A infeção VIH/SIDA está a aumentar nas pessoas com mais idade. Nos Estados Unidos estima-se que em 2015 mais de metade dos doentes com infeção VIH tenha mais de 50 anos.

Este aumento deve-se fundamentalmente a duas circunstâncias: por um lado, com os tratamentos antirretrovirais altamente eficazes, a esperança de vida dos doentes aumentou muito e as pessoas que se infetaram mais jovens podem agora ter uma esperança de vida mais alargada, até serem septuagenários. Por outro lado, as novas infeções adquiridas em idades mais tardias também continuam a ocorrer, constituindo este grupo cerca de 10% das novas infeções nos países desenvolvidos.

Os estereótipos sociais associam a sexualidade às idades mais jovens, e erroneamente assume-se que pessoas de idade mais avançada não são ativas sexualmente.

Esta imagem estereotipada, transversal na sociedade, acaba por condicionar a falta de informação e de campanhas de prevenção dirigidas a pessoas mais velhas. Os profissionais de saúde também tendem a não abordar questões relativas à sexualidade nesta faixa etária e a não propor a realização de um teste de rastreio de VIH.

Num estudo norte-americano, verificou-se, por exemplo, que adultos com mais de 50 anos com risco de infeção VIH tinham 80% menos probabilidade de serem testados que indivíduos mais jovens.

Diagnóstico tardio mais frequente nos idosos

O diagnóstico tardio, muitas vezes em fase terminal da doença, é também muito mais frequente nos idosos. Na Europa e nos Estados Unidos, vários estudos demonstram que o diagnóstico tardio da infeção ocorre com maior frequência em alguns grupos, nomeadamente nos imigrantes (neste caso por acederem tardiamente aos cuidados de saúde) e nos idosos (por falta de diagnóstico medico atempado).

A falta de conhecimento determina que pessoas mais velhas não se sintam em risco de adquirir a infeção pelo VIH ou outra doença sexualmente transmissível. Nos homens o receio que a disfunção erétil possa ser agravada pela utilização de preservativo determina uma fraca adesão à sua utilização. As mulheres em idade pós-menopáusica negligenciam a utilização de preservativo porque já não têm receio de uma gravidez. No caso da mulher, este facto é ainda mais preocupante, pois devido a motivos de ordem biológica, estas têm maior risco de ficar infetadas (após a menopausa existe uma maior fragilidade da mucosa vaginal a qual determina uma maior facilidade de aquisição da infeção).

O estigma social associado à infeção VIH continua a existir e vários estudos demonstram que pessoas mais velhas infetadas por VIH, se encontram socialmente mais isoladas comparativamente a faixas etárias mais jovens.

Vida em segredo

O suporte familiar e dos amigos é fundamental em qualquer doença, no entanto, frequentemente estas pessoas vivem em segredo a sua doença, pelo receio de serem rejeitadas. É habitual os doentes esconderem a sua infeção dos familiares mais próximos, nomeadamente filhos ou netos, por vergonha e medo de rejeição. O receio de poderem transmitir a infeção pelo contacto social, seja pelo beijo, pelo abraço ou pela partilha de utensílios domésticos (como pratos, talheres ou roupas), leva muitas vezes os doentes a autoisolarem-se.

Continua a haver pouco conhecimento das formas de transmissão da doença e, muitas vezes, receios infundados de transmissão casual levam a que os filhos afastem, por exemplo, os netos do contacto com os avós. Nesta fase é necessário um grande e contínuo suporte de informação científica clara e objetiva por parte dos profissionais de saúde, que desmistifique estes medos irracionais.

Outra situação que é decorrente do estigma desta doença prende-se com a dificuldade em lares e centros de apoio à terceira idade receberem idosos infetados por VIH, pela discriminação social de que são alvo.

A infeção VIH é atualmente uma doença crónica: com um tratamento adequado as pessoas podem expectar viver mais tempo e com qualidade de vida.

Contudo, algumas doenças associadas ao envelhecimento, como sejam as doenças cardiovasculares, a dislipidémia, a doença renal, a demência e algumas neoplasias têm uma maior preponderância nos doentes infetados pelo VIH. O tratamento destas condições e a possibilidade do seu agravamento com a infeção e/ou os fármacos antirretrovirais, bem como a gestão das frequentes interacções medicamentosas determina uma vigilância médica regular destes doentes em unidades de saúde especializadas.

Por Patrícia Pacheco, Médica e Diretora do serviço de Infecciologia do Hospital Fernando Fonseca