Usados em problemas tão comuns como dores menstruais ou constipações, «podem aumentar o risco de ataque cardíaco ou de AVC em pacientes com ou sem doença cardiovascular ou fatores de risco», diz a Food and Drug Administration (FDA) que decidiu reforçar esta informação nas embalagens à venda nos EUA. Baseada numa «revisão abrangente de nova informação sobre segurança», o organismo definiu que a informação que acompanha as embalagens dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE) nos EUA deve ser atualizada e refletir dados sobre o aumento do risco de ataque cardíaco e AVC, associado à sua toma.

Estes medicamentos, que se encontram entre os mais prescritos em todo o mundo, são amplamente usados em quadros tão distintos «como artrite, dores menstruais, dores de cabeça ou constipações». Trata-se de «um grupo heterogéneo de fármacos que inibe a síntese de mediadores inflamatórios e que têm em comum a capacidade de controlar a inflamação, a dor e de combater a febre», explicou à Prevenir Isabel Vitória Figueiredo, professora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.

«Fazem parte deste grupo medicamentos como o ibuprofeno, naproxeno, diclofenac e o ácido acetilsalicílico (vulgarmente conhecido por Aspirina)», esclarece ainda a especialista. Alguns não são sujeitos a receita médica, o que obriga a uma campanha de informação esclarecedora para evitar más utilizações e abusos que podem ser prejudiciais.

Os riscos dos anti-inflamatórios não esteroides

Como qualquer medicamento, a toma de anti-inflamatórios não esteroides tem, não só, benefícios como envolve riscos. Segundo a FDA, se, até agora, se pensava que o risco era semelhante em todos, os «novos dados não apontam de forma clara que o risco de AVC ou de ataque cardíaco seja similar para todos os medicamentos. Contudo, esta nova informação não é suficiente para determinar que o risco de determinado AINE é mais elevado ou mais baixo do que outro».

Segundo Isabel Vitória Figueiredo, «todos os anti-inflamatórios não esteroides estão associados a risco cardiovascular. Já se identificaram vários mecanismos associados a esse mesmo risco mas o mais relevante parece ser o aumento da pressão arterial». De acordo com a especialista, «ao nível dos efeitos cardiovasculares e cerebrovasculares, têm sido notificados casos de retenção de líquidos e edema, nomeadamente porque inibem a ação de substâncias vasodilatadoras ou com ações renais (prostaglandinas)», esclarece.

«Por este motivo, pessoas com história de hipertensão arterial e/ou insuficiência cardíaca congestiva ligeira a moderada devem ser acompanhadas e aconselhadas [durante a sua toma]», aconselha ainda a especialista. Tal como em muitas outras situações, o aconselhamento, o acompanhamento e a supervisão médica são, também aqui, fundamentais. De facto, os estudos analisados pela FDA revelam que, «em geral, pessoas com doença cardíaca ou fatores de risco têm maior probabilidade de ter um ataque cardíaco ou um AVC na sequência da toma destes medicamentos do que indivíduos sem estes fatores de risco, porque o risco é maior, à partida».

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Há riscos para todos?

Segundo o mesmo organismo, cujo comunicado surgiu no verão de 2015, na sequência de uma revisão de estudos e em recomendações dos comités consultivos, como o Arthritis Advisory Committee e o Drug and Safety and Risk Management Advisory Committee, os anti-inflamatórios não esteroides «podem aumentar  o risco de ataque cardíaco ou de AVC em pacientes com ou sem doença cardiovascular ou fatores de risco para doença cardiovascular. Vários estudos suportam este dado», com estimativas variáveis sobre o aumento, dependendo do fármaco e da dose estudada.

Moderação na toma

Foi decidido pela FDA que a bula dos AINE à venda nos EUA deverá ser atualizada e indicar, entre outros dados, que «o risco de ataque cardíaco ou de AVC pode ocorrer nas primeiras semanas de uso e aumentar com o prolongar da sua utilização». Geralmente, confirma Isabel Vitória Figueiredo, «estes medicamentos não devem ser utilizados de forma crónica. Apesar de todos os efeitos benéficos, a maior parte dos doentes não tem a percepção do risco da sua utilização e dos potenciais efeitos adversos que este grupo de medicamentos origina», diz.

«Estima-se que, de entre os efeitos adversos que ocorrem pela toma de medicamentos, cerca de 25 por cento se devem aos AINE. Além disso, a generalidade destes medicamentos pode interferir com outros como a varfarina (aumentando os seus efeitos anticoagulantes), antidiabéticos orais ou fármacos anti-hipertensores (reduzem o seu efeito), entre outros», alerta ainda.

Como reduzir o risco

A FDA recomenda que se tome «a dose mais baixa durante o menor período de tempo», dado que o risco «parece ser maior face a doses mais elevadas» e que se vigiem efeitos secundários durante a sua toma. Isabel Vitória Figueiredo concorda, lembrando que estes medicamentos servem para tratar sintomas e, portanto, devem ser tomados «na menor dose eficaz possível, durante o menor período de tempo necessário para os controlar». A especialista indica ainda que, «quando se pretende apenas um efeito analgésico, pode optar-se pelos derivados para-aminofenólicos, sendo que o mais utilizado atualmente é o paracetamol».

O caso da Aspirina

O ácido acetilsalicílico também pertence ao grupo dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE) «mas tem efeitos benéficos e colaterais particulares que a diferenciam». Uma das particularidades do ácido acetilsalicílico é o facto de os seus efeitos poderem ser completamente diferentes, em função da dose. «A partir de 500 mg, exerce um efeito analgésico, antipirético e anti-inflamatório», refere Isabel Vitória Figueiredo, professora da Faculdade de Farmácia  da Universidade de Coimbra.

«Quando usado em doses mais baixas (entre 75 mg a 325 mg) a aspirina apenas tem como efeito a inibição da agregação das plaquetas. Atualmente, a aspirina é mais utilizada como antiagregante plaquetar do que como anti-inflamatórios não esteroides», esclarece ainda a especialista.

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As situações em que não pode mesmo tomar anti-inflamatórios não esteroides:

- Se revelou hipersensilidade ao fármaco em tomas anteriores.

- Se tem asma, rinite, urticária, edema angioneurótico ou broncoespasmo, associados ao uso de ácido acetilsalicílico ou outros anti-inflamatórios não esteroides .

- Se sofre de insuficiência renal grave.

- Se tem alterações da coagulação.

- Se está grávida.

- Se tem antecedente de hemorragia gastrointestinal ou perfuração, relacionada com terapêutica com anti-inflamatórios não esteroides anterior.

- Se tem úlcera péptica/hemorragia ativa ou história de úlcera péptica/hemorragia recorrente.

- Se sofre de insuficiência cardíaca grave.

Os sinais de alarme a que deve estar atento

Segundo a FDA, pacientes e profissionais de saúde devem estar atentos a efeitos secundários, durante o período de toma de anti-inflamatórios não esteroides. Caso surjam, deve procurar ajuda médica:

- Dor no peito

- Falta de ar

- Dificuldades respiratórias

- Falta de força súbita

- Dormência num membro em um dos lados do corpo

- Discurso afetado, arrastado

O uso de anti-inflamatórios não esteróides na infância

Tenha cuidado com os mais pequenos. «O uso de AINE em crianças é, geralmente, mais arriscado do que no adulto, dada a escassez de experiência neste grupo etário», refere Isabel Vitória Figueiredo, professora auxiliar com agregação da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. «Geralmente, o ibuprofeno e o naproxeno são bem tolerados em qualquer idade», esclarece a especialista.

«A dose depende do peso e a duração da toma deverá ser a menor necessária», refere ainda. O ácido acetilsalícilico (aspirina) está desaconselhado em crianças até aos 12 anos, dado poder provocar lesões no fígado, quando tomado de forma indiscriminada. «Se o objetivo é baixar a febre e contrariar a dor, deve optar-se pelo paracetamol», aconselha a docente.

Texto: Nazaré Tocha com Isabel Vitória Figueiredo (professora auxiliar com agregação da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra)