«Mulheres que usem um sutiã apertado o dia inteiro e que, para além disso, durmam com ele vestido, estão mais sujeitas a padecer de cancro da mama do que aquelas que não o fazem». O alegado alerta é dado por um documento que anda, há anos, a circular por e-mail, supostamente baseado em estudos científicos. Será que devemos seguir o exemplo das feministas e queimar os nossos sutiãs? Com a colaboração de Pelicano Borges, médico da Sociedade Portuguesa de Senologia, desmistificamos esta informação:

- O mito

Dezenas de estudos indicam que a má alimentação e a falta de exercício são os principais responsáveis pelo aparecimento de cancro da mama. O estudo «Bra and Breast Cancer Study» concluiu que as mulheres com cancro da mama usaram, ao longo das suas vidas, sutiãs apertados e durante maiores períodos de tempo do que as mulheres que não padeciam desta doença. Quando uma mulher usa um sutiã demasiado apertado, os seus seios são comprimidos, encerrando os nódulos linfáticos, provocando acumulação de líquidos e dando origem à formação de quistos.

O sutiã faz com que os seios se tornem débeis e caídos, porque este se torna dependente do suporte artificial, perdendo a habilidade natural de o sustentar. O nosso corpo elimina as toxinas através das vias linfáticas. Um seio comprimido por um sutiã apertado não pode realizar este processo de limpeza, levando a uma acumulação de toxinas nos seios.

- A verdade

Os principais fatores de risco do aparecimento de cancro da mama são a idade e a raça. O estudo «Bra and Breast Cancer Study» nunca existiu. Em 1991, um casal de antroplólogos deslocou-se às ilhas Fiji para avaliar o impacto da medicina ocidental nos nativos desse país. Aí, realizou um estudo que nunca conseguiu associar efectivamente a utilização de sutiã ao cancro da mama e, por isso, nunca foi publicado em revistas médicas.

Apesar disso, o casal escreveu um livro baseado nesse trabalho, chamado «Dressed to kill». Os quistos mamários não são formados por linfa, são formados por um líquido segregado pela mama. Todas as glândulas segregam alguma coisa, incluindo hormonas e sebo. A glândula mamária não foge à regra. Para além disso, está cientificamente provado que a existência de quistos mamários não aumenta a probabilidade de padecer deste tumor.

É verdade que o deficiente uso de um músculo leva à sua atrofia, mas o que sustém a mama não é um músculo, é uma estrutura tendinosa que nasce debaixo da pele da metade superior da mama. Só que a metade inferior da mama não tem esta estrutura, daí o aspeto em gota da glândula mamária. E se a mama não tiver um suporte, estas estruturas tendinosas vão-se esticando e não são capazes de recuperar, tornando-se mais pendente (é o que acontece às mulheres africanas mais primitivas).

As ditas toxinas não são eliminadas pelas vias linfáticas, como se tenta fazer crer, mas sim pelas vias respiratória, renal e hepática. Além disso, a acumulação de toxinas não provoca a mutação celular que origina cancro. Caso contrário, haveria uma maior incidência de cancro nos doentes com insuficência renal, por exemplo.

Revisão científica: Dr. Pelicano Borges (médico da Sociedade Portuguesa de Senologia)