A reação à perda de emprego pode suscitar diferentes reações, dependendo da experiência de vida, do modo de pensar e de encarar as adversidades, mas também do número de anos passados no cargo perdido e do efeito surpresa da notícia.

Quando o desemprego acontece, o medo, a vergonha, a culpa e até a sensação de perda de identidade pessoal podem assaltar quem se vê obrigado a iniciar uma nova etapa da sua vida profissional e social.

A primeira regra para superar esta fase é manter a autoestima e a autoconfiança robustas. Passo a passo, saiba como consegui-lo de uma maneira mais rápida, eficiente e sustentável.

1. Faça o luto

Perder o emprego a que se dedicava desde 2003 foi sentido por Sara Silva, ex-chefe de redação de uma publicação durante oito anos, como «se tivesse ficado sem chão. é angustiante pensar que demos tudo a uma empresa que, na altura da saída, só nos viu como um número», lamenta. Para superar este sentimento, Paulo Motta Marques, terapeuta, sublinha ser importante parar, serenar e pensar. «O desemprego poderá ser um momento de reflexão e de transformação. É necessário tempo para elaborar esta perda e construir algo de novo. Não é fácil, depende da idade, qualificações e características pessoais, mas é preciso acreditar que se tem potencialidades para assumir novos desafios».

Independentemente dos anos de vida que dedicou à empresa, tenha presente que o desemprego não é culpa sua, mas um efeito de fatores que não dependem só de si, como a conjuntura económica. A duração do luto que terá de fazer para superar a perda de emprego oscila «de pessoa para pessoa e em função da situação financeira», mas não deverá ser uma fase demasiado longa. «Ficar sem nada para fazer durante muito tempo catalisa a depressão», adverte o especialista.

2. Aceite que a vida mudou

«É importante elaborar psicologicamente o acontecimento. Assumir que há situações que, por mais complicadas que sejam, fazem parte da vida. Aceitar a realidade com resiliência, por mais injusta que seja, e aprender a viver com o que se tem, não entrar em depressão ou culpabilizar-se e não se desvalorizar», aconselha o especialista.

Substitua os pensamentos negativos e de autocomiseração, como «porquê eu?» ou «nunca vou voltar a encontrar emprego» por pensamentos otimistas e atitudes pró-ativas. «É importante que a pessoa acredite em si e procure novas oportunidades», sublinha o terapeuta. Levante-se de manhã como se fosse trabalhar. Cuide da sua imagem, mantenha-se em forma e faça uma alimentação cuidada. mais do que nunca, é essencial que salvaguarde a sua autoimagem e a sua saúde.

3. Reorganize as finanças e peça ajuda

O estado das finanças pessoais e da duração do subsídio de desemprego podem atenuar ou agravar a experiência do desemprego.

Se está numa situação financeira precária, será importante cortar, o que for possível, nas despesas e reajustar hábitos para rentabilizar o dinheiro disponível.

Recorra a pessoas próximas para ter apoio temporário. «O empréstimo de uma pessoa amiga ajudou-me a não entrar em colapso financeiro», recorda Paula Rodrigues.

«Às vezes, é preciso engolir o orgulho», conta esta mulher, que trabalhava numa clínica médica da zona centro, há três anos.

4. Valorize as suas qualidades

A ansiedade de estar sem emprego e sem ordenado pode também levá-la a aceitar trabalhos mais precários ou com características que não são a melhor opção para si. Foi o caso de maria Ascensão, ex-funcionária do único call center da Segurança Social do país. «Cheguei a emigrar para França para trabalhar num hotel, mas senti demasiadas saudades de casa. Tive de regressar», lamenta. Paulo Motta Marques considera que, em contexto de desemprego, «também é muito importante o apoio e incentivo da família».

Invista em formação ou aposte noutras áreas. Considere a hipótese de trabalhar em áreas alternativas à da sua experiencia profissional anterior de que goste realmente. Enquant não arranjar emprego, aproveite o tempo livre para apostar em workshops, ações de formação, ler e fazer voluntariado. aprenderá, poderá alargar o seu leque de contactos e sentir-se-á útil, o que é fundamental para que a sua autoestima não saia beliscada de todo este processo.

5. Estabeleça objetivos e não se isole

O trabalho, como refere o psicólogo, é «um organizador individual e coletivo e a sua falta pode ser um fator de desorientação que transtorna a pessoa e se repercute na família». Ao perder o emprego, não perca o rumo. «É necessário persistência e iniciativa, focar-se em objetivos realistas e ao seu alcance», sugere. Estabelecer uma rotina diária é fundamental para conseguir iniciar um novo capítulo na sua vida e ajustar-se psicologica e emocionalmente.

Faça uma lista de atividades diárias a concretizar e estabeleça metas para valorizar o currículo. Esteja atenta a anúncios nos jornais e sites de emprego. Procure estar com amigos, não passe horas a ver televisão. Recupere ou estabeleça contactos sociais. Falar com pessoas em situação similar também pode ser muito estimulante e empreendedor, além de constituir um bom suporte para a autoestima.

Texto: Fátima Lopes Cardoso  com Paulo Motta Marques (terapeuta e especialista em psicologia do trabalho e das organizações)