É descrito como uma desconexão rápida e intensa da realidade à sua volta, como se alguma coisa se tivesse desligado e não se reconhecesse o sítio onde está (quando este é normalmente familiar), não se conseguindo relacionar com ele ou sentindo-o como se não fosse real.

Este sintoma é também muito difícil de compreender por alguém que não tenha passado por algo semelhante, uma vez que é imensamente subjectivo e difícil de explicar. Assim, é natural que as outras pessoas possam achar estranho ou até duvidar do que se está a explicar quando o descreve.

Normalmente as desrealizações acontecem num pico de stress e tendem a não surgir como um sintoma isolado de ansiedade.

Possíveis causas da Desrealização:

O que se pensa é que este pode ser um mecanismo de defesa e adaptação quando o sofrimento, ansiedade ou dor são demasiado elevados para o corpo suportar física ou emocionalmente. É como se a mente quisesse desligar o mundo lá fora por forma a reduzir o stress. Como ela continua a trabalhar quando esta desconexão acontece, o mundo parece subitamente irreal e estranho, como se não conseguisse interagir com ele ou retirar informação do mundo que o/a rodeia.

A melhor forma de explicar o que acontece numa desrealização é como se fosse transportado subitamente para um local que não só não conhece como não consegue compreender de todo. Olhando à sua volta, parece não conseguir processar a informação que recebe nem seguir ou perceber o que acontece à sua volta. Pode ser vista como um sonho/pesadelo do qual parece não conseguir sair.

Como pode calcular, esta é uma experiência imensamente assustadora e fora do comum. Em alguns casos a desrealização pode vir acompanhada por despersonalização, que é quando a mesma desconexão acontece relativamente ao próprio corpo ou à própria mente, como um observador exterior de si mesmo/a.

Como parar/controlar a Desrealização:

Quando a desrealização vem da condição de Ansiedade, não é perigosa. Ela aparece apenas em períodos de stress e agudo e normalmente reduz passado algum (pouco) tempo. Ainda assim, quando algumas pessoas aprendem a regular a ansiedade, a desrealização nunca mais aparece em termos sintomáticos.

Em casos em que a desrealização surge associada a perigo para o próprio (como alguns casos de automutilação) devem ser tomadas medidas mais cuidadosas e protectoras, como medicação específica a perturbação que se identificar e para a gravidade apresentada na mesma.

Uma das estratégias para lidar com a desrealização é o Mindfulness, uma prática meditativa centrada no momento presente e na aceitação e atenção plena ao que está a acontecer no aqui-e-agora. Esta estratégia implica prática intensa, para que possa ser possível não só regular os níveis de ansiedade como aceitar que a própria experiência de desrealização é passageira e começar a ter recursos para lidar com ela antes, durante e após ter ocorrido. Uma das formas de aplicar o Mindfulness é envolver-se numa tarefa de forma tão focada e tão presente momento-a-momento que a conexão ao mundo real acaba por acontecer natural e gradualmente. Alguns exemplos:

- Tocar em algo frio como um cubo de gelo ou quente como uma chávena de chá ou café. Focar-se nessa tarefa o mais possível e em todas as sensações de frio ou calor que daí advenham e na resposta do seu corpo;

- Beliscar-se para sentir que o seu corpo é real e que consegue sentir coisas e reagir, mesmo que não se consiga conectar com o mundo à sua volta;

- Tentar encontrar um objecto relativamente simples e perceber o que é, que formas tem, por que partes é composto e o que sabe sobre esse mesmo objecto;

- Contar quantas janelas vê na rua por onde está a passar, quantos carros amarelos passam por si, quantas flores tem a toalha da sala ou o quadro da parede;

- Utilize os seus sentidos da forma mais ampla possível, é através deles que a conexão com o mundo voltará a acontecer mais depressa, respeitando sempre o tempo que demorar, aceitando que pode não ser no segundo a seguir mas alguns segundos depois.

Estratégias de relaxamento, um plano de regulação da ansiedade e o acompanhamento psicoterapêutico podem ajudá-lo/a a lidar com este sintoma tão poucas vezes compreendido.

Ana Sousa

Psicóloga Clínica

Psinove – Inovamos a Psicologia

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