Apresentar uma figura esbelta e tonificada tem vindo a tornar-se uma rotina e um desafio para muitas pessoas. Em todos os casos há um factor comum que não devemos subestimar: o peso da desaprovação cultural e social, que é doloroso sobretudo nos meios urbanos e industrializados.

Longe de ser somente um assunto do foro médico, o mercado abriu-se e as hipóteses de escolha ampliaram-se; podemos actualmente optar por várias abordagens que nos colocam perante um enorme leque de possibilidades.

Multiplicam-se assim as oportunidades de escolha, quanto a medicamentos e salões de estética, cujas promessas de resultados rápidos e com reduzido esforço tornam irresistivelmente atractivo um eventual sucesso.

Neste artigo pretende-se explorar a importância do acompanhamento psicológico no alcance do êxito em casos de programas de saúde, estética e beleza. Referimos as razões que levam muitas pessoas a declinar, consciente ou inconscientemente, uma terapia de acompanhamento durante o processo de emagrecimento, ou em casos de programas de alteração física mais radicais.

Explicamos ainda de forma sumária as razões pelas quais este acompanhamento pode ser fundamental para a manutenção da boa forma física.

Perguntas e respostas

Em consequência das alternativas que nos são apresentadas é natural que se vá ganhando uma consciência menos clara no que respeita aos primeiros passos essenciais na área da estética, da beleza e do bem-estar físico, como sejam consultar um médico antes de iniciar um cuidado.

Um outro passo quase sempre declinado tem a ver com as motivações de cada pessoa para se deixar conduzir através de uma inquietação constante relativamente ao seu aspecto físico.

Modificar o corpo, ou emagrecer: Porquê? Para quê?

As respostas nem sempre são simples, mas quando elas surgem duma forma honesta e em consciência, podem reforçar os cuidados e transformá-los no êxito esperado. Existem inúmeros casos de pessoas incapazes de manter as suas “promessas” de mudança de comportamentos quando aderem a um programa de alteração de visual.

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Ao se depararem com pessoas que fazem periodicamente estas promessas e que entram num tipo de rotina que – se ainda não começou – acabará por tornar-se uma espécie de montanha russa da estética, os psicólogos tentam fazer com elas o ponto da situação.

Assim, estes profissionais devem ajudar os perfis reincidentes em tentativas de modificação corporal a formular as perguntas: porquê?; para quê? A intenção é ajudá-las a encontrar as respostas correctas, ou seja, as respostas que façam sentido para elas e não para o mundo que as rodeia.

A ausência destas respostas reflecte-se em dificuldades emocionais e estas conduzem à desmotivação quanto à necessidade de mudança da sua forma física. De facto, quando não se sabe porque se quer algo ou qual o caminho para atingi-lo, as tarefas ficam muito mais complicadas.

Compreensão e reflexão

É importante combater a desmotivação que se vai impondo ao longo do tempo em que decorre um programa de alteração de visual; de uma maneira geral, esta desmotivação deve-se ao facto de as pessoas não terem sido desde logo transparentes quanto às justificações emocionais que validam a aceitação espontânea de um programa deste tipo, sobretudo quando se trata de emagrecer através de redução e alteração alimentar.

Quer se trate de resultados imediatos ou de longo prazo, os processos psicológicos envolvidos e as suas consequências nem sempre são perceptíveis. Exemplo: num caso de obesidade mórbida ou de peso excessivo, é possível produzir perdas de peso previsíveis através de dietas de baixo índice calórico, e isso, à partida, é consensual. Contudo, mesmo nestes casos, a pergunta que sugerimos é: “quais, e sob que condições, uma alteração do meu corpo é duradoura e pode, ou deve, ser produzida?”

Para responder a esta questão sugerimos que se pense nos factores que contribuem para o desenvolvimento da necessidade de alterar a forma física. Qualquer que seja o programa seleccionado, ele irá originar uma mudança significativa que não se cinge ao corpo mas que, pelo contrário, começa no pensamento.

Um caso real

Rita era uma senhora que se achava feia e que, para chegar a um padrão de beleza, tinha procedido a um paralelismo entre si e as modelos das revistas que habitualmente comprava.

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Em termos comparativos, ela achava-se magra; porém, tinha sobre o seu rosto um sentimento menos simpático e, por isso, tinha-se deixado enredar em programas de alteração do mesmo, iniciando um esquema psicológico engenhoso a partir do qual se autodefraudava.

Nos últimos anos, esta fase retirara-lhe alegria, muitos euros da conta bancária e, mais tarde, o ânimo fundamental para a vida. Sem conseguir compreender as razões daquilo a que ela chamava “uma irracionalidade”, Rita chegara a um ponto em que não sabia como viver sem ter agendado programas de alteração da face, ainda que falhasse muitos deles.

Contudo, enquanto a ideia de voltar a moldar-se estava no seu planeamento de curto ou médio prazo, ela mantinha uma expectativa. Os especialistas, ao tomarem conhecimento com esta senhora, ajudaram-na em primeiro lugar a travar o processo que ela própria criara e em que reincidia, quando este processo fazia já parte enraizada da sua vida.

Com o acompanhamento indicado, Rita foi ajudada e compreendeu finalmente quais as suas motivações intrínsecas. Os especialistas são da opinião que as pessoas encontram as suas soluções, precisando apenas de alguém que as ouça, entenda, e realize com elas uma caminhada que seria extremamente sofrida se realizada em plena solidão.

Todos queremos ser belos

À partida, o conceito de “beleza” não é consensual. Não há uma estatística que nos indique quem é bonito, quem está na média e quem está acima dela. No entanto, algumas pessoas dentro da “normalidade” autocolocam-se no ranking dos indesejáveis e aí permanecem, infelizes para o resto das suas vidas.

Por outro lado, há aquelas pessoas que, na busca da felicidade mais imediata, se alimentam de uma forma desmedida, são desenfreadas na aquisição de peças de roupa, acessórios, maquilhagem e outros produtos de beleza, ou absorvem compulsivamente programas de modificação do seu corpo.

Estes exemplos podem levantar o véu sobre um possível desajustamento emocional; o sentir-se “feio” e “não desejado” transforma-se num sentimento permanente que origina comportamentos compulsivos; e a pessoa diz para si mesma o equivalente a: talvez haja uma correlação entre a minha beleza, as minhas expectativas de vida e o sucesso que eu não consigo alcançar.

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A espiral de tentativas para conseguir o equilíbrio transforma-se então num processo de adição profundo com enraizamentos que podem ser resolvidos. A “resistência passiva” é um traço característico das pessoas que andam para lá e para cá no mundo das dietas e de outras tentativas de mudança corporal. Elas vão reincidindo de forma continuada nestas experiências, forçando o corpo a transformações que a mente não resolveu de uma forma transparente.

Deve ser procurada ajuda psicológica para que os programas de alteração corporal sejam acompanhados desde o início e, desta forma, a pessoa possa ser soberana em relação às transformações que deseja realizar.

E em caso de obesidade…

Ainda que se trate de pessoas com um grau médio ou severo de obesidade, os psicólogos aconselham que uma rotina alimentar seja autoprescrita (alimentos que pode escolher), embora dentro de fronteiras que serão sugeridas pelo médico.

E porquê? Porque é mais fácil modificar as suas rotinas substituindo a autoridade racional de outra pessoa pelo privilégio de exercitar a sua liberdade de escolha a qual, ao contrário, significaria autonegação contínua.

Estudos indicam que é mais saudável se a pessoa obesa tiver uma fronteira, ampla tanto quanto possível, de alimentos que pode escolher, em lugar de ser compelida a seguir rigidamente uma dieta prescrita pelo médico ou nutricionista. Essa rigidez fará a pessoa sentir-se como que dentro de uma cinta, sendo nesses casos normal que tente libertar-se recorrendo a subterfúgios diversos.

Complicado? Não é: basta pensar que somos mais resolutos e determinados sobre aquilo que decidimos para nós mesmos do que sobre aquilo que terceiros nos impõem.

Os casos de obesidade não se cingem à questão fisiológica de perda de peso. Esta torna-se a tecla mágica que parece abrir as portas à realização de esperanças e devaneios. É fácil imaginar que a vida começará depois da gordura em excesso ter desaparecido e isso pode transformar-se no ponto crítico e trágico da questão.

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Na verdade, as potenciais realizações pessoais podem não estar directamente relacionadas com a perda de peso, como sugerimos atrás; em pessoas obesas, ou naquelas que têm um comportamento alimentar exagerado, comportamento compulsivo, parece sugerir uma forma importante para acalmar o descontentamento sentido pelos objectivos que a pessoa não consegue atingir, e não o contrário.

E depois da mudança?

Atingir o peso ideal ou conseguir as mudanças físicas desejadas pode tornar-se uma realidade. Sem acompanhamento terapêutico, porém, poderá tornar-se difícil conquistar paz interior se, em simultâneo, o ajustamento emocional não nasce de forma concomitante.

Acontece que algumas pessoas continuam a sofrer uma tensão interna mesmo depois das mudanças. Por vezes, o colapso psicológico não é imediato e é tão imperceptível aos olhos dos demais que parece que as pessoas se sentem realmente bem; e o tempo vai passando após terem adquirido a nova meta.

Porém, convencidas de serem desajeitadas ou inadequadas, estas pessoas ficam enredadas numa preocupação reincidente e excessiva com a sua estrutura física e a aparência. Quando, apesar de todas as transformações, o sucesso expectável não se materializa, recomeçam um novo ciclo de sofrimento.

Por muito indesejável que a pessoa se sinta, a aparência deve ser perspectivada como um sintoma que serve uma importante função num ajustamento de vida. As diferenças percepcionadas pelo próprio como negativas podem ser extremamente pesadas e, sem acompanhamento, acabam por regressar.

Alguns aspectos essenciais no tratamento de pessoas com necessidades de alteração física, partem da indispensabilidade de reavaliação correctiva dos seus níveis de aspiração.

Só quando perseguem metas menos megalómanas e mais realistas, passíveis de realização, estas pessoas conseguem alimentar-se de uma forma correcta, podendo então ingressar em programas de redução com soluções e êxitos duradouros e adaptados às suas vidas.

O objectivo é transformar os sonhos irreais de perda de peso e de transformação corporal, em objectivos reais, concretos e expectáveis.

Fotografia: ©Amy Walters-Fotolia.com
Agradecimentos: Fernanda Mendes Barata, psicóloga, Saúde Mental de Pessoas e Empresas – Humana Mente