Já alguma vez se sentiu angustiado, ansioso e até nervoso por estar a chegar o fim de semana? Já se sentiu cansado por estar vários dias sem fazer nada ou, por exemplo, já interrompeu as férias por não conseguir estar parado? Se já experimentou estas sensações, saiba que se trata de um tipo muito especial de stresse, designado, existencialmente, por stresse do vazio.

Aquele stresse que ocorre quando, simplesmente, não temos obrigações para cumprir, quando não temos um objetivo a atingir e quando não temos nada que nos imponha um ritmo. Sempre nos disseram que temos de ser alguma coisa e que temos de fazer alguma coisa. Estar parado, não fazer nada é estar fora do que é aceite como equilibrado e bom.

Como tal, crescemos ao abrigo da ideia de que, se formos alguma coisa, tivermos alguma coisa e fizermos alguma coisa, existimos como seres humanos válidos. É por isso que nos sentimos seguros se tivermos trabalho, se tivermos família, mulher, marido, filhos, amigos, uma vida social… Todos estes aspetos fazem parte de uma vida plena.

Retirá-los significa uma grande insegurança. Um medo terrível de não sermos. Um medo de acabarmos. Não há modelo para a solidão. Não há modelo para o vazio. Estar no vazio é sentir uma enorme insegurança geradora de medo. Medo de não termos nada. Medo de que nos falte tudo.

Os dias que geram medo

Eu já sofri de stresse do vazio. Foi numa fase dura da minha vida em que trabalhava 14 horas por dia, às vezes mais. Não porque isso representasse um aumento dos meus benefícios financeiros. Trabalhava para ocupar o meu tempo o mais possível. Estar muito ocupada libertava a minha mente do contacto com aspetos que me eram muito difíceis de assumir.

Era como se, deixando de trabalhar, deixasse de existir. E por isso trabalhava ainda mais. Ir de fim de semana significava contactar com a minha solidão, com o facto de não haver ninguém que necessitasse de mim, com a noção de não ter assuntos importantes para resolver. À semelhança de outros tipos de stresse, o stresse do vazio tem origem nos nossos medos.

O medo de não conseguirmos atingir os nossos objetivos, o medo de não sermos aceites, de não estarmos à altura da situação, de fraquejarmos. No meu caso, bem visto, o stresse era gerado pelo medo da solidão ou, empregando um termo do existencialismo, o meu stresse era provocado pelo receio do nada e pelo medo de sentir o vazio. Hoje tenho plena noção disso.

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O que fazer para ultrapassar o problema

Se quer diminuir o seu stresse, deve começar por assumir os seus medos, ao invés de adotar comportamentos que o impedem de contactar com a realidade. Deverá aceitar os seus medos como parte integrante de si, como ajudas preciosas para colocar limites contra atividades e pessoas que o possam estar a usar, a inibir ou a controlar a sua capacidade inata de resistir, de dar a volta por cima. Aceitar que os nossos medos nos angustiam, provocando-nos situações limite, incluindo stresse e traumas.

Tal significa aceitar a nossa ambiguidade, a nossa humanidade. Aceitar que, de facto, nós não somos nem tudo bom, nem tudo mau, mas um conjunto harmonioso de muitas características. Aceitar que temos medo é, pois, a primeira atitude a tomar quando nos sentimos em stresse. E a pergunta a fazer deverá ser «Afinal, estou com medo de quê?»… Talvez venha a descobrir que aquilo de que tem medo existe apenas na sua mente.

Texto: Teresa Marta (mestre em relação de ajuda e consultora de bem-estar)