Segundo um estudo recente, os abortos sucessivos podem dever-se à super fertilidade da mulher. Sandra Sousa, especialista em Medicina da Reprodução no Hospital de Santa Maria, recua perante esta designação, considerando “abusivo” chamar ‘super fertilidade’ a um “aumento da recetividade do endométrio (local do útero onde se faz a implantação do embrião)”.

O estudo, levado a cabo por uma equipa de médicos ingleses, partiu da recolha de amostras de 12 mulheres, em que seis tinham uma fertilidade normal e as outras seis tinham um historial de abortos sucessivos. Para os especialistas ingleses, abortar frequentemente pode significar que as mulheres são super férteis, “uma vez que o seu organismo permite embriões que normalmente não sobrevivem à implantação”, declara Nick Macklon, consultor do Hospital Princess Anne, em Southampton.

Sandra Sousa concorda que esta “super recetividade” do endométrio “permitiria o desenvolvimento de embriões de má qualidade, que seriam, segundo o conceito de seleção natural, rejeitados em mulheres com fertilidade considerada normal”. Segundo a especialista, “a implantação de embriões de má qualidade, não frenada pelo endométrio” leva a que a gravidez não evolua pois “esses embriões muitas vezes apresentam alterações significativas no seu metabolismo celular e informação genética. Nas mulheres com recetividade normal o endométrio habitualmente só permite o desenvolvimento de embriões de boa qualidade, gerando preferencialmente gravidezes evolutivas.”

Em Portugal, a teoria da ‘super fertilidade’ ainda não bateu à porta dos especialistas em fertilidade. “A avaliação atualmente efetuada às pacientes com aborto recorrente procura identificar alterações genéticas parentais, anomalias uterinas, doenças imunológicas e trombofilias, mas na realidade, na grande maioria dos casais não é possível identificar nenhuma etiologia para o seu problema”, diz Sandra Sousa.

Se para alguns especialistas esta é uma teoria “adorável”, como é o caso da obstreta e ginecologista do Royal College, Siobhan Quenby, para a nossa entrevistada ainda é cedo para falar do sucesso deste estudo, uma vez que é “um estudo com poucos casos e que necessita de ser complementado com outros trabalhos que foquem mecanismos pelos quais a recetividade do endométrio possa ser inibida na presença de embriões de má qualidade.”

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