O que é a disfagia?

A disfagia (do grego dýs - dificuldade e phageĩn - comer) é uma perturbação na deglutição, ou seja, é o nome dado à dificuldade em engolir alimentos (sólidos ou líquidos). Esta dificuldade pode ocorrer desde o trajecto inicial do alimento, dentro da boca, até à sua transição para o esófago e para o estômago. Existem vários tipos de disfagia consoante o local onde ocorrem as dificuldades em engolir.

Como se manifestam estas alterações?

A pessoa com disfagia pode apresentar dificuldade em mastigar, em preparar e manter o alimento dentro da boca, de engolir, ou apresentar dor a engolir (odinofagia). São sinais de alerta de uma alteração da deglutição:

- Voz alterada ou rouca após a alimentação;

- Sensação de alimento preso na garganta;

- Engasgamento frequente ou falta de ar durante a alimentação;

- Tosse frequente durante e após as refeições;

- Perda de peso acentuada num curto período de tempo;

- Infeções respiratórias recorrentes. 

Qual a faixa etária mais afetada?

A disfagia pode ocorrer em qualquer faixa etária, desde o bebé prematuro  ao idoso mas é mais comum na população envelhecida ou em pessoas com condições neurológicas (por exemplo, AVC, Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson).

Porque motivo os idosos parecem engasgar-se mais do que pessoas jovens?

As estruturas do corpo envolvidas na deglutição passam, naturalmente, por alterações decorrentes do envelhecimento. Essas mudanças podem originar uma maior lentidão, falta de força ou incoordenação dos músculos responsáveis pelos movimentos necessários para engolir, favorecendo, assim, a ocorrência de engasgos nestas pessoas. Também o facto de muitas pessoas idosas não possuírem dentes ou terem próteses mal adaptadas, aumenta o risco de surgirem dificuldades em engolir.

Quais as consequências?

A disfagia representa um sintoma que pode trazer alterações graves ao nível pulmonar e nutricional da pessoa, como a desnutrição, desidratação e pneumonias de aspiração (entrada acidental de um alimento para os pulmões). As dificuldades em deglutir também afectam a socialização e a autoimagem do indivíduo e limitam, frequentemente, o prazer associado à refeição, com consequências muito negativas para a qualidade de vida.

Para além das referidas complicações, a disfagia repercute-se no aumento da mortalidade e no aumento dos custos globais de saúde. A título de exemplo, mais de 50% de todas as pessoas que sofreram um AVC apresentam dificuldades graves na deglutição, em fase aguda, e a prevalência de disfagia pode manter-se nos 15%, mesmo após 3 meses de evolução do AVC. 

Tratamento

A intervenção em casos de disfagia deverá ser em equipa e contar, entre outros, com intervenção médica de um terapeuta da fala e de um nutricionista para avaliação e intervenção nas alterações na deglutição. Esta interligação multidisciplinar pode tomar várias formas e é fundamental para assegurar o bem estar físico e nutricional da pessoa com disfagia. 

Qual o papel do terapeuta da fala na disfagia?

O terapeuta da fala pode efectuar uma avaliação da deglutição oro-faríngea para identificar quais as alterações e as dificuldades existentes. Ajuda a definir com a equipa médica e de enfermagem se é segura a alimentação por via oral (pela boca) ou se há necessidade de uma via alternativa de alimentação, como por exemplo, uma sonda nasogástrica.

Este profissional pode igualmente recomendar estratégias específicas para mudar a consistência e a quantidade dos alimentos ingeridos, alterar a postura da pessoa durante e após as refeições e efectuar um plano de exercícios especificamente indicados para garantir uma deglutição segura e eficaz.

Existe uma falta sensibilização da população para este tema?

Sim. Os sinais de alarme das alterações da deglutição são muito frequentemente ignorados pela população em geral ou associados ao processo normal de envelhecimento.

É fundamental estar atento a sinais de engasgamento persistente, alterações na voz e tosse durante e após as refeições. Em caso de dúvida deve sempre consultar o seu médico assistente e um terapeuta da fala para mais esclarecimentos e orientações.

Adicionalmente, poucas são as pessoas que sabem reagir a uma situação de engasgamento por obstrução total ou parcial das vias aéreas.

Lembre-se de nunca oferecer água à pessoa e deixá-la sempre tossir. Aprenda a Manobra de Heimlich. Esta manobra provoca uma elevação do diafragma e aumenta a pressão nas vias aéreas, forçando a saída do corpo estranho e salvando, frequentemente, a vida da pessoa que se engasgou.

Por Inês Tello Rodrigues, Terapeuta da Fala no NeuroSer, centro de diagnóstico e terapias para Alzheimer e outras demências