Um dos desafios, mais complexos e ao mesmo tempo motivador, a que estou sujeito diariamente no meu trabalho com as pessoas que chegam às consultas é sobre a mudança. Uma grande parte dos temas (e tempo) que abordamos está relacionada com a mudança de rotinas, hábitos, pensamentos e comportamentos (ações). Como é do conhecimento geral, todos nós detestamos mudar, abdicar da nossa zona de conforto em prol do desconhecido e desconfortável, detestamos admitir que estamos errados, que precisamos de ajuda, que nos sentimos fracassados. E em algumas situações, resistimos à mudança recorrendo ao auto engano.

Já lhe aconteceu sentir vergonha e fracassado/a quando alguém diz o quão fácil foi abandonar um determinado comportamento problema/habito? Por exemplo, você fez varias tentativas e tentou de tudo, sem sucesso, para parar de fumar e comenta isso com alguém que afirma, perentório: “Deixar de fumar? Comigo foi fácil… decidi e até hoje nunca mais fumei.” Ou você está com problemas sérios na relação de intimidade com o/a seu parceiro/a romântico há algum tempo,  está confuso/a e ambivalente, e alguém diz: “Se fosse comigo… já tinha resolvido o problema. Tinha terminado a relação. Não sei como tu és capaz de aturar isso.”

A força de vontade pode não ser suficiente, porque quando “tudo falha” poderá conduzir à desistência, ao pessimismo e ao desânimo. Algumas pessoas chegam frustradas às consultas, afirmando: “ Já tentei de tudo, mas comigo nada funciona…” Quando nos sentimos uns “falhados” perdemos a perspetiva, a motivação e a esperança. Paradoxalmente, a sociedade em geral, diante de um problema, evoca o excesso de moralismo e só se interessa por uma única tentativa de mudança, todavia aqueles que triunfam perante a adversidade e conseguem ultrapassar o problema sabem que precisam de tentar e falhar, tentar e falhar, tentar e tentar, mais do que uma vez, duas, três e, em alguns casos, foi fundamental recorrer à ajuda de pessoas.

A questão essencial na mudança não é se já utilizamos determinado processo, mas sim se o utilizamos na frequência suficiente, na altura certa e com compromisso. Só se consegue o sucesso, na mudança, com persistência, talento (arte) e compromisso.

Algumas questões importantes sobre o processo de mudança de hábitos e comportamentos problema

- O que resulta para uma pessoa, pode não resultar para outra pessoa.

- Existem oportunidades para mudar que não podem ser desperdiçadas.

- Mudança é um processo, não é um evento estático. Alguns processos que conduzem á mudança; tomada de consciência, alerta emocional e experiência catalisadora, compromisso, relações de ajuda-mutua, recompensa, auto monitorização (relação custo-benefício)

- As pessoas, quando estão motivadas, conseguem derrubar a resistência e a ambivalência à mudança. Apesar da resistência as pessoas mudam.

- A partir do momento que deixarmos de ignorar o problema começamos a compreende-lo e a enfrenta-lo; não somos perfeitos, mas podemos optar mudar as regras e aquilo que considerávamos como verdade. As coisas têm a importância que decidimos que elas tenham.

- No processo de mudança, ao contrário do que estamos a pensar e a sentir, não estamos a sofrer, estamos a lutar. A vida reserva segredos que só são revelados aqueles que arriscam.

“Viver não é necessário. Necessário é criar.” Fernando Pessoa.

Por João Alexandre Rodrigues

Addiction Counselor

Tel.:91 488 5546

xx.joao@gmail.com

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