras de correr bem. Repita sempre que tiver um pensamento negativo», recomenda Vítor Rodrigues.

2. «Treine-se para encontrar coisas boas em algo aparentemente negativo. Por exemplo, os impostos não dão jeito mas sem eles não haveria governo nem país. O seu carro está velhote mas leva-a para todo o lado. Dormiu mal mas tem uma boa cama», exemplifica o psicólogo clínico.

3. «Faça um inventário de coisas boas na sua vida, desde o prazer de comer um gelado ao de ouvir música, de estar com uma amigo, ler um livro, ir ao cinema, partilhar uma refeição, ter roupa agradável, dormir descansada, oferecer um presente, escrever uma carta... Depois, obrigue-se a fazer intencionalmente algumas delas durante, pelo menos, um mês», sugere.

4. «Dê um passeio e compita consigo mesma na busca de coisas bonitas em que consiga reparar. Faça o mesmo para encontrar coisas ou seres úteis. Repita durante dez dias», aconselha o psicoterapeuta Vítor Rodrigues.

Texto: Rita Miguel com Vítor Cotovio (psicólogo clínico e psicoterapeuta)