É o medo mais natural do ser humano, até porque crescemos a ouvir que é uma certeza, a única que temos. O cérebro, felizmente, está naturalmente capacitado para que não pensemos no fim da vida tal, caso contrário, seria impossível seguirmos em frente, termos objetivos, constituirmos família, trabalharmos, amarmos. No fundo, vivermos. Em termos existenciais, o medo da morte significa tomarmos consciência da nossa finitude.

Que somos seres a prazo. Trata-se de uma das questões que a psicoterapia existencial humanista mais trabalha pois é um medo ao qual não podemos escapar. Algures na nossa vida, sobretudo no final do prazo, não conseguimos fugir ao confronto com a consciência de que o fim é real. Teresa Marta, coach para a coragem e CEO da Academia da Coragem, ensina a lidar com a perda sem receios nem ansiedades.

O medo da morte tem idade?

Não. Todos podemos senti-lo, até as crianças, embora na linha do tempo da nossa vida é natural que ocorra sobretudo a partir do momento em que nos sentimos a envelhecer. Somos socializados a ver o envelhecimento como início do fim e o medo de envelhecer está muito relacionado com o receio de perdermos a nossa autonomia, o autocontrolo, as nossas capacidades mentais e biológicas.

Leva-nos também a ter medo de sermos abandonados, colocados de parte. De já não sermos necessários. Quando o medo da morte se instala a vida perde significado.

O que (não) se deve dizer às crianças sobre a morte?

O entendimento do que é a morte exige maturidade cerebral. As crianças, entre os seis e os nove anos, apercebem-se do conceito (as pessoas deixam de aparecer) e isso leva-as a questionarem-se sobre o que significa morrer. Como pais e educadores, contudo, raramente lhes damos oportunidade para manifestarem o que sentem e expressarem as suas dúvidas, porque nós adultos temos medo da morte e não sabemos como explicá-la.

Neste aspeto, contagiamos as crianças com medos que sentimos. Qualquer ausência de explicação ou frases como «Isso não é conversa para a tua idade» só aumenta a necessidade de procurar respostas por si mesma, podendo a criança encontrar soluções em fontes pouco seguras.

O que fazer quando o medo acontece?

Se a ideia da morte nos perturba e é recorrente, devemos fazer um exercício de autoanálise perguntando a nós mesmas se esse medo tem alguma correspondência real. Por exemplo, se tivermos perdido os nossos pais ou pessoas muito próximas podemos questionar a nossa própria vida. Isso é natural e não significa qualquer tipo de psicopatologia. Mas caso o medo da morte não tenha resultado num facto real e concreto que tenhamos vivido ou presenciado e, sobretudo, se é um medo recorrente e incapacitante deve procurar ajuda.

Se, devido a esse medo, deixamos de estar disponíveis para a vida, nos isolamos, não vamos ao médico ou não queremos fazer exames com medo dos resultados ou numa fase mais grave, deixamos de trabalhar, não nos arranjamos, não fazemos higiene pessoal, é necessário recorrer com urgência a um tratamento psicoterapêutico.

Veja na página seguinte: Como amenizar o medo da morte

Quem tem mais medo da morte?

A lista é grande e inclui:

- Vítimas de grandes traumas físicos ou psicológicos, nomeadamente de guerra
- Vítimas de violência doméstica e/ou de bullying
- Pessoas com doença oncológica, degenerativa ou incapacitante
- Pessoas sós, isoladas, com relacionamentos pouco estruturados
- Pessoas que passam pela morte de familiares e amigos próximos
- Crianças e jovens que tenham passado pela morte dos pais
- Grávidas que temem a morte no parto
- Pessoas após os 70 anos que se focam no aproximar do fim da vida
- Recém-reformados que deixam de ter uma vida profissional ativa

Como amenizar o medo da morte?

O mais importante é não se centrar em grandes objetivos, a médio e longo prazo. Foque-se, sim, no presente e viva ao minuto as coisas boas que tem agora. Estas são as seis regras a seguir:

1. Nunca deixe de fazer o que gosta porque tudo parece demasiado longe, complicado ou impróprio para a idade.

2. Nunca deixe de aprender, de estudar ou de conhecer novas realidades.

3. Afaste-se de pessoas negativas, focadas em doenças e carências emocionais.

4. Não se isole. Programe os dias, tenha uma agenda de atividades semanal, com objetivos diários.

5. Tome consciência do seu corpo e exercite-o. Ande a pé, inscreva-se no ginásio ou na dança.

6. Descubra mais sobre si. Faça workshops de autodesenvolvimento.

O que fazer para lidar com situações traumatizantes?

Acentuam o medo que temos em relação à morte. Para lidar com elas, faça um autodiagnóstico. Perceba se a situação que viveu alimenta pensamentos recorrentes ao ponto de limitar a sua vida. Não se isole e não desvalorize sintomas como tristeza, angústia, medo, perturbações do sono ou alimentares, tremores, necessidade de isolamento. Podem significar que necessita de um acompanhamento especializado na área do coaching, psicoterapia ou psiquiatria.

Veja na página seguinte: O sentido faz a nossa vida num mundo desorganizado

Que sentido faz a nossa vida num mundo tão desorganizado?

A Psicologia Humanista Existencial, corrente que nasceu nos Estados Unidos da América na década de 1950, tem dado particular relevo ao estudo e terapias relacionados com o medo da morte. Foca-se no que temos hoje e como o podemos usar para gerir a nossa vida, incertezas, dúvidas, ansiedades e medos. Procura responder a perguntas como «Afinal quem somos?» e «Que sentido faz a nossa vida num mundo tão desorganizado?», entre outras.

É um método terapêutico usado, nomeadamente, em pessoas (mesmo jovens) atingidas por doenças graves que perdem o sentido da vida. Envolve sessões de psicoterapia individuais e em grupo, em que o objetivo é diminuir a solidão existencial. Evitar o isolamento e a tentativa de desistir (antes mesmo de saber se os tratamentos resultam), aumentando a noção de poder pessoal e tentando devolver a esperança de que o momento presente pode ser um momento de cura, são outras das estratégias a adotar.

Texto: Teresa Marta (coach para a coragem e CEO da Academia da Coragem)