O cancro é uma doença genética causada por mutações no nosso ADN. Os últimos avanços já nos permitem identificar as alterações genéticas que ocorreram nas células malignas e, uma vez identificadas, perceber qual a causa e como devemos tratá-las. A teranóstica marcará um antes e um depois na Medicina de Precisão.

Referimo-nos com este conceito à soma de tratamento e diagnóstico, associando os resultados dos testes genómicos a uma terapia concreta. Apesar de já levarmos o conceito à prática, não estamos a tirar o máximo partido como sociedade e por isso é fundamental passar ao próximo nível.

Atualmente, os oncologistas têm ao seu alcance estudos genómicos que aumentam as opções de personalização do tratamento do doente com cancro. Sabemos que esta solução é valorizada pelos médicos especialistas (apesar de ainda haver muito a fazer para alcançar países como os Estados Unidos, onde os estudos genéticos de tumores individuais são uma prática rotineira). Contudo, os pedidos que frequentemente nos chegam são para doentes com doença oncológica em estados muito avançados e que não se sabe porque é que não estão a responder aos tratamentos habituais. É então nessa condição que se decide analisar a nível genético o tumor.

Perante estas demandas muitas vezes somos capazes de abrir novas opções terapêuticas, mas consideramos que não é a situação nem a indicação ótima: o ideal é que estas ferramentas teranósticas comecem a ser utilizadas cada vez mais cedo.

Assim, para que a teranóstica se possa aproximar da sua definição mais exata deveriam realizar-se estudos genómicos do tumor do doente em fases iniciais. Há muitos tipos de tumores, como o cancro do pulmão ou o cancro da mama, que graças ao facto de se fazerem estudos num momento inicial já se podem classificar e assim ajudar a que recebam um tratamento muito mais efetivo. Ou seja, tratar-se-ia de utilizar as análises para personalizar as decisões, não apenas quando nenhuma terapia funciona, mas para evitar tratamentos desnecessários com o consequente desperdício de recursos, efeitos secundários e desconfortos na pessoa tratada.

A teranóstica chegou para ficar e vai alcançar grandes feitos se começarmos a aplicá-la. Há tumores com localizações diferentes que têm alterações comuns e que deveriam ser tratados da mesma maneira. Isto implica que se altere o paradigma e que se tratem os tumores pelas suas alterações concretas, e não tanto pela localização do órgão afetado.

Em aproximadamente 90% dos casos recebidos estamos a oferecer novas opções de tratamento e a mais de metade dos doentes está a realizar-se a alteração de tratamento com base nas nossas recomendações. Assim, conseguimos não só oferecer novas opções de tratamento, mas também opções mais eficazes. Para conseguir estes números é muito importante fazer um screening e perfil molecular muito amplo do tumor, combinando todas as provas atuais que permitem identificar os biomarcadores com valor prognóstico e terapêutico. E para isso há que oferecer opções e estudos que integrem estas provas e cujos resultados contemplem e proporcionem o máximo de opções terapêuticas aos doentes. Outro dos pontos fundamentais para demonstrar a utilidade e o custo-benefício desta nova apróximação, é um seguimento exaustivo dos doentes. Aí reside a chave para depois poder expandir a sua utilização ao máximo de pessoas com patologia oncológica.

Podemos assim dizer que os avanços teranósticos são o presente e, se deixarmos, serão o futuro da Medicina de Precisão. A união do diagnóstico e a sua caracterização molecular com a terapêutica aplicada aos doentes com cancro já está aí. Ter ou não ter um determinado marcador pode ser crucial para o diagnóstico, prognóstico e definição do tratamento mais oportuno. Apelo aos oncologistas a colaborar com a introdução destas tecnologias e a refletir em cada caso sobre se de facto estas podem ajudar os seus doentes a melhorar e apliar as suas opções.

Um artigo de Luís Alvarez, doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Autónoma de Barcelona e diretor de desenvolvimento de negócio em Portugal e Brasil da OncoDNA