Amortalidade. O termo foi criado há já cerca de seis anos, no início da década de 2010, por Catherine Mayer, bureau chief na revista Time em Londres, jornalista há mais de 27 anos e autora do livro «Amortality», publicado no Reino Unido na altura. Não se trata apenas de uma tendência mundial e crescente, associada ao desenvolvimento da ciência e aumento da esperança média de vida.

Não se trata apenas de, atualmente, podermos recorrer a técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas que nos permitem chegar aos 70 anos a parecermos ter apenas 50. A característica dos amortais que mais se destaca é o facto de, desde o final da adolescência até à morte, viverem a vida da mesma forma, com a mesma intensidade. Para os amortais não existe a noção de comportamento apropriado à sua faixa etária.

Quando são mais jovens fazem coisas que não são «para a sua idade», como alguns diriam. Quando são mais velhos, comportam-se como se fossem mais jovens. Se os amortais tivessem um lema, este possivelmente seria «Carpe Diem», aproveitar o momento.

Aproveite para ficar a conhecer esta espécie que, ao que parece, não está em vias de extinção, muito pelo contrário. Aproveite o momento para refletir se também é ou está a caminho de se tornar amortal.

O perfil de um amortal

Para escrever «Amortality», Catherine Mayer despendeu mais de 100 horas em entrevistas com o intuito de definir o que é a amortalidade, caracterizar o perfil de um amortal e saber quais são as suas motivações. Por outro lado, a autora investigou a fundo os avanços científicos recentes e em curso em torno do prolongamento dos anos de vida e da juventude.

Em termos gerais, a amortalidade é uma epidemia social que se manifesta através de atitudes, valores e comportamentos. Não é transmitida através da genética, mas sim culturalmente. Pode ser encarada como fruto da prosperidade, influenciando comportamentos desde a juventude até à terceira idade, abrangendo vários extratos socioeconómicos e sendo transversal a quaisquer barreiras geográficas.

Adeptos da cosmética, botox e cirurgias, os amortais geralmente parecem mais novos do que são e a sua maneira de vestir condiz com a idade que aparentam ter. A sua vida emocional e financeira é, muitas vezes, caótica. Podem ter filhos muito cedo, muito tarde ou até nunca chegarem a tê-los. São consumidores ávidos de música, filmes e gadgets e frequentadores do ginásio.

Trabalham demais e o avançar da idade não parece interferir na sua produtividade e energia. Podem praticar mergulho aos 80 anos (como é o caso do pai de Catherine Mayer) e nunca se consideram demasiado novos ou demasiado «velhos» para se apaixonarem, casarem, terem uma aventura, criarem o seu próprio negócio, ou emigrarem.

Entre alguns amortais famosos, a autora destaca Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones, além de Simon Cowell, membro do júri dos programas «The X-Factor», «American Idol» e «Britain’s Got Talent», todos eles já com versões portuguesas nos diferentes canais nacionais.

Bem sucedido, controverso, workaholic e preocupado com a sua imagem, Simon Cowell afirmou publicamente ter recorrido várias vezes ao botox e confessou planear que o seu corpo fosse criopreservado através de uma técnica em que, após a morte, o corpo é conservado a temperaturas muito baixas.

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Os amortais e a morte

A perspetiva de virem a ter uma doença grave não preocupa os amortais, pois acreditam que a ciência evoluiu tanto que, diariamente, é dado mais um passo no combate a várias patologias e na direção de uma vida cada vez mais longa, talvez um dia eterna. Os amortais não zelam especialmente pela sua saúde e, em termos de estilo de vida, não alteram os seus (maus) hábitos porque ainda não sentiram, na pele, essa necessidade. A morte não os assusta.

Aliás, a diminuição da taxa de mortalidade nos países desenvolvidos conduziu à proliferação da amortalidade um pouco por todo o mundo. Os amortais não estruturam o seu dia a dia em torno da inevitabilidade do declínio e da morte porque, simplesmente, preferem ignorá-la.

Os benefícios de ser amortal

Revolucionária na forma como aborda o fenómeno do envelhecimento, a amortalidade é um conceito dotado de otimismo, já que nos leva a pensar (e a agir em consonância) que somos capazes de tudo, independentemente da idade. Ou seja, que a nossa idade verdadeira depende do modo como a percecionamos e não de como a cronologia dita.

Este conceito deita por terra todos os preconceitos que existem em torno da idade e do avançar desta. Em termos económicos, os amortais, por geralmente adiarem a reforma o maior número de anos possível, contribuem para a produtividade do seu país por um período muito longo. Além disso, tendem a ser pessoas com menores níveis de ansiedade, de stresse e até de depressões.

Os riscos de ser amortal

O aumento da população envelhecida acarreta problemas ligados à saúde e, também, de ordem social e económica, entre outros. Por outro lado, este fenómeno, que não é exclusivo de uma única geração, engloba também o risco de deixarem de existir regras para os mais novos que, ao adotarem comportamentos e estilos de vida adequados a adultos, não sentem que estão a transgredir, já que «a idade é apenas um número», como muitos dizem.

Nos amortais, encontra-se também uma certa superficialidade e narcisismo, tanto no que diz respeito à preocupação excessiva com o aspeto físico como, igualmente, em relação à forma um pouco inconsequente como se posicionam na vida, fazendo tudo aquilo que desejam e evitando encarar certos problemas. A pensar neste tipo de perfil de consumidor, um pouco por todo o mundo há marcas que têm vindo a desenvolver produtos e estratégias de comunicação direcionadas.

Texto: Teresa d'Ornellas