Costumo afirmar que aquilo que queremos no imediato pode não satisfazer as nossas necessidades a médio e a longo prazo.

Cobiçamos o imediato reforçado pela recompensa das sensações intensas e prazerosas, mas ao mesmo tempo conseguimos ficar preocupados com as consequências negativas das nossas escolhas. Eis três exemplos comuns: 1. Estamos empenhados em manter uma alimentação saudável isenta de doces, somos convidados para jantar com uns amigos e dificilmente resistimos à sobremesa fantástica. 2. Estamos empenhados em fazer uma gestão construtiva do orçamento mensal e das poupanças, mas naquele dia vamos ao centro comercial e não resistimos a comprar o gadget ou a peça de roupa. 3. Precisamos de executar uma tarefa difícil em determinado dia e hora, mas decidimos adiar a tarefa porque considerarmos que não estamos devidamente concentrados e preparados. Para aumentar ainda mais a nossa frustração e conflito, não podemos fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Possuímos dois sistemas rivais, que geram conflito e a ambivalência.

Sistema  1. Acelerado e automático

Sistema 2. Pausado e consciente.

Não pretendo afirmar que o conflito interior seja interpretado como algo bom ou mau, certo ou errado. Pelo contrário, existe um leque abrangente de interpretações possíveis, visto evoluíramos a partir do conflito e do erro, através da pluralidade de escolhas, de interesses, sensações, desejos, necessidades e valores. Apesar do conflito, paradoxalmente, ambos os sistemas contemplam a felicidade. Também aprendemos que contrariar a gratificação imediata é uma tarefa complexa. Associamos ao imediato um certo deslumbramento das sensações, ora dramáticas ou prazerosas, visto deter o valor mais alto e intenso comparativamente aos dois sistemas.

Sistema 1. Preocupamo-nos com recompensas a curto prazo (corrida de 100 metros) – aproveitar agora.

Sistema 2. Desenvolvemos interesses e necessidades distantes (correr a maratona) – fazemos depois.

O poder da negociação entre os sistemas rivais – a motivação para a decisão

A atual crise económica e social é um fenómeno emergente das vantagens do sistema 1. Vivemos de acima das nossas possibilidades e nossas expetativas, gerado por doses elevadas de um pseudo otimismo contagioso, todavia, a certa altura, perante os factos incontornáveis, corremos o risco de por em causa as nossas próprias atitudes e comportamentos.

Ao longo da vida, vamos aprendendo a gerir estes dois sistemas rivais, não permitindo que a batalha se incline para o lado da satisfação imediata. Com a experiência sabemos que é fácil ceder aos impulsos e extraordinariamente difícil ignorá-los.

O que é que podemos fazer quando não confiamos mais nas nossas promessas?  

A resposta é mais simples do que aquilo que imaginamos. Pedimos ajuda a alguém, em que possamos confiar, que consiga fornecer feedback critica e construtivo.

Nas consultas, algumas pessoas conseguem reequilibrar a balança da motivação entre o sistema 1  e o sistema 2 recorrendo a uma negociação honesta e objetiva consigo próprias.

Conscientes, dos efeitos negativos do curto prazo, conseguem compreender que o sistema nº 1 precisa de ser refreado e optam pelos interesses e necessidades a médio e a longo prazo, característico do sistema nº 2. Todos nós conseguimos recordar uma conversa com alguém importante cujo resultado foi revelador sobre a importância da mudança – de interesses, sensações, desejos, necessidade e valores.

Diante dos mais variados quebra-cabeças, mudamos de várias maneiras e por vários motivos. Para isso, implica motivação, persistência, esperança e coragem com um propósito objetivo.

"É inútil dizer «estamos a fazer o possível». Precisamos de fazer o que é necessário." Winston Churchill

Por João Alexandre Rodrigues

Addiction Counselor

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