Não é só o sonho. O medo também comanda a vida. E todos, sem exceção, temos a capacidade de sentir medo. O medo mais comum surge da adaptação das pessoas ao desconhecido. Outras vezes, gera-se devido à possibilidade de rejeição ou nasce do desconhecimento, como no caso de quem tem medo de andar de avião que, por vezes, desconhece por completo o seu sistema de funcionamento e não sabe que a probabilidade de este falhar e de cair é mínima. Todos estes processos são normais.

Mas se sente que os seus receios se traduzem num estado de nervos que limita o seu dia a dia e que existem certas coisas que o bloqueiam e a impedem de agir normalmente, talvez necessite de aprender a pôr-lhes um travão. Um estudo divulgado no site da Nature Neuroscience em 2011 garante que os estados de receio afetam a memória ao ponto do cérebro não conseguir identificar a verdadeira dimensão dos perigos potenciais que o rodeiam.

Mas afinal quem é que tem mais medo? De acordo com psicólogo clínico Fernando Magalhães, tem uma maior probalidade de desenvolver sensações de insegurança, sintomas fisiológicos de ansiedade (batimento cardíaco, por exemplo), pensamentos negativos irracionais e sentimentos desagradáveis ou catastróficos se:

- Vive sob altos níveis de stress profissional e emocional.

- É uma pessoa com excesso de responsabilidades que vive eternamente preocupada com a sua produtividade e perfeição (mesmo sabendo que não existe).

- É muito exigente consigo mesmo, autocritica-se excessiva e destrutivamente e sente uma espécie de obsessão por atingir a fama ou o êxito ou por ser a melhor mãe ou pai do mundo.

- Tem uma atenção selectiva a estímulos negativos do meio ambiente, exagerando a sua perigosidade.

É normal ou tenho algum problema?

O medo é uma sensação absolutamente normal. Pode, no entanto, transformar-se num problema quando:

- É desproporcionado perante o perigo real da situação

- É involuntário

- O leva a evitar a situação ao máximo

- Limita o seu comportamento e atitudes

- O que sente não corresponde à sua idade, por exemplo, ter medo do escuro

- É contínuo e persiste ao longo do tempo

- Provoca um estado de ansiedade exagerada relativamente à situação e desencadeia um estado de nervos desmedido

Veja na página seguinte: Por que sentimos medo?

Por que sentimos medo?

A teoria é defendida desde há muito por muitos especialistas internacionais de renome. Os medos não são hereditários, os medos ganham-se. Têm diferentes graus de intensidade e provocam efeitos distintos. Conduzem a pessoa a evitar as situações que receiam, condicionando a sua vida ao medo, quando se trata de fobias ou medos extremos, ou, em contrapartida, a enfrentar a situação ou objeto que se receia.

«Por vezes, existem factores educacionais (pais que alertavam muito para os perigos da vida) ou mesmo características da personalidade (como querer o controlo permanente das situações, excessiva dependência ou negativismo em relação aos outros) que tornam mais propício o aparecimento de ansiedade», explica Fernando Magalhães.

Medo versus pânico

Alguma vez sentiu suores frios que percorrem as costas e, em poucos minutos, encharcam todo o seu corpo ou as suas mãos começaram a tremer de forma incontrolável, como um tique nervoso, ou teve problemas em respirar? O seu ritmo cardíaco aumentou? Talvez esse episódio se tenha efectivamente tratado de um ataque de pânico que acontece quando o medo que sente se torna incontrolável. São sintomas reais de angústia, que não são mais do que a consequência do medo levado ao extremo.

A reacção de uma pessoa ao medo pode ser variável, dependendo do seu estado de espírito. Esta variação tende a ser ainda mais perturbante porque a pessoa em causa não compreende a razão pela qual umas vezes consegue suportar a situação, e outras não, gerando uma perda de confiança e de auto-estima.

Os vários tipos de medo

A lista inclui:

- Crises de pânico com sintomas de apreensão

- Medo ou terror acompanhados de sensação de morte iminente

- Falta de ar

- Palpitações

- Opressão

- Sensação de asfixia e/ou de bloqueio

Veja na página seguinte: Medos e fobias que importa aprender a combater

Medos e fobias que importa aprender a combater:

- Agorafobia ou ansiedade em lugares ou situações de onde seja difícil sair ou onde seja difícil de encontrar ajuda em caso de pânico.

- Ansiedade perante situações ou objetos como, por exemplo, andar de avião, estar junto a um precipício, ver um determinado animal ou sangue.

- Ansiedade social em situações como falar em público devido ao receio de ser avaliado negativamente pelos outros, de ser gozado, de cometer um erro que seja observável pelos outros ou de mostrar ansiedade.

- Fobias, em geral. De animais, de elementos da natureza, de doenças... A lista é infindável!

Como se tratam os medos e as fobias

Existem recursos seguros e eficazes que pode pôr em prática a partir de hoje:

- Mude a sua forma de actuar e de pensar. Seja mais flexível.

- De que é que tem medo? Analise o que o faz surgir e de onde vem o receio.

- Depois de conhecer bem o que lhe causa medo poderá mais facilmente enfrentá-lo.

- Conheça a sua própria forma de processar informação: o que pensa sobre o mundo, sobre os outros e sobre si. Estes pensamentos condicionam o seu estado de espírito e a sua conduta. Tente identificar os pensamentos que a inibem e verifique se são racionais e válidos. Substitua os que não são.

- Se a situação está realmente descontrolada e se a ansiedade tomou conta de si, procure um psicólogo. Tente perceber, juntamente com ele, quais são os seus medos e dúvidas. Confie em quem o tenta ajudar. Um profissional saberá orientá-lo.

Texto: Ana Catarina Alberto com Fernando Magalhães (psicólogo clínico no Centro Clínico e Educacional da Boavista)