A desconfiança que tem existido em relação a algumas terapias complementares e que, na opinião de Fátima Cardoso, oncologista médica, «começa a desaparecer», tem atrasado a investigação sobre a eficácia destas terapias no tratamento das doenças oncológicas através da combinação da medicina convencional com terapias alternativas. Algumas delas podem, refere, «ajudar a controlar os efeitos secundários dos tratamentos oncológicos convencionais».

«Mas não têm um efeito curativo», alerta esta especialista. Por outro lado, Pedro Choy, especialista em acupuntura, afirma que existem evidências da ação da medicina tradicional chinesa. «Tem-se verificado que os pacientes que recorrem aos métodos convencionais a par dos da medicina chinesa têm, por norma, necessidade de menos sessões de quimioterapia. A acupuntura, por exemplo, favorece uma reação mais eficaz e, portanto, mais rápida, aos tratamentos», refere.

Uma opinião que, no entanto, não é partilhada por Fátima Cardoso. Num ponto, os especialistas estão de acordo. Sem certezas científicas sobre a validade das capacidades curativas destas terapêuticas, algumas podem funcionar em complementaridade com os tratamentos oncológicos convencionais, nunca como alternativa.

Acupuntura e quimioterapia

Algumas pacientes com cancro da mama submetidas à quimioterapia verificaram uma diminuição dos sintomas colaterais provocados pelo tratamento, como náuseas, dor e fadiga, após várias sessões de acupuntura. Além dos resultados deste estudo australiano publicado no Journal of Clinical Oncology, Fátima Cardoso confirma que pesquisas recentes com acupuntura também demonstraram a redução dos afrontamentos da menopausa precoce ou induzida.

«Muitas mulheres quando são submetidas a estes tratamentos para o cancro entram em menopausa precoce. Nestas situações, a menopausa é abrupta e com sintomas importantes. Em algumas pessoas, a acupuntura ajuda a diminuir a intensidade e a frequência dos calores, um dos sintomas que mais incomoda as pacientes», explica.

A fitoterapia

Utilizar e combinar plantas para ajudar a controlar a doença ou os sintomas é um dos princípios da fitoterapia. De acordo com Pedro Choy, «a estratégia da medicina chinesa é traçada por cinco mil anos de história, com o proporcional de pacientes que essa história milenar implica. Há muita experiência clínica prática, logo, muitos casos de cancro ao longo do tempo. Assim, existem combinações de pontos e fórmulas de plantas medicinais chinesas que resultam em aspetos diferentes da luta contra o cancro».

«Por exemplo, num caso com tumor existe o conjunto de plantas designado F52 que, combinado com os tratamentos da medicina convencional, ajuda a dissolver o tumor, com sessões de acupuntura direcionadas para a localização do mesmo», acrescenta. Uma posição que não é partilhada por Fátima Cardoso. A oncologista médica não recomenda o recurso à fitoterapia, sobretudo em relação ao cancro da mama. «Existem formas de fitoterapia que podem ser nocivas, nomeadamente as que contêm fitoestrogénios», defende.

Naturopatia versus homeopatia

Fátima Cardoso reconhece que a naturopatia é um aliado importante para combater os sintomas associados à doença. «Pode ajudar a combater o cansaço, alguma diminuição do sistema imunitário», afirma.

«Na nossa unidade, preferimos a naturopatia à homeopatia», destaca.

«A naturopatia envolve a utilização de substâncias que o organismo tem mas de que poderá precisar em maior quantidade sob a forma de suplementos vitamínicos, sais minerais, entre outros. Já a homeopatia tem algumas propriedades que interferem mais com os tratamentos», diz.

«Não quer dizer que não existam algumas terapêuticas desta área que não se possam fazer, mas é preciso ter mais cuidado com as interações pois podem aumentar os efeitos colaterais ou diminuir a eficácia dos tratamentos convencionais», explica ainda.

Técnicas de relaxamento

Embora as técnicas mais seguras e estudadas sejam, segundo os especialistas, a acupuntura e a fitoterapia, Pedro Choy lembra que a «massagem energética, denominada Tui Na, também pode ser utilizada nalguns casos, sobretudo no relaxamento e no combate à dor». Fátima Cardoso considera que «as massagens, o reiki, o shiatsu, o yoga, entre outras técnicas de relaxamento ajudam, sobretudo, a parte psicológica, que no caso do cancro é importante».

Yoga após a cirurgia

O National Center of Complementary and Alternative Medicine, anexado ao U.S. National Institutes of Health, nos EUA,
assistiu à melhoria do estado de saúde de pacientes com cancro da mama submetidas a cirurgia, que posteriormente praticaram yoga durante 12 meses. A investigação acompanhou dois grupos de mulheres durante esse período.

Um dos grupos em observação praticou Iyengar yoga, uma forma tradicional de hatha yoga que pretende ajudar os praticantes a encontrar o equilíbrio entre o corpo, a mente e o espírito atribuindo especial atenção ao detalhe, precisão e aos alongamentos na postura e controlo do peito. Neste grupo, notou-se a recuperação do bem-estar físico e psicológico, enquanto o grupo que não praticou yoga reportou declínio e sintomas de depressão.

Risco de interação

A falta de comunicação entre estas duas áreas da saúde e o medo de dizer a verdade por parte dos pacientes pode levar a problemas sérios. «É importante que os dois profissionais tenham conhecimento de que tratamentos os doentes estão a receber para ter a certeza que o que está a tomar não vai interferir na doença ou diminuir a eficácia do tratamento clássico. Por exemplo, o sumo de maracujá ou de toranja tem interações com muitos medicamentos. Existe também uma planta chamada erva de St. John’s que interage com quase todos os medicamentos», alerta adiretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud.

Tratamento combinado

Perante uma doença tão forte e agressiva, Pedro Choy lembra que é importante nunca ver a medicina tradicional como um substituto.

«O cancro é uma das doenças mais devastadoras que a humanidade já teve de enfrentar. Sendo um comportamento erróneo interno, a medicina chinesa gerou formas para o próprio organismo se restabelecer, energeticamente, de modo a impedir a progressão das células erradas. Mas há que frisar: não trocamos o tratamento mais agressivo e mais célere da medicina convencional para fazer apenas a acupuntura e a fitoterapia chinesas».

Células dendríticas

A terapia fornecida nas clínicas alemãs designada por vacinas de células dendríticas que alegadamente controla o cancro é considerada uma terapia alternativa. Não é reconhecida pelas entidades de saúde alemãs nem pela comunidade médica internacional. «Inicialmente tentei não estar demasiado contra esta abordagem mas comecei a ver pacientes que regressavam pior, com menos defesas e a produzirem menos glóbulos brancos dificultando a realização de quimioterapia, pelo que passei a desaconselhar», refere Fátima Cardoso.

O que a ciência já provou

- A acupuntura reduz as náuseas, vómitos e dores provocados pela quimioterapia. Também diminui os afrontamentos na menopausa precoce após quimioterapia.

- A naturopatia fortalece o sistema imunitário e prepara-o para reagir positivamente à quimioterapia e radioterapia.

- O yoga, a meditação, o relaxamento ou mesmo a hipnose combatem o stresse e a depressão ajudando a enfrentar as más notícias, os tratamentos e a recuperação pós-cirúrgica.

- A osteopatia e a quiroprática ajudam no alívio da dor óssea.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Fátima Cardoso (oncologista médica e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud) e Pedro Choy (acupuntor e especialista em medicina chinesa)